Os vinhos naturais escrevem sua história no Brasil
A última feira Naturebas, assim, chamada quase de maneira afetuosa pelos seus seguidores, chegou a sua 12ª edição, comemorando a presença de 180 expositores de 14 países e, principalmente, o público recorde de 2,4 mil pessoas que passaram pela Bienal, do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, no último final de semana de junho. A feira, que nasceu em 2013, com 20 expositores e 100 participantes, reunidos então no pequenino espaço da Enoteca Saint VinSaint, parece ter encontrado na Bienal o espaço ideal para mostrar a força dos vinhos naturais, orgânicos e biodinâmicos no mercado brasileiro.
Pela primeira vez nestes 12 anos o espaço foi proporcional ao tamanho da feira, ao contrário das edições anteriores onde parecia sempre haver mais gente do que metro quadrado disponível. Mesmo nos estandes mais disputados – e o campeão do público foi o Pheasant’s Tears, uma pequena vinícola da Georgia –, a fila foi respeitada (até porque havia espaço para isso). Aqui, o público queria conhecer os vinhos naturais elaborados pelo artista norte-americano John Wurdeman, que se encantou com a viticultura tradicional da Georgia na sua busca pela música folclórica do país. A vinícola foi fundada em 2007, só elabora brancos, rosés e tintos com variedade autóctones, que fermentam em ânforas de terracota, lá chamadas de qvevri. Por aqui, os rótulos de Wurdeman começam a ser trazidos pela Europa Importadora.
No público, havia certa empolgação com a oportunidade de provar esses vinhos elaborados com menor intervenção na vinícola, principalmente, e nos vinhedos.
Entre os produtores, o maior destaque foi a italiana Elisabetta Foradori, que veio ao Brasil defender as variedades autóctones do norte da Itália, com destaque para a tinta teroldego, e também encontrar um novo importador para os seus vinhos. A grande maioria dos enólogos e produtores presentes se dividia entre os brasileiros – Eduardo Zenker, Diego Cartier e Luís Henrique Zanini eram alguns deles –, e representantes da América do Sul. O peruano Pepe Moquillaza, por exemplo, fez sucesso com a nova safra do seu Quebrada de Ihuanco, já quase um clássico do evento.
Bienal do Parque Ibirapuera: 14 países e 2.4 mil amantes dos vinhos naturais
Impossível citar todos os destaques, mas entre as boas surpresas estavam os novos vinhos do argentino Matias Riccitelli, como o Flor e o Rancho MR NV, os dois elaborados em estilo mais oxidativo. A De La Croix, presente desde a primeira edição da Naturebas, trouxe o vinho mais caro para o evento, o Clos des Epeneaux, um Pommard da safra 2018, vendido por R$ 1985. Mas várias importadoras estavam presentes, da Uva Vinhos, a Kogan, a Gavinho, que são apenas alguns exemplos de empresas que trouxeram seus rótulos, mostrando que vinhos naturais podem, sim, ser bem elaborados.
Os números grandiosos do evento, liderado pela dupla Lis Cereja e Leo Reis, não deixam dúvida de que a Naturebas é o espaço mais relevante para quem quer conhecer e degustar vinhos nestes estilos na América Latina. Na Europa, há feiras maiores como o Raw Wine, que é o evento mais conhecido.
Claro que, neste universo, os discursos incluíam muita crítica aos sulfitos, substância que permite a maior conservação do vinho, mas tem seu uso muito controlado entre os naturais, biodinâmicos e orgânicos, e críticas às maneiras tradicionais de elaborar brancos e tintos. Mas a maratona de provar muitos destes vinhos trouxe a surpresa pela qualidade das bebidas degustadas: muitos brancos e tintos limpos e sem aquela acidez volátil que, não raro, afasta os consumidores. E que coloca a questão de que se os vinhos naturais, principalmente, mas também os biodinâmicos e os orgânicos são um modismo ou uma tendência. Pela Naturebas, pode-se afirmar que é um estilo que veio para conquistar o seu espaço.