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Comida

‘UniverXo Dabiz’, o mergulho da Netflix na mente de um dos maiores chefs do mundo

Série revela autoexigência, medos, relação tóxica e anseios do espanhol Dabiz Muñoz

Making of de 'UniverXO Dabiz'. Foto: Divulgação Foto: Divulgação

Comer no DiverXO leva o mesmo tempo que assistir aos cinco episódios de ‘UniverXO Dabiz’, na Netflix. Quer dizer, uma degustação no único três estrelas madrilenho pode ser mais longa. Para quem já passou cinco horas à mesa, é explicativo. Para quem tinha ouvido falar de Dabiz Muñoz é a pulguinha atrás da orelha que só vai parar de zumbir no dia em que se for ao DiverXO.

A docussérie havia sido anunciada há coisa de um ano pela gigante do streaming, aproveitando o tricampeonato do cozinheiro no pódio do The Best Chef Awards. Estreou agora, às vésperas do Natal, perfeitinha para férias. Compilado representativo do cotidiano do protagonista, ‘UniverXO Dabiz’ tem comida, família, angústia, trabalho, paddle e terapia.

O espectador pode bem entender esporte como terapia, psicanálise como angústia, família como trabalho, comida como lazer. Também pode achar que captou a essência do chef e, portanto, questionar-se por que ele se questiona o tempo todo.

Astrólogos vão dizer que é obvio. Prestes a completar 45 anos, David Muñoz Rosillo é capricorniano escarrado: exala o ar sério capaz de transmitir arrogância e prepotência. Sem contar os clichês da ambição, pouco romantismo, circunspecção e inteligência.

Dabiz Muñoz na cozinha do DiverXO Foto: Divulgação

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Ainda que os astros tenham suas razões, são as contradições e a intensidade do personagem que cativam. Dabiz afirma que se “soubesse que ia sofrer tudo o que sofri, não teria feito, mesmo que soubesse que ia conseguir tudo o que consegui”. Cogita pendurar as chuteiras e, na sequência, joga para ter o melhor restaurante do mundo. Obstinadamente.

Quem é Dabiz Muñoz?

“Depois de dezoito anos, não sei se isso faz sentido”, dispara repetidamente. É o peso de ter sido reconhecido revelação e ganhado uma estrela antes dos 30 anos, de ter o três estrelas mais caro da Espanha, de ser o único considerado o melhor chef do mundo por três anos consecutivos, de ter estrela também no RavioXO, de abrir StreetXO em Dubai, de ter um delivery (Goxo) e agora ser a marca queridinha (The Hungry Club) do aeroporto de Barajas.

É o peso de anunciar um futuro megalomaníaco para DiverXO, numa chácara fora de Madri, e ter de voltar atrás. Ao mesmo tempo é o que estimula sua criatividade à prova de teorias, treinada como um músculo (como ele define), para sempre disputar uma final – e de preferência não ficar em segundo lugar. Algo bem próximo a uma relação tóxica. E viciante até dizer chega.

A série documental foca na autoexigência obsessiva de Dabiz. Não que ela seja difícil de se notar, mas para isso o diretor Juanjo López apoiou-se em bons coadjuvantes, a começar por sua esposa, Cristina Pedroche. Estrela da TV espanhola com 3 milhões de seguidores no Instagram (o dobro do marido), ela interpreta, sem modéstias, o contraponto sentimental na jornada do anti-herói e a mente por trás de seu sucesso empresarial.

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Dabiz Muñoz com Gastón Acurio em cena de 'UniverXO Dabiz' da Netflix Foto: Divulgação

O roteiro recorre ainda a visitas ao consultório da terapeuta Amaya López e a encontros – diga-se de passagem pouco espontâneos – com colegas. É o caso de René Redzepi, Ricard Camarena, Gastón Acurio e de Andoni Aduriz, que não esconde o estranhamento e brinca se foram os hormônios da paternidade que mudaram sua postura. Apesar desses artifícios, tudo tem ritmo, voa como uma das jornadas alucinantes do próprio cozinheiro.

No entanto, as cenas ao redor da comida têm uma cadência diferente, uma poesia. Vale para a agonia diante da prova do próprio menu. Nela, os minutos na tela parecem ter o dobro das horas que a degustação leva. Vale para o encantamento diante de um sushi, uma tarta basca ou um omurice (omelete cremosa com arroz) no Japão, momentos instantâneos que são os preferidos de Dabiz e os culpados pela formação de sua “biblioteca de sabores”, base de seu univerXO.

Nessa galáxia, tem hora que parece que sucesso profissional nunca vai conviver com contentamento pessoal, que felicidade não rima com originalidade e que na vida do chef nada é mais importante e mais desnecessário que o DiverXO.

Entre uma coisa e outra, um dos trechos mais tocantes da série: a visita de Muñoz com a família ao Viridiana, restaurante tão essencial à sua formação que é capaz de irradiar o brilho nos olhos e provocar as papilas gustativas do protagonista. Mas basta de spoilers, a recomendação é encaixar essas cinco horinhas na agenda de 2025.

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