As variáveis das variedades

As variáveis das variedades

Publicado por: Marcel Miwa Publicado: 18/12/2023 10:40 Visitas: 656 Comentários: 0

Como você escolhe um vinho? O caminho não é de mão única e uma dica de um amigo, o grande mote do nosso guia, pode ser tão eficaz como a escolha por uma casta (ou cepa, ou variedade…), país ou vinícola.

Na pesquisa de C. Neumann da Cunha, H. Dewes e M.V. Araújo apresentada no 42º Congresso Mundial da OIV em 2019, os consumidores porto-alegrenses colocam a variedade da uva como primeira diretriz na escolha de um vinho, acima até da origem, preço, marca ou premiação. E em certo aspecto faz sentido, pois a previsibilidade dos aromas de um vinho em grande parte é ditada pela variedade de uva utilizada.

Planilha com a pesquisa Fator de Compra da OIV: uva em primeiro lugar

Da mesma forma que não se espera um gewürztraminer contido no nariz e sem as referências florais e de lichia, não se imagina um pinot noir com aromas de frutas negras em compota e toques achocolatados. Até no caminho reverso há diversidade de expressões: uma mesma variedade cultivada em lugares diferentes resultam em vinhos com expressões e perfis distintos. Basta ver a enormidade de sinônimos da espanhola tempranillo, que até mesmo cruzou a fronteira para Portugal, chamada de tinta roriz no Douro e aragonez no Alentejo.

A Master of Wine britânica Jancis Robinson e o suíço José Vouillamoz, geneticista especializado em variedades de uvas, lançaram em 2012 o livro "Wine Grapes”, onde listaram 1.368 variedades viníferas comercialmente relevantes no mundo.

O especialista em vinhos italianos Ian d’Agata em seu livro Native Wine Grapes of Italy comenta que o país apelidado pelos gregos de Enotria (terra do vinho) possui cerca de 2.000 variedades de uvas viníferas, das quais "apenas" 400 em escala comercial. Tudo bem que se conversarmos com um italiano médio, com seu orgulho pátrio, a resposta provavelmente indicará ao menos o dobro deste número. Ironias à parte, sejam 400, 1.368 ou 2.000 variedades, é coisa para chuchu!

Clube das 100 variedades. Você consegue gabaritar?

Para os que levam o tema o sério e são competitivos existe um clube criado para os que provaram mais de 100 variedades diferentes em vinhos. O Wine Century Club se denomina um grupo de apaixonado por vinhos, sem preferências ou preconceitos com alguma variedade. Para fazer parte do clube é preciso preencher a ficha disponível no site do clube, listando cada um dos vinhos com suas respectivas variedades (até totalizar as 100 variedades), o nome do enólogo, a região de origem e a safra. Aqui me pergunto se vale usar uma bala de prata como o Vinunmundi da vinícola Dal Pizzol, um único vinho feito com cerca de 200 variedades, das 400 plantadas (variedades de 35 países diferentes) em um vinhedo experimental na vinícola gaúcha.

Voltando ao tema central, se quisermos colocar mais uma camada de complexidade na questão, quando se busca um varietal ou um vinho pelas variedades, também se busca a segurança e a previsibilidade da expressão clássica, ou mais conhecida, daquela(s) variedade(s), o que se convencionou chamar tipicidade.

Entretanto, muitos dos considerados grandes vinhos do mundo acabam por se afastar da tal tipicidade da variedade. Normalmente são interpretações jazzísticas do que se conhece de uma variedade. Um Muscat de Zind-Humbrecht, um Priorato de Terroir al Límit ou o Châteauneuf de Rayas ilustram o caso. Claro que paga-se um preço a mais para desarrolhar essas garrafas (nem tudo é perfeito).

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