30 anos da (re)descoberta da carménère
Estou aqui no meio de um vinhedo de carménère e trago para vocês o que foi resumo no mundo do vinho na semana que passou. Eu vou falar de quatro assuntos essa semana. Nesta newsletter vou me concentrar no que eu vim fazer aqui no Chile, nesse vinhedo de carménère.
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Eu começo contando que eu estou no Chile, nos vinhedos da Viña Carmen. Eu vim participar das comemorações de 30 anos da (re)descoberta da carménère. A carménère é uma uva que tem uma história muito interessante e muito importante para o mundo dos vinhos chilenos.
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Por muito tempo, os vinhedos de merlot tinham algumas variedades ou algumas plantas diferentes e eram conhecidas como merlot tardio ou merlot chileno. Eram plantas muito diferentes da merlot. Os produtores sabiam que era alguma coisa diferente, imaginavam que era um clone diferente, uma mutação, alguma coisa, mas ela era tratada como sendo a merlot.
O que aconteceu 30 anos atrás é que um ampelógrafo francês, Jean-Michel Boursiquot, veio participar de um seminário de enologia aqui no Chile. Chamaram ele para visitar um vinhedo de merlot recém-plantado para dar um palpite do que ele estava achando desse vinhedo. E ele chegou e falou:
“Isso aqui não é merlot, isso aqui é uma outra coisa.”
Aí passou na cabeça dele meio como um filme de que variedade pode ser e ele lembrou das características da carménère. Ele foi checando e ele falou:
“Isso aqui é a carménère!”.
Só que a carménère, assim como a merlot, é uma variedade originária de Bordeaux e que era tida como desaparecida.
Se a gente lembrar um pouco da história, no final do século XIX, os vinhedos europeus foram dizimados por um insetinho que comia o comecinho da raiz da planta e matava a planta, é a filoxera. Nessa história, quando foi replantado, que se descobriu como vencer a filoxera, a carménère não foi replantada, ela foi tida como uma variedade extinta. Só que antes da filoxera, os chilenos tinham importado mudas de merlot que vieram misturadas mudas de carménère.
Então o fato que aconteceu 30 anos atrás foi essa (re)descoberta da carménère. A carménère hoje não é a variedade de tinta mais plantada no Chile, o Chile continua sendo uma terra de cabernet sauvignon, só que a carménère é a terceira variedade mais cultivada e ela é muito importante para o mundo do vinho chileno. E aí o que aconteceu que eu vim aqui cobrir: a celebração dos 30 anos da carménère com a presença do ampelógrafo que descobriu a uva e aí a Viña Carmen, que foi onde tudo isso aconteceu, aproveitou para lançar um vinho especial comemorativo e também foi apresentado o trailer de um documentário sobre a carménère que vai ser lançado no ano que vem.
Eu queria contar um pouquinho também desse vinho que foi lançado nessa edição comemorativa e que só vai ser vendido aqui na vinícola, na Viña Carmen. A gente pode dizer que a carménère, principalmente desde a safra de 2018, 2019, começou a entrar numa nova fase. No começo teve todo o trabalho dos enólogos, dos produtores, de entenderem um pouquinho mais a carménère.
Era uma época que eles deixavam a carménère amadurecer o máximo possível no vinhedo, que eles faziam vinhos quase doces, de tão madura que estava a uva. O que foi acontecendo ao longo desses 30 anos é que os enólogos foram descobrindo quais são as melhores regiões para cultivar a carménère. Um exemplo é que, por exemplo, a gente está aqui no Maipo, que é onde a carménère foi redescoberta.
Mas, por exemplo, a Viña Carmen, aposta principalmente nos vinhedos que tem em Apalta, que não é aqui no Maipo, é mais para o sul. Então assim, a gente tem a redescoberta da carménère, a gente tem o trabalho dos enólogos de descobrir o melhor lugar para hoje cultivar a carménère e também tem uma proposta de elaborar vinhos mais frescos, não tão concentrados, não tão doces ou com essa sensação de doçura que tinha a carménère no passado. O resultado é que é uma cepa que está ficando muito mais interessante e que a gente pode dizer que está começando uma nova fase da carménère
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