PUBLICIDADE

Comida

Queijeiros artesanais mineiros celebram reconhecimento de tradição pela Unesco

Após o modo de fazer o queijo minas artesanal ter sido nomeado como patrimônio imaterial, produtores locais acreditam no fortalecimento do setor

Fileiras de queijos acomodados em prateleiras de madeira, durante o processo de maturação. Foto: Pablo Gomide/ Divulgação Foto: Pablo Gomide/ Divulgação

Em dezembro passado, os queijeiros espalhados pelas dez regiões produtoras de Minas Gerais, como Serra da Canastra, Campo das Vertentes e Serro, viram a tradição que mantém viva a gerações ser reconhecida pela Unesco. O modo de fazer queijo minas artesanal passa a fazer parte da lista de Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade, que reúne manifestações culturais do mundo todo. “Um reconhecimento mundial por algo que você faz no dia a dia é inexplicável. É como ganhar na loteria”, comemora o produtor Ivair José Oliveira, da Queijo do Ivair, da Serra da Canastra (MG).

O produtor Eduardo Pires e sua esposa, Mara, na Fazenda Ventura, no Serro (MG) Foto: Pablo Gomide/ Divulgação

Considerado um dos pilares da cultura alimentar do povo mineiro, o queijo minas artesanal é produzido em pequenas propriedades rurais e familiares. E tem como ingrediente principal o leite cru, que não passa pelo processo de pasteurização. “Com isso, você elimina todos os micro-organismos presentes no leite, tanto os maléficos quanto os benéficos, que trazem a qualidade do queijo”, explica Edilson de Almeida, da marca de queijo Braúnas, em Diamantina (MG).

Modo de fazer

Após a ordenha, o leite é transferido para uma sala de produção e, nele, é incorporado o coalho e o “pingo”, como é chamado o soro que solta do queijo produzido no dia anterior. Carregado de bactérias lácticas, é o elemento que confere identidade ao queijo minas artesanal, ou seja, que diferencia as notas sensoriais entre um queijo produzido na Serra da Canastra (MG) e outro no Serro (MG), por exemplo.

PUBLICIDADE

Depois, a massa é acomodada em forminhas e cabe ao queijeiro prensá-la com as próprias mãos para retirar o soro - há regiões mineiras que fazem esse processo em um pano. Neste momento, entra em cena o sal grosso, que é jogado sobre as formas de queijo fresco. “Aqui não existem máquinas. O produtor sente o queijo na mão, desde a hora de moldar até o momento que finaliza a maturação”, explica o produtor Eduardo Pires, da Fazenda Ventura, no Serro (MG).

A massa do queijo minas artesanal fresco antes da maturação Foto: Pablo Gomide/ Divulgação

A última etapa ocorre na sala de maturação, com temperatura controlada, onde o queijo fica por, no mínimo, 17 dias. “Com o processo de maturação, o queijo perde água e as notas lácticas são substituídas por notas mais complexas”, explica o empresário Rômulo Sabarense, que comanda a loja e o e-commerce Serro do Queijo, por onde comercializa queijos produzidos na região do Serro (MG).

Reconhecimento

PUBLICIDADE

Embora o reconhecimento não seja uma novidade para os produtores de queijo minas artesanal, que acumulam incontáveis medalhas em concursos nacionais e internacionais, como o Mondial du Fromage, que acontece na França, o título de Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade foi recebido com muito entusiasmo pelo setor. “É um reconhecimento daquilo que a gente sempre fez com muito amor, tradição, cultura e história”, afirma a queijeira Nicinha Bicalho, que produz queijos ao lado do marido, Geovani Madureira Bicalho, na Fazenda Córrego do Taboão, em Conceição do Mato Dentro (MG).

A produtora Nicinha Bicalho, que confecciona queijos na Fazenda Córrego do Taboão, em Conceição do Mato Dentro (MG) Foto: Pablo Gomide/ Divulgação

O título da Unesco também simboliza a documentação desse processo, que é uma forma de preservá-lo para futuras gerações. “Acredito que seja uma maneira de resguardar esse saber, para que ele não se perca com o tempo”, acredita a produtora artesanal Tereza Rodrigues, da Fazenda Saudade, localizada na região do Campo das Vertentes (MG).

Pertencente a uma família que produz queijos há 200 anos, o queijeiro José Gabriel da Silva, que comanda a marca Tradição da Canastra, em São Roque de Minas (MG), compartilha o reconhecimento do legado. “A gente agradece aos nossos antepassados e nossos familiares, que se dedicaram a vida toda em produzir esses queijos. Esse reconhecimento também é deles”, acredita ele.

PUBLICIDADE

* jornalista viajou a convite do Governo do Estado de Minas Gerais

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE