Eles estão entre nós: mais de cem dos melhores bartenders e mixologistas do mundo desembarcaram hoje na pauliceia. A culpada pela formação de quadrilha etílica é a Diageo, gigante das bebidas alcoólicas, com diferentes marcas de destilados e cervejas. O pretexto não poderia ser melhor, a 14ª edição do concurso World Class, espécie de Copa do Mundo do setor.
Dessa galera, apenas 54 são competidores e, destes, apenas um é brasileiro. No caso, a paranaense de Cascável, Vitória Kurihara. Aos 24 anos, a ex-confeiteira aproveita a calmaria de defender o bar de um restaurante reconhecido pela carta de vinhos para estudar. E muito.
Ali no balcão do Duq, em Curitiba, ela testa frutas brasileiras, caso da goiaba, in natura, desidratadas, em licores, cordiais e o que lhe der na telha. Testa também ervas como o cerefólio (sua queridinha) e plantas como a araucária. Pesquisa sobre ingredientes e bebidas do mundo todo.
Um processo essencial para a competição que acontece entre os dias 23 e 28 de setembro, no Tivoli, em São Paulo. Ao longo de cinco dias, a bartender deverá apresentar 11 coquetéis. Fã de manhattan, mas “pouco beberrona”, ela desenvolveu receitas que combinam maxixe e graviola; açaí-jussara, banana passa de Morretes e bergamota; puxuri e galangal (gengibre tailandês) e até gim com melão e mostarda à l’ancienne.
“Lembra aquela entrada de melão com presunto cru, que todo mundo conhece. É uma fruta que tem frescor por ser da família do pepino e que poderia ser tropical. A mostarda traz uma picância que é muito louca e ao mesmo tempo dá uma untuosidade”, justifica a chef de bar.
Outra criação que Vitória traz ao World Class será servida em xícaras que ganhou de presente de casamento: “Eram da vozinha do meu marido, foram feitas à mão, uns 50 anos atrás. Dentro vai Black Label e o chá preto do Sítio Shimada, que fica no Vale do Ribeira e lembra um lapsang. Para mim é um coquetel de brunch, vem com um pedacinho de waffle e tem contrastes interessantes. É um coquetel lúdico, mas bem pesado”.
Ainda para a competição, a mixologista que nunca saiu do país interpreta clássicos mexicanos à base de tequila à sua maneira: a margarita ela transfere para um copo baixo com gelo, como a variante chamada de tommy. Então, divide a borda entre sal e pimenta-do-paraíso (ou pimenta-da-guiné, “que lembra jambu”).
Para manter a cor da paloma (tradicionalmente rosada e feita com suco de limão e refrigerante de grapefruit), ela entra com acerola e goiaba. Para aprofundar as notas ácidas, traz carambola; para o amargor, a casca da grapefruit. Depois, clarifica só com filtragem e finaliza com um espetinho de bolo de rolo. A candidata está confiante que os jurados reconhecerão com isso uma paloma, ainda que inédita.
Falando em ineditismo, desde que ganhou a final nacional do World Class Competition, em junho, a barwoman teve chance de beber em balcões que a impressionaram, como os do Santana e do The Licquor Stores (ambos em São Paulo), de lapidar a carta do Duq, incluindo invenções como a Hilde (blended whisky, licor de lúpulo, vermute seco e bitter de nozes), e até de dar consultoria.
Amanhã, quando estiver no puro suco da ansiedade, seus coquetéis estrearão na inauguração do Suibi, bar na efervescente Rua Dias Ferreira, no bairro carioca do Leblon. A cozinha terá a assinatura do mezzo coreano, mezzo novaiorquino Sei Shiroma, especialista em pizzas e fã de drinques, que deixou a cargo de Vitória a autoria de sete receitas.
Dentre elas, há a carta na manga (vodca, Licor 43, manga, limão e tônica, R$ 40), ykigai (cachaça envelhecida, maracujá, gengibre e hibisco, R$ 34) e she so sexy (Johnnie Walker blonde, shissô e soda de ameixa, R$ 42).