554 razões para amar vinhos
Outubro foi um mês de agenda insana. Do quarteto fantástico (ah, a modéstia...) que edita este guia, sou o único que não tem no jornalismo especializado em vinhos sua atividade profissional. Um intruso no ninho carinhosamente acolhido pelos demais.
Não sei se classifico de coincidência ou de sorte, mas duas das minhas reuniões de trabalho no mês passado aconteceram em regiões vinícolas: um “offsite” em Napa Valley, na Califórnia; e um evento em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, no imponente “Spa do Vinho” (e entre um e outro, tivemos a festa de lançamento da edição 2024/2025 do Guia dos Vinhos em São Paulo).
Uma das razões do sucesso do vinho em viagens: é fácil se apaixonar por este cenário
Claro que adorei a escolha desses lugares. Em ambos os casos, as atividades profissionais incluíam momentos de “networking” e lazer que permitiam aproveitar e conhecer os produtos locais. O que me chamou a atenção, contudo, é que não apenas eu – um declarado apaixonado pelo tema - vibrei com essas experiências. Praticamente todos os participantes, seja em Napa ou em Bento Gonçalves, envolveram-se com a temática enológica.
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Mais: as atividades com vinhos – que nesses casos eram o acessório, não o principal – causavam um frisson entre os presentes quase palpável no ar.
Na Califórnia, entre uma reunião e outra, contavam-se os minutos para as visitas a vinícolas. Um dos destaques foi a James Cole (de perfil boutique e sem exportação para cá, infelizmente). Situada em um lindo platô, a propriedade brinca com elementos de filmes de terror em algumas áreas abertas para a visitação. Os vinhos, contudo, são coisa séria. O cabernet sauvignon 2021 foi o grande destaque da degustação, unindo potência e elegância. Irresistível. Há também um 100% malbec – algo pouco comum em Napa -, um pouco concentrado demais e sem a fineza do cabernet da casa.
Visita à vinícola James Cole, Napa Valley, entre reuniões de trabalho: "ossos do ofício”
De volta ao Brasil, no Spa dos vinhos, o entusiasmo com os vinhos se repetiu. Entre as dezenas de palestras e debates nos quais os quase 300 participantes podiam se inscrever – incluindo workshops de Inteligência Artificial Generativa (IA) com o Google e discussões de negócios com grandes líderes em suas áreas – a primeira atividade que esgotou foi... uma degustação de vinhos regionais. Foram tantos inscritos que em minutos já não havia mais vagas.
Também mereceu elogios a palestra com degustação da enóloga da Caves Geisse – uma das referências em espumantes nacionais -, Vanessa Estafani. Mesmo ocorrendo na parte da manhã - e no dia seguinte a um mega jantar com shows e vinhos na vizinha Miolo - sua apresentação teve ótimo quórum. Vanessa contou um pouco dos desafios de ser uma mulher num ambiente ainda muito masculino como a produção de vinhos. No final todos aplaudiram sua trajetória – e a qualidade do seu trabalho, comprovada nas taças.
Spa do Vinho, Bento Gonçalves: sucesso na degustação de vinhos regionais
Tudo isso nos leva para a constatação inevitável: o fascínio quase universal que o vinho exerce. O que explica isso? Por que as pessoas simplesmente amam vinhos?
Resolvi arriscar e perguntar justamente para uma IA. Resposta: essa atração fatal, digamos assim, é resultado de uma combinação de história, cultura, ciência e prazer sensorial. Produzido há milhares de anos, o vinho transporta a essência dos lugares onde é cultivado e traz uma sensação de conexão com a natureza e com o tempo. A ciência e a arte de fazer vinho acrescentam uma camada de complexidade que cativa os interessados.
Além disso, o ato de degustar exige atenção, sensibilidade e conhecimento, o que leva muitos a estudarem e explorarem o universo do vinho a fundo. Há também o aspecto social: o vinho é frequentemente associado a momentos de convívio e celebração, criando laços e memórias entre amigos e familiares, incentivando conversas, aprendizados e experiências compartilhadas.
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Nada mau, certo? Parece-me que é exatamente essa mistura de hedonismo, arte, ciência, história e emoção e conexões humanas que explica o fascínio e a paixão que o vinho desperta em tantas pessoas ao redor do mundo. Tiro o chapéu para a IA – que, embora já seja craque em responder questões, jamais conseguirá sentir ou realmente compreender aquilo que descreve. Alguma vantagem em ser de carne e osso ainda temos.
Aqui neste Guia dos Vinhos, sabemos também que cada garrafa conta uma história única – de um lugar e de pessoas. Na edição 2024 / 2025 que acabamos de lançar, nos esforçamos para dar ao menos 554 razões – o número de rótulos avaliados – para que você aumente seu repertório, conheça coisas novas, e - quem sabe - se enamore um pouco mais por essa bebida mágica.
Se isso acontecer, mesmo que só um pouquinho, nosso trabalho valeu a pena.