The New York Times
Há mais ou menos quinze anos, pelo que se lembra, Robin Chapman fez uma carne assada em sua panela elétrica de cozimento lento (slow cooker). Conhecida hoje como assado do Mississippi, ela viria a ser uma das receitas mais populares na internet, uma estrela improvável, com ingredientes improváveis, e uma das favoritas entre os blogs de donas de casa. Robin vive em Ripley, no Mississippi, mas nunca chamou sua criação de assado do Mississippi – chama só de "assado". Ela conta que, na primeira vez em que fez o prato, usou acém e adicionou um pacote de molho ranch (molho com ervas e especiarias, como endro e páprica, em uma base de maionese ou iogurte) desidratado sobre a carne, outro de molho feito com os sucos da carne, meio tablete de manteiga e algumas pimentas doces (a receita original pede por pepperoncini, salgado e não muito picante; por aqui, substitua por pimentões em conserva). Era uma variação da receita que havia aprendido com a tia, que também levava um pacote de molho italiano. Ela queria algo "mais suave", por isso trocou o italiano pelo ranch. Deixou a panela elétrica em temperatura baixa e se esqueceu do assunto. Algumas horas mais tarde, sua família se deliciou com a refeição. Desde então, ela faz o assado dessa maneira – e a receita foi aos poucos assumindo vida própria.
Da cozinha para a blogosfera. A história de sua fama começou poucos meses depois da criação do prato, quando Robin preparou o assado para a amiga Karen Farese, que adorou o jantar e acabou acrescentando a receita ao livro que sua igreja estava compilando. Karen também não chamou o prato de assado do Mississippi - usou simplesmente "carne assada". "Ai meu Deus. Acho que faz mais de 10 anos", conta ela. Judy Ward, também da congregação de Beech Hill, começou a preparar a receita de Karen para a família. Laurie Ormon, de Bentonville, no Arkansas, sobrinha da Judy, contou que experimentou o prato quando ela e o marido foram visitar a cidade em 2010. Fez um post sobre a experiência logo depois em seu blog, Laurie's Life. "O melhor assado do mundo", escreveu. Mesmo admitindo que "a receita parece horrível" e que odiava molho ranch, ela defendeu o prato. "Se você gosta de um bom assado, precisa experimentar. Confie em mim." Algumas pessoas confiaram. E, meses mais tarde, no início de 2011, Candis Berge publicou a receita em seu blog, escrevendo que a encontrou "no site de uma blogueira chamada Laurie. Ela o preparou para a tia do marido e muitos dos seguidores do seu blog o adoram. Eu também adoro. Até meu marido gostou". E Candis destaca em itálico: "Esse é um teste importante na minha casa: o teste do marido". Candis chamou a receita de Laurie de assado do Mississippi – e, em agosto de 2011, de acordo com Christine Schirmer, porta-voz do Pinterest, uma usuária chamada Prairie Cottage postou um link para a receita, salvando a imagem em sua pasta "carne de vaca/carne de porco". Uma pesquisa com o termo no Google retorna milhares de links da receita. "Céus! Não consigo nem explicar como esse prato é delicioso e fácil de fazer", diz uma introdução no blog Hungry Housewife. Fora da blogosfera, no entanto, o sucesso do assado do Mississippi foi mais silencioso. John T. Edge, diretor da Southern Foodways Alliance na Universidade do Mississipi, que contribui para o New York Times, disse que nunca tinha ouvido falar do assado do Mississippi. Eu lhe descrevi o prato. "Será que foi associado ao Mississippi para diminuí-lo, à la Ernie Mickler e seu livro White Trash Cooking? No estilo 'esse é o tipo de comida que essas pessoas gostam'. Esse seria meu palpite", disse ele. Até mesmo Kathleen Purvis, editora do The Charlotte Observer, da Carolina do Norte, e uma das melhores fontes de informação sobre a culinária sulista, professou sua ignorância. "Eu não, querida. Eu o teria chamado assado de Tar Heel (como são chamados os residentes da Carolina do Norte)", disse ela.
Da blogosfera para a cozinha. Para descobrir do que se tratava, resolvi preparar o assado do Mississippi - VEJA A RECEITA. Minha primeira tentativa resultou em uma carne macia e deliciosa, com um sabor rico de manteiga e sal e um toque avinagrado da pimenta em conserva. Sim, havia um quê de produto industrializado dos molhos, mas o prato estava bom, delicioso até. Porém, pense bem. Molhos desidratados em pacote? Eles certamente poderiam ser substituídos sem aumentar muito o tempo de preparo do assado. Quanto à quantidade de manteiga que Robin usou, acredito que poderia ser menor. Há gordura suficiente no acém. E Karen usou "duas ou mais pimentas doces" na receita do livro da igreja. Pensei que uma quantidade maior – oito ou dez – seria melhor, adicionando mais vitalidade à riqueza do molho. Selei a carne em uma frigideira, dourando-a com sal e pimenta e uma camada de farinha de trigo que achei que iria criar uma base de sabor, substituindo a mistura de molhos e dando alguma estrutura. Coloquei-a na panela elétrica com metade da manteiga sem sal e todas as pimentas doces. Enquanto começava a aquecer, fiz uma pequena porção do molho ranch: maionese e endro seco, vinagre de maçã e um pouco de leitelho, apenas algumas colheres, temperado com uma pitada de páprica. Despejei-o sobre a carne.
Oito horas mais tarde, minha família devorou o prato alegremente. Foi exatamente o mesmo trabalho original e levou aproximadamente a mesma quantidade de tempo de preparo. Karen tem gêmeos, Katherine e Michael, ambos cursando a Universidade do Mississippi. Recentemente, disse ela, uma amiga lhes serviu o assado no jantar. "Onde você conseguiu essa receita?", perguntou Katherine. "É um assado do Mississippi. Achei no Pinterest", respondeu a anfitriã. Karen riu de resposta dos filhos. "Não! Essa é a carne assada da minha mãe!", disse Michael.