A aposta na sustentabilidade

A questão sobre se vale a pena ser sustentável pode ser respondida pelo requerimento recebido pela Comissão de Viticultura Regional Alentejana (CVRA) do governo sueco no último mês de setembro. Como a importação de bebidas alcoólicas é um monopólio no país, a empresa responsável por comprar os vinhos para os suecos enviou dois pedidos para as vinícolas alentejanas. No primeiro, a Suécia quer adquirir tintos que tenham indicação de origem e pagam entre 1,5 e 1,9 euro pela garrafa. No segundo pedido, pagam entre 3,6 e 5,2 euros por garrafas alentejanas que tenham o certificado de sustentabilidade.

Na ponta do lápis, os 5,2 euros significam um preço quase quatro vezes maior do que 1,5 euro oferecido pelo primeiro vinho tinto. Deixa claro ao produtor que a sustentabilidade tende a ser um caminho sem volta, senão por valores de preservação do meio ambiente e de economia dos recursos naturais, ao menos pelos fatores econômicos.

“A sustentabilidade acrescenta valor ao vinho e traz acessos a mercados exclusivos”, afirma João Barroso, coordenador do programa de sustentabilidade do Alentejo, mais conhecido pela sigla PSVA.

Em 2013, a CVRA deu os primeiros passos para criar o seu programa de sustentabilidade, que inclui tanto a produção de uvas como a de vinhos – no Alentejo, já muitos produtores que vendem suas uvas para outras vinícolas e nem sempre elaboram o seu próprio vinho. Entre os temas de sustentabilidade estão desde a gestão de água na vinha e a sua eficiência energética, a gestão de resíduos, de doenças e de pragas, a gestão sustentável de ecossistemas, além da preocupação com a comunidade.

“Quando começamos o projeto, uma das vinícolas consumia 14 litros de água para 1 litro de vinho. Nossa meta é chegar em 1 litro de água para cada litro de vinho”, exemplifica Barroso. 

Ele conta que alguns membros já conseguiram reduzir este consumo para 1,2 litro de água. Barroso sabe que não é um caminho fácil, mas que precisa ser feito. A água é um tema cada vez mais caro para as vinícolas e não apenas para as alentejanas. Atualmente, pelos dados da CVRA, houve uma redução média de 20% no consumo da água e de 30% na eletricidade, entre as 652 empresas que aderiam ao projeto.

Ovelhas pastando na propriedade da Tapada dos Coelheiros

Os primeiros selos do PSVA foram concedidos em 2020 e atualmente 20 empresas alentejanas já tem direito de estampá-lo nas garrafas. A primeira foi a Herdade dos Grous. “Tínhamos de ser pioneiros pela nossa história”, afirma o enólogo Luiz Duarte, responsável pela vinícola. Pioneiro porque o projeto nasceu no início dos anos 2000 já com a preocupação com o meio ambiente, em suas atividades econômicas: os Grous também se dedicam a criação de animais e a agricultura biológica de frutas, vegetais e azeites.

Na prática, o interesse pelo tema da sustentabilidade começa a mudar lentamente a paisagem das vinícolas. 

Desde a criação de corredores biológicos entre as vinhas, para minimizar o fato de a viticultura ser uma monocultura; das caixas de morcegos perto das árvores e de uma maior quantidade de animais, com “direito” a passear pelos vinhedos. Nas vinícolas, nota-se os painéis de energia solar – até aproveitando a luminosidade da região – a preocupação com o consumo de água e até o desaparecimento dos copos de plástico. Copos de vidro agora estão disponíveis em bebedouros de várias delas.

E o discurso para os visitantes em seus programas de enoturismo também vem mudando. Na Tapada dos Coelheiros, vinícola que também tem o selo de sustentabilidade, o passeio em um carro 4 x 4 em parte dos 800 hectares da propriedade tem paradas para observar as caixas de morcegos; os veados bebendo água na represa, ovelhas pastando e a riqueza da fauna local. E, nas explicações do guia há também detalhes sobre como as videiras podem coexistir com outras plantas, que agora crescem entre as fileiras de vinhas. E é, sigamos, efeito colateral do programa de sustentabilidade.