Os patinhos feios que viraram cisnes

Os patinhos feios que viraram cisnes

Publicado por: Ricardo Cesar Publicado: 03/06/2024 10:53 Visitas: 466 Comentários: 0

Uma das características mais bacanas do mundo dos vinhos é a diversidade: há uma paleta infinita de cores, aromas, sabores e estilos. Muitos fatores influenciam no resultado final, desde a técnica de vinificação até o terreno e o clima, mas claro que a multiplicidade de uvas viníferas é um dos motivos para ninguém precisar sofrer de mesmice ou monotonia na taça.

As variedades mais consagradas internacionalmente – caso da cabernet sauvignon, merlot, pinot noir e syrah para as tintas e de chardonnay e sauvignon blanc para as brancas – seguem sendo referências importantíssimas. Essas uvas também se expressam de maneiras diferentes em cada país ou região e sempre podem surpreender.

Nas últimas décadas, contudo, a busca por diferenciação num mercado extremamente competitivo fez com que cada vez mais os produtores – ou regiões, ou até países inteiros - experimentassem com cepas que antes eram pouco conhecidas do grande público.

Essa tendência deve ser brindada justamente porque amplia ainda mais a diversidade. E a boa notícia é que ainda estamos apenas arranhando a superfície. Itália, Portugal, Espanha e Grécia, por exemplo, possuem verdadeiros tesouros enológicos, repletos de variedades nativas (ou “autóctones”) que ainda são pouco disseminadas.

Os números variam muito dependendo da fonte, mas é seguro dizer que cada um desses países possui algumas centenas de uvas indígenas (Itália e Espanha provavelmente na casa das 500 variedades cada; Portugal e Grécia com algo ao redor de 300 tipos diferentes ou mais).

Dentro desse contexto, ocorre também de uvas que não eram completas desconhecidas, mas sim tidas como menos nobres e destinadas a gerar vinhos inferiores ou apenas entrar em blends, serem revisitadas com um novo olhar enológico para extrair delas todo o potencial. A nossa América do Sul é pródiga nisso: a Argentina escolheu a malbec, que estava restrita à região de Cahors, no Sudoeste da França; o Chile elegeu a carménère, variedade quase extinta em Bordeaux; e o Uruguai apostou suas fichas na tannat, uma cepa que gerava vinhos rústicos e estava confinada à região francesa de Madiran, perto dos Pirineus.

Esses são casos de sucesso bem conhecidos pelos consumidores brasileiros. Mas há muitas outras castas que estão sendo resgatadas da condição de patinhos feios para desabrochar em belos cisnes nas mãos de produtores de qualidade – muitas vezes sem necessariamente migrar para outros países, como nos exemplos sul-americanos, mas ganhando novo status em suas próprias localidades de origem.

Conheça aqui algumas dessas variedades e confira indicações de rótulos certeiros para você se surpreender com cada uma delas.

Baga – originária da região da Bairrada, em Portugal. Assim como aconteceu com a francesa tannat, é uma uva que gerava vinhos mais rústicos e difíceis de beber, principalmente quando jovens. Mas alguns produtores - Luis Pato é o nome de referência aqui, mas há vários outros - aprenderam a domar a baga e amaciar seus taninos, com resultados excelentes.

 

Barbera – a mais popular das uvas do Piemonte, no Noroeste da Itália, é ao lado da sangiovese a variedade mais cultivada do país. Dá tantos vinhos leves do dia-a-dia como exemplares escuros e frutados, com alta acidez e concentração e boa capacidade de envelhecimento.

 

Dolcetto – outra uva italiana do Piemonte que apesar do nome não é doce. Tradicionalmente resulta em rótulos simples, próprios para a culinária do dia-a-dia, com alta acidez e que devem ser bebidos ainda jovens. Quando melhor tratada, a uva é envelhecida em barris de carvalho e resulta em líquidos mais ricos e complexos.

 

 

Gamay - é a uva usada na produção do Beaujolais, um vinho mais leve, produzido nesta região da Borgonha. Os rótulos mais conhecidos são de Beaujolais Noveau, que são lançados todo mês novembro e devem ser imediatamente consumidos. Mas há produtos de maior qualidade, com capacidade de envelhecimento, os chamados Cru Beaujolais.

 

Pais – assim chamada no Chile, também conhecida como criolla na Argentina e missão, na Califórnia. Foi das primeiras variedades trazidas para as Américas durante a colonização e chegou a ser a casta dominante em muitos países durante dois ou três séculos. Foi sendo gradativamente abandonada e substituída por cepas francesas consideradas mais nobres, como a cabernet sauvignon. Recentemente está passando por um resgate nas mãos de bons produtores.

 

Alvarinho – Responsável pela produção na região do Minho, em Portugal, do vinho verde, que tem este nome pois deve ser tomado ainda jovem, isto é “verde”. O consumidor brasileiro sempre teve os vinhos de alvarinho como referência para rótulos simples, baratos e refrescantes. Isso ainda é verdade, mas um número crescente de produtores em Portugal – e também na Espanha e no Uruguai, onde leva o nome de albariño – tem apostado em versões mais ambiciosas e sofisticadas com bons resultados.

 

Pinot Grigio - Da família da pinot noir, resulta em vinhos brancos leves na Itália e mais ricos e perfumados na região francesa da Alsácia, onde ganha o nome de pinot gris. Cada vez mais produtores de diversas partes do mundo estão experimentando com essa variedade.

 

Torrontés - Uva branca-símbolo da Argentina. Muito aromática, começou a se tornar conhecida em produtos simples, para consumo do dia-a-dia, mas vem ganhando versões cada vez mais sofisticadas.

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