Lá vem o Brasil, plantando vinhedos!

Lá vem o Brasil, plantando vinhedos!

Publicado por: Beto Gerosa Publicado: 16/12/2024 11:22 Visitas: 271 Comentários: 0

Sabe aquela primeira aula de curso de vinhos que mostrava os paralelos ideais onde os vinhedos são cultivados? Aquelas linhas imaginárias cruzando o mapa-múndi entre os paralelos 30° e 50° nos hemisférios norte e sul. Ao Brasil, nesta configuração, sobrava uma pequena parcela de terreno ideal para o cultivo das uvas no sul do país.

Esquece.

Seja pela mudança climática, pela adoção de novas técnicas de plantio (alô, vinhos de inverno) ou mesmo evolução tecnológica há vinhedos espalhados por regiões até então inimagináveis no Brasil e as linhas dos paralelos estão se apagando.

O resultado sentimos aqui mesmo no nosso Guia do Vinhos. Grata surpresa. Tivemos um crescimento expressivo de amostras de tintos, brancos e espumantes nacionais de diversas regiões (mas ainda com forte presença do Sul do país). Foram 128 garrafas brasileiras avaliadas. Praticamente um quarto do total de 545 rótulos ranqueados. São marcas da Chapada DiamantinaVale do São Francisco (BA), Espírito Santo do Pinhal (SP), Serra da Mantiqueira (SP e MG), Serra Catarinense (SC), Serra GaúchaPinto Bandeira, Campanha GaúchaSerra do Sudeste (RS). Um crescimento em quantidade, mas, principalmente em qualidade, que no final do dia é o que importa para o consumidor e para os leitores do Guia.

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Esta diversidade e interesse de empresários em apostar em novos vinhedos, ou mesmo na ampliação de área em regiões tradicionais, está refletida no relatório State of the World Vine and Wine 2023, realizado pela Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV). Os dados mostram que o Brasil aumentou em 1,5% a área de plantio de vinhedos, totalizando hoje 83 mil hectares. Como consequência, o país também cresceu no volume de produção: 12% em relação a 2022. No mundo o que se vê é o oposto: uma retração da área plantada que diminui 0,5% em relação a 2022, consolidando em 7,2 milhões de hectares. No nosso vizinho Chile, país que mais exporta vinho para o Brasil, a queda foi de 5,6% de área de vinhedos, por exemplo.

Estão mapeadas no país 1000 vinícolas, mas basta percorrer o país para desconfiar que este número é maior. Grosso modo, algumas características definem a produção de vinho nas mais variadas regiões do país, novas e antigas.

Sul - Responsável por cerca de 80% da produção no Brasil. Concentrado no Rio Grande do Sul e Santa Catarina e uma parcela do Paraná. Aqui há uma tradição de mais de 100 anos no cultivo e elaboração de vinhos, um conhecimento maior do terroir e processo avançado de reconhecimento de indicações geográficas, divididas em duas categorias: IP, indicação de procedência e DO, denominação de origem. A DO Vale dos Vinhedos e a DO Altos de Pinto Bandeira, esta última específica para espumantes, estão localizadas no Rio Grande do Sul. São as duas únicas a garantir este selo que associa a qualidade e características do vinho à sua localidade. A vindima é realizada entre janeiro e março.

Sudeste e Centro Oeste – Aqui é o pedaço dos chamados “vinhos de inverno”. O nome vem dos meses da colheita que, devido à técnica da dupla poda, se dá nos meses de julho e agosto. O dono desta inovação tem nome e sobrenome. Criada por Murilo de Albuquerque Regina a dupla poda engana as videiras e altera o ciclo das uvas. Esta técnica revolucionou o mapa das vinícolas no país pois abriu uma avenida de oportunidades de vinhedos em estados e regiões antes estranhas ao cultivo e produção de vinhos. Parecem que brotam do nada operações em São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Goiás, Brasília, Mato Grosso. A transformação foi tamanha e tão rápida que o governo do Estado de São Paulo criou o projeto Rotas do Vinho com 5 sugestões de roteiros para 66 vinícolas cadastradas no programa Sabor SP. Os roteiros são: Alta Mogiana (Ribeirão Preto e região); Bandeirantes (São Roque e região); Circuito das Frutas (Jundiaí e região); Serra dos Encontros (Espírito Santo do Pinhal e região) e Alto da Mantiqueira (São Bento do Sapucaí e região).

Nordeste – Há dois pólos de viticultura nesta região. O já conhecido Vale do São Francisco, de terrenos de baixa altitude, onde a característica mais disruptiva é ter colheitas o ano inteiro. São duas podas e duas colheitas por ano espalhadas ao longo dos meses, o que por si só manda os paralelos e o ciclo tradicional das parreiras para os livros de história. Outro pólo do Nordeste, recém-explorado, e de altitude maior, são os de Garanhuns, em Pernambuco, e da Chapada Diamantina, na Bahia, que adotam a mesma técnica de dupla poda do Sudeste e Centro Oeste e vem colhendo, literalmente, bons frutos.

As chamadas novas fronteiras do vinho nacional não foram descobertas ontem. Vale sempre lembrar que por mais espantoso que sejam os rótulos engarrafados no Sul de Minas, na Chapada Diamantina ou em Espírito Santo do Pinhal a diversidade de terroirs também é marca da região Sul do país. Há os vinhos de altitude de Santa Catarina, os vinhedos da Campanha Gaúcha no extremo sul do Estado, Pinto Bandeira, Farroupilha, apenas para citar alguns, cada qual com suas características e caminhos.

A Miolo Wine Group aposta na diversificação de regiões e foi pioneira na produção de vinhos em larga escala no Vale do São Francisco, em 2001, com a Vinícola Terra Nova, onde elabora tanto rótulos de alta produção como de vinhos premium. No Sul do país foi expandindo sua operação em outros diferentes terroirs, além da sede no Vale dos Vinhedos (Bento Gonçalves): Campanha Meridional (Vinícola Seival, em Candiota, em 2000) e Campanha Central (Almadén, Santana do Livramento, em 2009).

Recentemente a empresa criou uma campanha para valorizar esta diversidade apresentado cada região onde atua com um rótulo na faixa de preço alinhada com a filosofia deste Guia: todos até 100 reais. O que merece aplausos, pois no geral estas campanhas de marketing destacam os rótulos mais caros.

 

Do Vale dos Vinhedos um espumante de método tradicional o Miolo Cuvée Nature (R$ 86,00); do Vale de São Francisco o Miolo Reserva Syrah 2022 (R$ 67,00); da Campanha Meridional, Miolo Seleção Rosé 2024 (R$ 41,00), cabernet sauvignon e tempranillo; da Campanha Central, Miolo Single Vineyard Gewurztraminer 2022 (R$ 82,00) e finalmente um novo terroir: o Miolo Reserva Malbec 2023 (R$ 70,00), elaborado com uvas provenientes do Valle do Uco, em Mendoza, Argentina. Opa, mas aí já não é Brasil. De fato, mas prepara o terreno para o parágrafo seguinte

Esta semana a Miolo anunciou sua internacionalização, adquirindo a Bodega argentina Renacer com 30 hectares de vinhedos aos pés da Cordilheira dos Andes, em Perdriel. A compra está relacionada ao sucesso do malbec lançado pela empresa e com um projeto de expansão internacional. “É o nosso quinto terroir”, declarou Adriano Miolo, diretor superintendente da Miolo, em entrevista a Suzana Barelli, autora deste Guia, direto da Argentina (leia matéria completa abaixo).

Tags: Guia dos Vinhos, vinho brasileiro, poda invertida, OIV, Beto Gerosa

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