Ops! Os dados de agosto acenderam uma luz amarela no mercado de vinhos. Pela primeira vez desde o início da quarentena, houve uma retração significativa no consumo neste mês na comparação com o anterior. Os dados da consultoria Ideal apontam para uma queda de 21% na comercialização dos vinhos em agosto na comparação com julho.
No acumulado de 2020, no entanto, os dados são de crescimento: o aumento das vendas de vinho subiu 37% no período de janeiro a agosto de 2020 contra igual período de 2019.
Ainda é cedo para saber se este número indica uma tendência ou é um fato isolado, aquele ponto fora da curva que apenas confunde os analistas. Por enquanto só se pode afirmar que esta retração retração coincide com a redução do número de pessoas que realmente estão em casa, seguindo a quarentena.
E há uma ressalva: não há no Brasil (e em vários países do mundo) um instituto que consiga medir o real consumo de vinho de seus cidadãos. O dado se baseia na soma entre as vendas das vinícolas brasileiras para o seu varejo e nos dados da importação de garrafas. Convencionou-se considerar que a soma destas duas informações é o consumo de vinho, apesar de saber que há também o estoque das importadoras e do varejo, que não tem como ser medido.
Com a ressalva feita, o fato é que esta redução do consumo permite refletir um pouco sobre o nosso mercado. O primeiro ponto é por qual razão o vinho se tornou a bebida da quarentena? Eu arrisco dizer que é em parte pela sua vocação gastronômica, em parte por ser uma bebida que pede companhia, que acompanha um livro ou uma série, e também porque ficou fácil comprar uma garrafa neste período. Se antes havia resistência às aquisições online, esta barreira foi quebrada na longa quarentena.
Além disso, aumentou muito a quantidade de informações sobre brancos e tintos facilmente disponibilizadas em plataformas online. Lives, degustações, aulas, entrevistas, canais no You Tube...
Há outras hipóteses possíveis, como o fato de as garrafas compradas para consumo doméstico, seja em supermercados ou em e-commerce, são mais acessíveis do que nos restaurantes, o que incentiva o seu consumo. Ou que em casa não há as restrições da Lei Seca, que poderia afugentar os consumidores dos vinhos quando fora de casa. Ou que em casa cada um bebe o que gosta (ou que pode e quer pagar) e não aquele rótulo escolhido para impressionar na mesa do restaurante.
São várias as hipóteses e elas são complementares. Mas o fato é que o período de quarentena mostrou um potencial para o consumo do vinho, aponta Felipe Galtaroça, sócio da Ideal Consulting. Afinal, desde março, assistimos ao crescimento dos rótulos mais baratos, principalmente, os tais chamados de custos-benefícios.
Estes seis meses também mostraram a propensão dos brasileiros a provarem os vinhos elaborados no nosso país – foi o consumo do produto local, inclusive aquele chamado de vinho de mesa, feito com variedades não viníferas, que puxou o crescimento do mercado. A desvalorização do real frente ao dólar, ainda, multiplicou o valor dos importados e favoreceu a procura pelos rótulos nacionais.
O desafio agora é fazer com que o consumo cresça também fora de casa e que o vinho não fique associado apenas à bebida para consumo doméstico. Porque potencial de consumo e público interessado, a quarentena já mostrou que o vinho tem.