O ano de 2023 não foi exatamente bom para o mercado de vinhos, se analisarmos apenas os dados macroeconômicos. Com o varejo ainda estocado desde 2022, depois dos recordes de consumo de 2020 e de 2021, a estimativa é que a soma da importação de brancos e tintos com o total vendido pelas vinícolas brasileiras retraia entre 6% e 8% neste ano, em comparação com o anterior.
Esses são os cálculos da Ideal BI Consulting, que acompanha tanto os números de importação e exportação de vinhos como a venda das vinícolas brasileiras. Mas Felipe Galtaroça, CEO da consultoria, está otimista com 2024: “a boa notícia é que, com estoques menores, o varejo deve voltar às compras no primeiro semestre, principalmente para se abastecer para os vinhos de inverno”, afirma ele.
Premiunização
O otimismo aparece também – e principalmente – na comercialização dos rótulos mais caros. A retração das vendas se concentrou em garrafas que custam, para o consumidor final, até R$ 60, mas que representam 70% do mercado. Acima desta faixa, há um aumento de consumo, que deve seguir forte em 2024, pelas estimativas da Ideal. “Podemos falar em uma premiunização, com a venda crescente dos vinhos de maior valor unitário”, diz Galtaroça. Um exemplo é que os rótulos com preços acima de R$ 120 representam 7% do volume importado, mas equivalem a 25% do valor.
Nos estilos, o maior aumento deve vir dos vinhos brancos, principalmente dos rótulos com valores acima dos R$ 200. “O mercado brasileiro é cada vez mais atrativo”, afirmou Joséfa Perret, gerente de exportação da Louis Latour e da Simonnet-Febvre, em passagem pelo Brasil no final do ano. Chablis, um ícone francês, puxa essa tendência. Mas não é o único: a albarinho portuguesa (chamada de albariño na Espanha e nos países de língua espanhola) também vem atraindo o consumidor, assim como uvas mais aromáticas, como viognier, originária do Rhône.
Borbulhas em alta
Os espumantes, nacionais e importados, seguem em alta e assim devem se manter no ano que vem. O mercado mundial das borbulhas foi estimado em US$ 36,7 bilhões em 2022, pela consultoria norte-americana IMARC Group, deve chegar a US$ 55,4 bilhões em 2028. Não é pouca coisa.
O consultor Rodrigo Lanari, que representa a consultoria Wine Intelligence no Brasil, explica que o aumento de procura dos espumantes é acompanhado pela demanda por vinhos mais leves, seja dos brancos ou naqueles tintos com poucos taninos. Só há uma incógnita sobre os rosados: alguns dados mostram que a categoria tende a se estabilizar no patamar atual. “É o impacto das mudanças climáticas e do consumidor também procurando vinhos mais leves, com menos álcool”, diz ele.
Uma tendência que é mais forte na Europa e ainda não chegou por aqui é dos vinhos sem álcool ou do consumo com moderação. “No Brasil, percebemos apenas a procura por vinhos com menor teor alcoólico, como os vinhos verdes”, afirma Lanari.
Mudança etária
O que aparece na última pesquisa Wine Landscapes, da IWSR, destaca Lanari, é uma mudança na faixa etária dos consumidores de vinho. A porcentagem de pessoas entre 55 e 64 anos que consomem vinho regularmente passou de 14% em 2019 para 18% em 2023. Ao mesmo tempo, há uma redução na porcentagem de brasileiros com idade de até 34 anos que provam vinho com regularidade. É uma tendência para prestar atenção.
Por fim, Galtaroça, da Ideal, destaca a maior procura dos brasileiros pelos rótulos franceses e também pelos portugueses. Atualmente, o mercado de vinhos importados é liderado pelo Chile, seguido pela Argentina e, em terceiro, por Portugal. E ele vê a possibilidade de Portugal superar a Argentina em 2024. A conferir.