Douro Boys, hoje, é um nome que pode causar controvérsia. Por que boys, se os seus fundadores já passaram dos 50 anos há tempos? E por que boys, nestes tempos de igualdade de gênero? Mas esta deve ser a única ressalva ao movimento de produtores de vinho, que surgiu no Douro no início dos anos 2000 e conseguiu trazer relevância a esta região ao norte de Portugal. “Conseguimos comunicar Portugal, o Douro e depois os produtores”, afirma Tomás Roquette, sócio da Quinta do Crasto e um dos mais ativos deste grupo.
Talvez Douro Friends (se baseando no movimento que surgiu uma década depois, o Baga Friends) ou algum outro nome mais criativo possa ser mais apropriado nos dias de hoje. Mas o apelido surgiu por acaso, a partir de uma reportagem que contava sobre o trabalho conjunto das vinícolas Niepoort, Quinta Vale Dona Maria, Quinta do Vale Meão, Quinta do Vallado e Quinta do Crasto. E pegou.

Duas décadas
Nestas pouco mais de duas décadas (a primeira apresentação dos “meninos” aconteceu em 2003, na Alemanha), pode-se dizer que eles lideraram um trabalho de colocar o Douro, com seus brancos e tintos tranquilos (ou seja, não fortificados como o vinho do Porto) no mapa do vinho mundial. Claro que não foram os únicos, mas sim atores importantes neste movimento.
E agora chegou o momento de começar a reviver esta história, mostrando a importância do tempo não apenas para elaborar um bom vinho, mas para mostrar (ou comprovar) a sua longevidade.

E foi isso que motivou a vinda do grupo para duas apresentações no Brasil, uma no Rio e outra em São Paulo, nesta semana que passou. Com o nome de “The luxury of time”, quatro produtores – o quinto, Vale Dona Maria, deixou o Douro Boys, ao menos por enquanto, porque a vinícola foi vendida para a Aveleda – apresentaram seus vinhos. Foram duas degustações em cada cidade. A primeira com 17 vinhos, entre brancos e tintos, terminado com o Douro Boys Anniversary Cuvée 2021. E a segunda, com 9 vinhos do Porto, incluindo o Douro Boys Anniversary Very Old Tawny Port.
União
Juntos, estes produtores descobriram que, mesmo concorrentes na venda de seus rótulos, a união pode ajudar. “Somos concorrentes, mas dividimos uma cumplicidade de conhecimento”, afirma Francisco Olazábal, apelidado de Xito, do Vale Meão.
Claro que uma certa cumplicidade ajuda. Os donos dos cinco projetos eram amigos antes do início do Douro Boys, e alguns até parentes – as quintas do Vallado e do Vale Meão, por exemplo, foram fundadas pela dona Ferreirinha, personagem ícone na história do vinho português, e até hoje pertencem a seus herdeiros.

Mais do que isso: conversavam, trocavam opiniões e provavam entre si os vinhos que estavam elaborando. Um exemplo é que todos atualmente, elaboram vinhos em um estilo que pode ser definido como mais elegante e não tão concentrado. “Os vinhos mais leves era uma conversa do Dirk [Niepoort], numa partilha de conhecimento”, lembra João Álvares Ribeiro, do Vallado.
E, assim, entre concorrentes na venda dos vinhos, mas cientes da importância de atrair consumidores para os rótulos durienses, vão escrevendo a história. Mas, ao menos por enquanto, seguem tranquilos com o nome Douro Boys.
