Os primeiros single vineyards argentinos
Não faltam exemplos de single vineyards mundo afora. De um barolo, como o Cannubi San Lorenzo, da Ceretto, a um rótulo uruguaio, como o Garzon Single Vineyard Albariño. Não é diferente na Argentina, onde rótulos badalados como Mundus Bacillus Terrae, da vinícola Catena, são elaborados com uvas de uma parcela específica do vinhedo Adriana. Mas o conceito de single vineyard, que traduz vinhos elaborados com uvas de um único vinhedo ou de uma parcela desta viña é recente no país do tango, mesmo com a Argentina fazendo vinhos desde 1551, quando os colonizadores espanhóis levaram as primeiras mudas para lá.
“O primeiro single Vineyard argentino nasceu aqui, em 2001”, afirma a agrônoma Palema Afonso, da vinícola Alta Vista. Ela se refere a um tinto, elaborado apenas com a malbec em La Comportas, em Lujan de Cuyo. Na época, os enólogos do país ainda faziam seus vinhos preocupados apenas na uva que entrava na vinícola, com pouquíssimo ou nenhum foco em conhecer o solo e o clima que, hoje sabem, ajudam a definir as características do vinho.
Mas este é um conceito moldado na França por séculos. Ainda na Idade Média, na Borgonha, os monges já definiam, por observação das vinhas e seus frutos, quais as parcelas dos vinhedos que davam origem às melhores uvas. Assim, não é de se estranhar que o primeiro single vineyard argentino venha de uma vinícola de origem francesa, a Alta Vista.
Malbec de 1930, que dá origem ao Single Vineyard Alizarine
A ideia veio do francês Patrick D’Aulan, que no passado foi dono do champanhe Piper-Heidsieck. Ele chegou na Argentina em 1998, empolgado com o conceito do Clos de los Siete. Liderado com o também francês Michel Rolland, o projeto previa que sete produtores formassem uma grande área de vinhedos, cada um com sua própria vinícola, e que também elaborassem um tinto comum, com as uvas de cada produtor.
D’Aulan chegou a comprar os vinhedos – hoje tem 74 hectares cultivados nesta área –, mas acabou não entrando na sociedade. Ao aterrizar em Mendoza, ele se apaixonou por uma vinícola da década de 1880, hoje patrimônio histórico de Mendoza, localizada em Chacras de Coria, uma das cidades próximas à Mendoza, e decidiu que elaboraria vinhos nesta propriedade. Como o Clos de los Siete pressupunha vinícolas ao lado do vinhedo, D’Aulan partiu para outros rumos, já que não tinha razão de ter duas vinícolas em Mendoza.
Já em 1998 elaborou o Alto, um blend de malbec e cabernet sauvignon, que logo foi posicionado como um rótulo premium, com bastante sucesso. E em 2001, ele decidiu lançar o Single Vineyard Alizarine, com uvas de um vinhedo em Las Compuertas, em Luján de Cuyo, que havia adquirido na mesma época em que comprou a vinícola centenária.
A compra da vinícola, aliás, já indicava este caminho. Havia na construção vários tanques de concreto com capacidade para 11 mil litros. “Os tanques, pequenos para a época, permita elaborar vinhos em volumes menores, valorizando as parcelas dos vinhedos”, explica o enólogo Adrián Meyer. Naquela época, ainda eram comuns os grandes tonéis de madeira e os tanques de concreto para capacidades de 50 mil, 60 mil litros e até mais. Aos poucos, os tanques de inox, mais higiénicos e fáceis de controlar a temperatura de vinificação foram mudando a fotografia da vinícola. Mas na reforma das instalações, D’Aulan fez questão de manter estes tanques.
Atualmente, a Alta Vista conta com quatro single vineyards tintos, todos elaborados com a malbec, e que chegam ao Brasil importados pela Épice. E tem também um single vineyards branco, o Olympe, feito com a uva torrontés. E, assim, vão construindo os capítulos da história do vinho argentino.
Os rótulos single vineyards da Alta Vista