Brinde com cava
Qualquer passeio por Barcelona, na Espanha, explica o sucesso do cava, como é chamado o espumante espanhol. Barcelona é a cidade dos descontraídos bares de tapas, com seus jamon, batatas bravas, lulas, croquetes, azeitonas, mexilhões ... E são receitas que combinam com esse espumante fresco, descontraído ou sério (conforme a sua proposta). A bebida é disponível em taças na maioria dos bares – em recente visita à Barcelona, a taça de cava rodava aos 6,5 euros; e um dia ousei e bebi um cava em embalagem de lata, por 3,5, o que não recomendo.
Mas o cava ganhou esse nome no início da década de 1970, quando a região de Champanhe conquistou o direito de ser a única a poder utilizar em seus rótulos a palavra que é sinônimo dos melhores espumantes. Sem poder usar mais o nome champanhe, como definir o seu espumante? Essa história, verídica, eu ouvi até de um taxista, o que, confesso, me surpreendeu, por indicar que há um interesse em saber mais da bebida, e até de se orgulhar dela, de seus moradores.
Hoje, aliás, é preciso saber se é cava ou corpinnat, termo mais difícil de associar a este espumante. Corpinnat é a junção das palavras catalãs “cor” e “nat” com o latim “pinna”, que deu origem ao nome Penedès. Traduzindo significa “no coração do Penedès”. Nasceu da ideia de um grupo de produtores de se diferenciar dos cavas, entre eles, viticultores renomados como Gramona e Recadero.
Nas regras de sua elaboração, está seguir o cultivo orgânico, colher as uvas manualmente, utilizar apenas as variedades locais, respeitar o período de autólise (nos cavas são pelo menos 9 meses em que a levedura precisa ficar em contato com a bebida dentro das garrafas).
O nome nasceu por “culpa” dos produtores de cava. Esta denominação de origem para os espumantes espanhóis inclui 36 mil hectares de vinhedos, espalhados pelo país, o que torna muito ampla a área de sua elaboração. O maior produtor, com mais de 29 mil hectares, é a Catalunha, onde fica Barcelona, e Sant Sadurní D’Anoia, é a sua principal cidade. Mas há mais seis regiões que podem elaborar o espumante e estampar a palavra cava em seu rótulo: Álava, Aragão, Extremadura, Navarra, Rioja e Valência. O espumante pode ser elaborado com variedades de uvas espanholas – as principais são xarel.lo, parellada e macabeo, mas há também a trepat e a garnacha – e as uvas francesas chardonnay e pinot noir.
O cava é, assim, é um pouco vítima de seu sucesso: cresceu demais e tem produtores que querem uma elaboração mais artesanal e decidiram seguir uma rota paralela. Mas há muitos produtores que se orgulham de sua história. Um dele é a Freixenet, que atualmente elabora 22 milhões de garrafas do espumante por ano. O Cordon Negro, seu produto líder, acaba de completar 50 anos e até ganhou novo rótulo, mais moderno. Para obter esse volume de produção, a empresa trabalha com vinhedos próprios e também com uvas compradas de mais de 800 produtores locais. E tem uma vinícola, aberta para o turista, que chama a atenção na paisagem da pequena Sant Sadurní D’Anoia, que com seus 12 mil habitantes, abriga mais de 100 vinícolas.
Mas ao lado das festividades e da descontração que envolvem o mundo dos cavas, há também preocupação. Nos últimos três anos, a região registrou uma queda de produção pela falta de água, em mais um dos reflexos do aquecimento global. Na estiagem, não raro, muitas videiras morreram ou hibernaram. O próprio conselho que regula a produção até autorizou a irrigação dos vinhedos. Mas o problema é que não há água disponível. E estuda-se aumentar a área da denominação de origem cava para se obter mais uvas
Neste ano, que a chuva voltou a cair, mas foi água demais. Uma forte chuva de granizo no início de maio atingiu mais de 1,5 mil hectares de vinhedos locais, comprometendo a sua produção. Ainda é cedo para saber o real impacto, mas já se sabe que não será pequeno.
Problemas climáticos à parte, o cava vem conquistando o seu espaço nas taças dos consumidores, inclusive no Brasil – por aqui, só a líder Freixenet exporta por ano cerca de 1 milhão de garrafas. E isso merece um brinde.