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Uma busca gulosa pelo que há de melhor no mundo

Devorável

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Por que um foodie deve ir a Dubai?

Revelação do 8º Best Chef Awards joga luz sobre o Emirado que respira gastronomia

Talvez não aconteça de eu voltar a Dubai. Mas preciso confessar: retiro as pedras que pensei em atirar. Há sim a cafonice: neon por todos os lados, meditação com golfinhos, o prédio mais alto do mundo, os quase 100 shopping centers, um deles, o Dubai Mall, ocupando o espaço de 200 (duzentos!) campos de futebol.

Há ainda a emissão de carbono de uma viagem de 15 horas de avião, a dessalinização do mar que implica numa água mais cara que vinho e um certo desconforto com a artificialidade daquele oásis. No entanto, no desconforto mora também injustiça: criar vida no deserto é o que a humanidade sempre fez. A história da história, a de vencer adversidades, instalar gente, urbanizar.

Dito isso, torre de Babel e de excessos, Dubai é um mundo fantasioso, de regras próprias e uma sedução peculiar. A emigração é gentil, rápida e presenteia o viajante com um chip com número local e internet 5G. As pessoas cumprimentam e agradecem levando à mão ao coração.

Com vista mar, umas das suítes do Atlantis The Royal em Dubai Foto: Atlantis

Para quem se dirige a um dos hotéis de luxo a acolhida segue em ascensão – e é menos custosa do que se pode imaginar. Fazer check-in em um desses estabelecimentos pode sair em torno de R$ 2000, coisa que muita pousada em Fernando de Noronha ou Campos do Jordão não se inibe em cobrar. Valor que chega a parecer “barato” quando se adentra o Atlantis The Royal, por exemplo.

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Para encerrar seus oito anos de obras, em fevereiro de 2023, o Atlantis organizou um pocket show. Estava lá Beyoncé performando após cinco anos afastada dos palcos por um cachê top secret. Só uma palhinha do que é o “resort experimental mais ultraluxuoso do mundo”.

Luxo é comer bem

Na toada das luxuosidades, o hotel tem 795 acomodações, mais de 20 restaurantes, outras 20 butiques (de Valentino à joalheria Graff), spas, bares e piscinas. Uma delas, a Cloud 22, debruçada ao infinito, no 22º andar, converte-se em balada. Aos números ostensivos, somam-se os mais de 2 mil funcionários, que garantem com que cada hóspede sinta como se amenities e gostosuritas deixadas no quarto fossem feitas sob medida para ele.

Frutas à beira da piscina ou na praia, um dos minos no Atlantis The Royal Foto: Atlantis

Dentro do quadro do exagero, o café da manhã concorre ao mais nababesco do planeta: dezenas de pães e folhados de dar inveja a palácios parisienses; uma delicatessen com queijos e embutidos franceses e italianos de prestígio fatiados na hora; um balcão de ovos beneditinos; um bar de peixes nobres e salmão selvagem em diferentes tipos de curas, defumações e até em sashimi.

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Respire! Há ainda uma zona sem glúten, nem lactose; uma mesa de saladas do Oriente Médio e azeites aromatizados; estação de sorvete artesanal, de pizza napolitana, de delicados dim sums e de comida indiana acompanham. Detalhe: tudo bom, irritantemente bom.

A sensação de Disneylândia culinária extravasa as manhãs pantagruélicas. Há um Nobu by the Beach; ceviches, causas e pisco sours no La Mar; paella no Jaleo by José Andrés; frutos do mar gregos no Estiatorio Milos; a clássica meat fruit de Heston Blumenthal no estrelado Dinner, também dona da melhor adega do Emirado.

Serviço de caviar no Ariana's Persian Kitchen, em Dubai Foto: Atk

Há também o experimentalismo refinado e estrelado de Grégoire Berger, no Ossiano, que além de ter recebido a segunda estrela este ano, hoje ganhou três facas no The Best Chef Awards; há a cozinha persa da única chef condecorada pelo Michelin em Dubai, Ariana Bundy, e as assinaturas de Gordon Ramsay e Björn Frantzén, o ex-jogador sueco de futebol convertido em chef três estrelas Michelin.

Em outras palavras, desde que o bolso aguente, há a possibilidade de um food-crawl indoor. Não será o mesmo de comer sushi badalado em Nova York, tiradito em Lima ou fasenjoon (frango com romã) no Teerã, porém, quem vai dos Estados Unidos ao Irã em passos?

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Gastronomia do mundo todo

Vale dizer que o tour gastronômico não é privilégio do Atlantis e premiações como Michelin, 50 Best e Best Chef confirmam. Dubai não é terra de ninguém, é de todo mundo. Daí mais de 13 mil cafés e restaurantes. Daí culinária de tudo quanto é canto. Ou quase todo, visto que o Brasil, hoje com 15 nomes entre os 550 festejados no Best Chef Awards, não tem uma mesa para chamar de sua.

A clássica Meat fruit de Heston Blumenthal, servido no Dinner de Dubai Foto: Atlantis

Parênteses brasileiro à parte, a diversidade permite que os chefs sintam-se livres para se expressar. Paradoxo? História sendo história, não fossem os muçulmanos, boa parte da filosofia greco-romana estaria queimada. Xiitismo à parte, a cultura regional sempre defendeu a diversidade cultural. Dubai, no fim das contas, remete a essa essência do islamismo. Ok, em sua forma mais espalhafatosa.

Dessas coisas que passei a chamar de very Dubai, me deparei com Mauro Colagreco. Já tido como melhor chef do mundo pelo 50 Best Restaurantes, e dono do Mirazur, três estrelas da Côte d’Azur, Mauro tem restaurante no emirado e garantiu: “Todo mundo quer estar em Dubai”.

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De volta à sensação de liberdade, Himanshu Saini, único chef indiano duplamente estrelado pelo Michelin e escolhido o melhor chef de Dubai, alia as lembranças do lar onde vivia com 50 pessoas em Delhi às viagens por seu vasto país no menu do Trèsind Studio.

Kofta kebab e curry de marmelo na flor de Himanshu Saini, único chef indiano com duas estrelas Michelin Foto: Kelly Saden | Trèsind Studio

“As pessoas acham que tem que ter um curry, um naan, um kebab, mas mesmo eu com 36 anos não viajei para todas as partes. Há tanto para descobrir e só se fala de receitas padrão. É meu dever tentar explicar que a Índia não é apenas isso”, conta Saini.

Sua explicação é subjetiva, perfumada e zero clichê. Uma jornada inesquecível de 16 tempos. Entre um prato e outro, uma fala e outra, o chef dá uma dica preciosa: o mercado de especiarias local não é só para gringo ver.

O passeio é divertido, pega-se a gôndola local (custa uns R$ 10) e, então, é possível se perder entre crianças tomando sorvete, senhores nos bancos das praças e potes de pós coloridos e perfumados. Depois, com umas especiarias na sacola e sem se preocupar com roaming, é só chamar um táxi com o chip-brinde do aeroporto para onde bem se quiser.

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