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Le Vin Filosofia

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A volta às origens de Paul Hobbs?

Enólogo badalado, Hobbs também elabora brancos com a uva riesling no Estado de Nova York, sua terra natal

No Brasil, o enólogo americano Paul Hobbs é sinônimo de vinhos com altas pontuações, com os seus argentinos da Viña Cobos e os californianos que levam o seu nome, por aqui importados pela Grand Cru. Os mais aficionados lembram também da sua importância no início da Catena – em uma viagem para o Chile nos anos 1990, Nicolás Catena o convenceu a cruzar a Cordilheira dos Andes e conhecer o seu projeto ainda incipiente. Depois de se encantar com as curvas da estrada que cruza esse enorme conjunto de montanhas, ele se tornou um enólogo chave no início da revolução do vinho argentino.

Mas são poucos os que conhecem o projeto, digamos, de volta às origens de Paul Hobbs. Se a vida profissional o tornou um flying winemaker, aqueles enólogos que viajam o mundo elaborando brancos e tintos, a família o convenceu a ter um vinhedo em sua região natal. Hobbs não é californiano, ao contrário do que muitos associam, mas natural de Buffalo, no norte do estado de Nova York, não muito distante da região de Finger Lakes, onde ficam as vinícolas nova-iorquinas. Ele vem de uma família de fazendeiros, com foco no cultivo de maçãs. “David, o irmão caçula de Paul, o convenceu a ter um vinhedo por aqui”, conta Lynne Fahy, a enóloga responsável pelo projeto.

PROCURA-SE UM VINHEDO

Por mais de dois anos eles procuraram um local para as vinhas até que compraram uma propriedade em 2013. Era um vinhedo abandonado, que havia sido cultivado com variedades de uvas não viníferas. Mas para os irmãos Hobbs o que valia era o clima e as inclinações do terreno com muita semelhança com o Mosel, uma das regiões alemãs referência pelos vinhos riesling. Batizaram o projeto de Hillick & Hobbs, que são os sobrenomes de solteiro de seus pais, Joan Hillick and Edward Hobbs. No início, chegaram até a ter um sócio alemão.

Vista área dos vinhedos de riesling e do lago Seneca, no Estado de Nova York Foto: Hillick & Hobbs

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A área escolhida fica na beira do Seneca, o maior entre os lagos que marcam a paisagem local e que, pelo seu volume de água, nunca congela. Isso cria um microclima especial para os vinhedos, com uma “proteção” das temperaturas, e tem uma importante corrente de ar, que ajuda a ventilar as plantas e evita o aparecimento de fungos – por filosofia, a vinícola não usa herbicidas.

MUDANÇAS NO PLANTIO

E ousaram no plantio das vinhas, em um terreno que mescla ardósia rochosa com xisto. Primeiro, decidiram pela alta densidade, termo técnico que indica um maior número de vinhas por hectares (são 4.480), enquanto a maioria das vinícolas locais opta por um maior espaçamento entre as plantas. A técnica cria uma maior competição entre as vinhas, que precisam procurar nutrientes no subsolo mais profundo. O segundo ponto foi a orientação das plantas, cultivadas em fileiras no sentido leste para oeste, enquanto na região a prática é orientação norte sul. Hobbs optou por uma orientação que lhe permite obter maiores benefícios da exposição solar no amadurecimento das uvas.

“Além disso, a decisão foi focar em uma única variedade, a riesling”, destaca Lynne. O resultado é que, mesmo ainda no início, o projeto é visto como capaz de competir com os rieslings europeus e traz uma enologia mais moderna à Finger Lakes. Atualmente são 10 hectares plantados, em uma área total de 31 hectares.

O vinhedo de riesling, projeto de Paul Hobbs, em Finger Lakes, e que fica em frente ao lago Seneca Foto: Hillick & Hobbs

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AS PRIMEIRAS SAFRAS

Nas primeiras safras, cada uma se revela em um estilo próprio, diferente entre si. “Nenhum ano é igual”, resume a enóloga. O vinho da safra de 2019 lembra muito um riesling alemão, com notas que remetem a petróleo, cítrico e uma bela e agradável acidez. Já o 2020, que foi um ano de clima mais úmido, é um vinho mais óbvio, com notas de frutas como pêssegos e nectarinas e maracujá. O 2021 traz as mesmas notas frutadas do 2020, mas um toque mineral bem agradável. Por enquanto, são riesling secos, com acidez nítida, mineralidade persistente e um final longo. E pequena produção.

O grupo Víssimo, que inclui a Grand Cru, estuda importar os vinhos quando o projeto estiver mais consolidado. Agora é esperar.

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