Só as características de clima, principalmente, e solo da Alemanha já justificariam pensar nos vinhos deste país nestes tempos de calor absoluto. Regiões de clima frio, e a Alemanha é uma delas, tendem a elaborar brancos mais frescos e tintos pouco concentrados e sempre com menor teor alcoólico. Na tentativa de refrescar, os vinhos desde país, que é o 9º maior produtor do mundo (o Brasil está na 14ª posição pelos dados da OIV, a organização internacional da Uva e do Vinho), revelam também a mudança de patamar na sua produção nas poucas garrafas que desembarcam no Brasil.
Responsável por 0,1% das importações brasileiras em volume e por 0,2% em valor, pelos dados da consultoria Ideal BI, a Alemanha é pouco conhecida dos brasileiros. Mas é um país de uvas brancas – quase 70% dos vinhedos são cultivados com variedades como riesling, pinot blanc ou müller-thurgau –, e que foca muito em questões de sustentabilidade. Mais: deixou para trás a imagem ligada aos “vinhos da garrafa azul”, de baixíssima qualidade, que invadiu o Brasil décadas atrás, e vem surpreendendo na qualidade de seus brancos e tintos, inclusive aqueles elaborados com a pinot noir, lá chamada de spätburgunder.

POUCAS IMPORTADORAS
É um movimento acompanhado por ainda poucas importadoras brasileiras, em geral empresas pequenas e focadas em nichos – o preço de trazer os vinhos alemães para cá também explica esta baixa oferta.
Recentemente o produtor Egon Muller, um dos grandes nomes do vinho alemão, passou por aqui e mostrou os seus riesling, principalmente, para os clientes da importadora Cellar.
Marcio Morelli, dono da importadora da Cave Léman, decidiu apostar nos rótulos do país e hoje 7 dos seus 24 produtores são alemães (a França predomina no portfolio, com 12 produtores). Na seleção de Moretti, chama atenção o garimpo dos produtores. De Baden, uma das 13 regiões vinícolas do país, ele optou por produtores de “alma” francesa, aliás, borgonhesa. São viticultores influenciados pela filosofia de viticultura da Borgonha, vários, inclusive com formação em Beaune, a capital dos vinhos desta região francesa. “São produtores que focam muito no terroir, por influência da Borgonha”, conta Moretti.
PINOT NOIR
O resultado são vinhos alemães elaborados com a chardonnay, nos brancos, e com a pinot noir, nos tintos, que vem a somar aos rótulos elaborados com as variedades alemães. A pinot noir, em um estilo mais austero e complexo, é um dos destaques deste novo mapa alemão. Caprichosa como poucas, a pinot noir tem uma tipicidade na Borgonha que não é fácil encontrar em outras regiões do mundo, com raras exceções, e a Alemanha vem chegando perto.
Do portfolio da Cave Léman, um dos exemplos nesta direção são os rótulos dos produtores Martin Wassmer e da Weingut von der Mark. Este segundo um projeto de Jürgen von der Mark, que foi o primeiro master of wine alemão, e com grande foco no terroir. “São vinhos com um custo menos do que os grandes pinot franceses”, defendo o importador, o que não significa, exatamente, vinhos baratos, porém abaixo dos grandes pinot franceses. O complexo Schlatter Maltesergarten Pinot Noir GC 2020, por exemplo, é comercializado por R$ 887.
UMA FEIRA PARA A RIESLING
A Alemanha é também a terra da riesling, a variedade branca preferida pelos especialistas e nem sempre bem compreendida pelos consumidores. Resulta em vinhos longevos, complexos, em estilos que vão do seco ao doce. No portfolio da Cave Léman, um dos destaques são os rótulos do produtor Immich-Batterieberg, vinícola fundada no ano de 980, no Mosel, e que desde 2009 ao enólogo Gernot Kollmann e mais dois sócios investidores. Há riesling de várias propostas a começar pelo moderno Detonation Riesling 2022, por R$ 312.
Conhecer a riesling é também a proposta da importadora Weinkeller, que promove a partir de 10 de março a “Semana do Riesling Alemão”, em São Paulo. Vivian Kelber, sócia da importadora, diz que a ideia é que os consumidores possam provar riesling de origens e propostas diversas e com preços a partir de R$ 150 a garrafa. “A ideia é degustar vinhos de regiões, solos e microclimas diferentes e ver como a riesling se comporta”, afirma ela.
Informações sobre a Semana do Riesling Alemão em www.weinkeller.com.br.