E lá vem eles novamente: os rankings dos melhores vinhos do ano
Todo enófilo de carteirinha sabe que não é apenas o especial do cantor Roberto Carlos na Globo que se repete eternamente a cada fim de ano. Um pouco antes do rei fazer sua exibição natalina, um outro fenômeno ocorre com igual assiduidade: os rankings de melhores vinhos das publicações especializadas.
O tema sempre reaparece mais ou menos junto com os panetones nas gôndolas dos supermercados. Mas em 2024 recebeu uma atenção extra no Brasil porque um dos principais rankings, o Top 100 da publicação americana Wine Spectator (WS), colocou em primeiro lugar um produto sul-americano (uma raridade) e bem conhecido nosso: o Don Melchor 2021: , ícone da vinícola chilena Concha Y Toro.
Virou um bafafá na bolha dos aficionados da América do Sul - e até um pouquinho além da bolha, nesse caso. Muita gente aplaudiu e comemorou. Alguns criticaram. De um jeito ou de outro, a lista cumpriu seu propósito: chamou a atenção.
É exatamente por isso que títulos internacionais como a própria Wine Spectator, além do Vinous e JamesSuckling.com, entre outros, apostam nessa fórmula que parece exercer uma atração infalível sobre o consumidor. Nós do Guia dos Vinhos seríamos hipócritas em criticar a prática, já que também temos os nossos rankings de "Dez mais" em cada categoria: tintos e brancos nas diferentes faixas de preços que acompanhamos, além de rosés e espumantes.
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As listas são úteis para chamar a atenção dos consumidores para rótulos que se destacaram. É uma fórmula muitas vezes criticada por especialistas e produtores por ser simples demais. Mas é daí que vem o seu sucesso. Que atire (em mim) a primeira garrafa de Sassicaia aquele que nunca comprou um vinho por causa de um ranking.
O segredo para tornar realmente útil esse tipo de serviço, creio, reside em dois pontos. O primeiro é entender quem está produzindo o levantamento e que critérios utiliza. Sim, porque isso varia bastante: o ranking pode ser baseado na qualidade absoluta dos vinhos, ou na relação custo/ benefício, por exemplo, e basta isso para mudar completamente o resultado.
Uma publicação norte-americana também vai olhar os rótulos pelas lentes dos EUA, levando em consideração o preço e a disponibilidade dos produtos lá - que podem ser bem diferentes dos praticados no Brasil.
Por fim, diferentes críticos podem seguir distintos critérios de avaliação. Há os que gostam de vinhos mais encorpados, outros pontuam melhor a elegância e assim por diante. Conheça o seu crítico e saiba interpretar bem o que ele sugere.
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O segundo ponto para aproveitar bem essas listas é não as levar a sério demais. Esses levantamentos nunca são uma verdade absoluta - e tudo bem, desde que você saiba disso. São apenas um recorte que, se feito por bons avaliadores de forma honesta e baseada em critérios razoáveis, podem funcionar muito bem como uma ferramenta que ajuda o consumidor a conhecer produtos interessantes e beber melhor. Simples assim.
A maioria dos rankings mais conhecidos segue critérios parecidos, quase nunca colocando a qualidade em si como um item que possa ser analisado isoladamente. A Wine Spectator, por exemplo, combina qualidade, valor, disponibilidade no mercado e uma “história única” ou "capacidade de gerar entusiasmo" de cada vinho.
James Suckling e muitos outros adotam uma abordagem semelhante. A Vinous, liderada por críticos renomados como Antonio Galloni, também não foge muito desses conceitos.
Os vinhos que entram para o topo dessas listas geralmente experimentam um aumento significativo na demanda e, consequentemente, nos preços.
Além disso, essas listas funcionam como uma vitrine global para produtores menores ou de regiões emergentes, destacando vinhos que talvez passassem quase despercebidos no mercado internacional.
Verdade seja dita: não é sempre que isso acontece. A lista deste ano da WS, por exemplo, não traz grandes achados desconhecidos do público. Mas nem por isso deixa de ter o seu valor, ao jogar nova luz sobre alguns velhos conhecidos. Até porque nenhum vinho é estanque - os produtos sempre sofrem influência das safras e, além disso, a própria técnica de produção pode evoluir e sofrer modificações com o tempo. Sempre vale revisitar bons vinhos e bons produtores.
Como se vê, as listas e rankings podem ser muito bons - se você souber como interpretá-los. Essa é a época para aproveitar esse tipo de serviço. Até para você garantir que terá um bom vinho na taça enquanto acompanha o especial do Roberto Carlos.