Um brinde a Ricardo Castilho
O jornalista Ricardo Castilho, sócio da revista Prazeres da Mesa, deixou uma importante marca no mundo da enogastronomia. Falecido nessa semana, vítima de um infarto fulminante aos 59 anos, Castilho foi responsável por valorizar a gastronomia, não apenas nas páginas da revista, mas também na promoção de inúmeros eventos de gastronomia nas mais diversas cidades brasileiras nestas últimas duas décadas. O mais importante deles, o Mesa SP, reúne profissionais da cozinha das mais diversas correntes e nacionalidades, que apresentam suas receitas e discutem ideias e tendências. Nas últimas edições, o Mesa SP foi realizado no Memorial da América Latina, atraindo um público de mais de 70 mil pessoas.
Castilho se mostrou um exímio degustador, preciso em suas observações sobre as bebidas
Mas é no mundo do vinho que Castilho foi um amigo querido de nós quatro, autores do Guia dos Vinhos. Em momentos diferentes, Suzana Barelli e Marcel Miwa trabalharam na Prazeres da Mesa, sob a liderança de Castilho. Suzana há 20 anos, logo depois do lançamento da revista, quando a publicação dava os seus primeiros passos. Marcel, mais recentemente, trazendo um novo gás às reportagens e degustações do Caderno de Vinhos. Beto Gerosa participou de diversas degustações com Castilho, seja daquelas promovidas pela própria revista (ele convidava especialistas para se juntar as degustações mensais da publicação), seja em eventos com produtores e enólogos. E Ricardo Cesar também participou dessas degustações com produtores, no qual Castilho era convidado.
Mesmo com o foco principal na gastronomia, o vinho sempre foi uma paixão de Castilho. Ele entrou neste mundo na década de 1990, quando organizava as degustações de bebidas (não apenas vinhos, mas também uísques e demais destilados) para a revista Playboy. Convidava para o painel degustadores como Jorge Lucki (atualmente o único brasileiro na prestigiosa Academie du Vin); Mario Telles (presidente da Associação Brasileira de Sommeliers – São Paulo); Ciro Lilla (hoje dono da importadora Mistral); Manoel Beato (que na época dava os primeiros passos no serviço de vinhos do hotel Fasano) e até o saudoso Saul Galvão (1942 – 2009), entre outras figuras importantes no cenário do vinho no Brasil.
Castilho (à esquerda), em uma de suas últimas fotos no evento do lançamento da safra 2015 do vinho Barca Velha, no dia 11 de junho
Nestas degustações, Castilho defendeu princípios que nortearam a sua vida profissional. Primeiro, as bebidas eram sempre degustadas às cegas (sem saber que vinho corresponde a cada amostra) e todas as garrafas eram compradas no mercado, como forma de manter a independência editorial. O sucesso destes textos sobre vinhos o levou para a revista Gula e, alguns anos mais tarde, serviu de inspiração para que ele lançasse a revista Prazeres da Mesa, no início dos anos 2000, em sociedade com a esposa Claudia Esquilante e o casal Mariella Lazaretti e Georges Schnyder. Editor da Prazeres, como a revista era mais conhecida, ele sempre repetia o bordão na reta final de um fechamento, quando enviava a última página para a gráfica: “mais uma para a conta”. E foram perto de 250 edições desde que a primeira foi lançada em 2003, com uma capa que destacava os jovens e promissores chefs da época e no qual indicava 54 vinhos para o leitor provar.
Nestas duas décadas, Castilho se mostrou um exímio degustador, preciso em suas observações sobre as bebidas. E, não raro, aliás, sempre, suas opiniões sobre brancos e tintos eram precedidas de comentários sobre o Palmeiras, seu time do coração. Alias, difícil saber do que ele gostava mais, se do futebol ou do vinho. Mas certamente sua paixão maior era pela família, que ele sempre defendeu.