Doutor em cardiologia e maior sumidade em emergências cardiovasculares do Incor, Sergio Timerman não só tem Rodrigo Oliveira, Helena Rizzo, Janaína Torres, César Costa, Thiago Bañares, Tássia Magalhães, Jefferson Rueda e Thomas Troisgros entre os pacientes – ele mesmo é um expert em gastronomia.
“Muito cardiologista tem boa adega, gosta de restaurante, de arte. É que temos uma vida muito difícil e precisamos achar nossos escapes”, confessa ele que, entre jornadas de mais de 12 horas, não raro dentro de UTIS, ritma o próprio coração com música, comida e bebida. Não raro, juntos e misturados.
Um exemplo? Uma vez, Roberto Minczuk, maestro da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo permitiu que o médico regesse um trecho da Sinfonia n.º 5 de Ludwig van Beethoven em pleno Theatro Municipal: “Foi um baita presente, comemoramos no Chef Vivi, um restaurante que morro de saudade”.
Outro? Há duas semanas, o médico deixou a Sala São Paulo com Emmanuele Baldini, o primeiro-violino da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Compartilhou com o italiano pasta alla carbonara e tinto da Toscana numa trattoriazinha em Pinheiros.
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Dentre suas peripécias gastronômicas, adora levar Ney Matogrosso jantar: “Sou médico e fã dele. Aliás, era fã antes de me tornar seu médico. Por sorte, ao longo dos anos, me tornei amigo também. Embora ele coma muito pouquinho, gosta de sair comigo”.
O primeiro restaurante a que foram foi o extinto Olympe, no Rio, quando nenhum dos dois conhecia Claude Troisgros. De lá pra cá, já foram à Casa do Porco, ao Nelita, ao Emiliano, ao La Cura e às casas de Alexandre Mora. “Na primeira vez, fomos ao Osso. Já estava fechando e, mesmo assim, o Alê recebeu a gente muito bem”, lembra Sergio.
Como era tarde, Ney não quis comer carne, mas ficou com tamanha vontade que, no dia seguinte, foi ao irmão mais velho do restaurante, o Cór. Desde então, outras visitas se seguiram. Nessas, o doutor envolvido ganhou mais um paciente para chamar de seu – sim, o citado restaurateur.
Contudo, nem sempre as empreitadas serjísticas dão certo... “Uma vez o Ney me convidou para o Grammy em Los Angeles. Quis retribuir e levei ele para conhecer o Joël Robuchon, que ainda estava vivo, mas ele não deu a menor bola para o cara!”, diverte-se.
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Não custa dizer que Timerman não se restringe a estabelecimentos do mailing de seu consultório. Desde 2002, perdeu a conta de quantas vezes esteve no Ici Bistrô. Ali, a intimidade é tanta que, tempos atrás, revendo “O Silêncio dos Inocentes”, sentiu um desejo incontrolável: “Liguei na hora para o Benny (Novak, que jamais passou em consulta), pedi para ele fazer o fígado do Hannibal Lecter e ele fez sem reclamar”.
Desconsiderando a dúzia de refeições anuais nesse francês, o médico glutão come, por baixo, em outros 150 lugares. Para se ter ideia, em poucos dias, foi “ao melhor restaurante do Brasil”, o duplamente estrelado Lasai, ao Oseille e ao Lilia, no Rio; comemorou o aniversário de casamento no Murakami, uma estrela Michelin nos Jardins; provou um boteco novo de pescados no Mercado de Pinheiros; voltou ao mencionado Cór para uma “paellada com vinhos de adulto”.
“Abre um restaurante e já corro, mas também adoro voltar aos lugares. Pode perguntar, todo mundo me conhece no Kotori, no Ama.zo, no Corrutela”, confessa. Cativador de amizades, Sergio não faz o chato para comer, tampouco se gaba das centenas de condecorados pelo Guia Michelin ou pelo 50 Best Restaurants que provou. Admite porém que, em congressos de medicina mundo afora, é quem decide onde os colegas comerão.
Nessas ocasiões, as cadeiras à sua mesa são disputadas. Coisa corriqueira, aliás. Afinal, para ele, comida é conexão: “Nem sei dizer como virei médico de tantos cozinheiros, mas deve ser porque gosto de comer e também de saber quem está cozinhando”.