A centenária vinícola Salton voltou às origens e inaugurou nesta semana a sua Casa di Pasto, um espaço para refeições e degustações de vinho no Caminho de Pedra, um dos pontos turísticos do Vale dos Vinhedos (RS). O espaço é uma releitura dos antigos locais onde os viajantes paravam para suas refeições e descansavam antes de seguir viagem, chamados pelos imigrantes italianos de casa di pasto. É também mais uma opção no leque crescente de atrações do enoturismo, aquele que tem como principais atrativos os vinhedos e as degustações.
“Nossa expectativa é crescer 80% durante a vindima em relação ao ano passado. Estamos em janeiro é já aumentamos nossas vendas em 40%”, afirma Diego Fabris, sócio-fundador da Wine Locals, uma plataforma online que vende experiências de enoturismo, no Rio Grande do Sul, em São Paulo e no Uruguai. Os dados mostram que não há dúvida do crescimento do enoturismo, uma atividade de lazer em local aberto, que ganhou força com a pandemia e com o maior interesse do consumidor brasileiro pelo vinho.
A vindima é o melhor momento para esta atividade, e acontece, no Brasil, entre janeiro e março. As datas variam ano a ano conforme os “desejos” de São Pedro, ou melhor, devido às condições climáticas, que influenciam na definição da melhor data para a colheita. Mas é sempre no início do primeiro semestre, assim como ocorrem no segundo semestre no Hemisfério Norte.
Nesta época é possível fazer a colheita das uvas em várias vinícolas e a pisa à pé, quando os turistas entram em cubas para pisar as uvas antes do início de sua fermentação. A técnica, salvo exceções, não é mais usada pela maioria dos países produtores, mas é realizada em momentos festivos e embalados por música italiana típica e dançarinos com roupas da época da colonização. A exceção ocorre em países como Portugal, onde a pisa à pé ou em máquinas (aqui pela impossibilidade de encontrar mão de obra) é realizada, inclusive em vinícolas de renome e em seus rótulos premiuns.
Para os turistas que não se incomodam em colher uvas de variedades menos nobre (as não viníferas), é possível realizar este programa perto de São Paulo, na região de São Roque. “A maior experiência, se pensarmos em volume, é a vinícola Goes. São eles quem mais faturam em enoturismo no Brasil”, afirma Fabris. A colheita de variedades viníferas acontece em várias vinícolas em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, como a Guatambu, em Dom Pedrito (RS), em datas específicas – antes de viajar, confira os dias de colheita no site das vinícolas ou das empresas que promovem estas atividades, como o Wine-locals.com ou o Giordaniturismo.com.br.
A previsão do tempo inclui na programação. Na gaúcha Luiz Argenta, por exemplo, a colheita acontece em dias de sol. Nos chuvosos, o visitante participa da inoculação das leveduras para o início da fermentação em tanques. Na Cristofoli, no Vale dos Vinhedos, há um piquenique nos vinhedos em dias de sol.
Ao visitar as vinícolas durante a safra, o turista consegue acompanhar a chegada das uvas e a sua prensagem, antes de começar a fermentação, ou provar vinhos que ainda não estão prontos para consumo e, assim, entender um pouco mais do trabalho do enólogo. Na gaúcha Don Giovanni, o programa prevê a degustação do vinho base para espumantes direto dos tanques de fermentação. O vinho base é aquele que, depois do blend, seguirá para uma segunda fermentação, aquela que dará origem às borbulhas.
A visita aos vinhedos segue durante todo o ano, com refeições harmonizadas, degustações especiais e piqueniques – aqui, a Miolo Wine Garden é o mais conhecido. São sempre bons programas, mas sem o encanto das uvas amadurecendo nos vinhedos.