A ideia é, no mínimo, inusitada. Servir vinhos como se fosse um chope, tirado das torneiras do barril, já na temperatura correta. O projeto começou a ser testado nesta semana em duas casas de São Paulo, a pizzaria Carlos e na filial dos Jardins do restaurante Le Jazz. “Muitos clientes pediram primeiro por curiosidade, depois porque gostaram”, conta Luciano Nardelli, um dos sócios da pizzaria.
O vinho na pressão é a segunda etapa de uma parceria entre o empreendedor argentino Ariel Kogan, que trabalha com importação e comercialização de vinhos por aqui, e a sommelière brasileira Gabriela Monteleone, do grupo D.O.M. Batizado de “Tão longe, tão perto”, o trabalho da dupla começou como uma série de palestras com degustação, sempre com a presença de produtores, e agora cresceu com o projeto de incentivar a venda de vinhos brasileiros de pequenos produtores, de uma maneira descontraída, em barris de chope.
O primeiro vinho do barril é elaborado apenas com a variedade cabernet sauvignon pelo produtor gaúcho Ivan Tisatto, em Caxias do Sul (RS). Com experiência em cervejas, Tisatto engarrafou o tinto, que não tem passagem por barricas de carvalho, em barris de inox de 20 litros. O vinho foi despachado para São Paulo, com ajuda do produtor Gustavo Borges, da vinícola Bellaquinta, de São Roque (SP), outro facilitador do projeto – a Bellaquinta elabora alguns dos rótulos que Gabriela seleciona para o Dalva e Dito, o restaurante de comida brasileira de Alex Atala. “Além de valorizar o vinho nacional, os barris são retornáveis, como o do chope, evitando o desperdício de garrafas”, explica Nardelli. No final de semana, ele se aventurou a preparar uma sangria com o vinho e garante que ficou muito bom.
“O vinho é gostoso, leve, fácil de beber”, conta Gil Carvalhosa Leite, sócio do Le Jazz. Conforme a aceitação dos clientes, Leite pensa em colocar o tinto como vinho da casa nas quatro unidades deste bistrô. “Só precisamos avaliar o preconceito, que ainda existe, com o vinho brasileiro”, diz ele. No Le Jazz, o decanter de 500 ml é vendido por R$ 56, e o vinho sai direto do barril, sem passar pela serpentina, para a taça do cliente. Na Carlos, a jarra de 250 ml é vendida por R$ 19, e o vinho é servido no balcão, em uma das três serpentinas de chope. “Provavelmente pelo teor alcoólico, que é mais alto, o vinho não fica muito gelado na serpentina e chega à mesa na temperatura ideal”, diz Nardelli.
Kogan conta que a ideia é também criar uma opção para os pequenos produtores venderem seus vinhos nas grandes cidades (não está nos planos da dupla, mas uma importação seria impossível porque a legislação brasileira impede trazer do exterior vinhos a granel). O formato prevê a compra de lotes de diversos vinhateiros nacionais. “Vamos em breve para o sul selecionar novos produtores”, conta. A dupla já fez acordo com produtores que detém a tecnologia de engarrafar em barris de inox. Estes barris, diz Kogan, evitam o contato do vinho com o oxigênio, o que permite que os aromas e sabores se mantenham por até três meses.
Além do tinto, a dupla Gabriela e Kogan planeja lançar um rosé na pressão e, talvez, um branco, até o final deste ano. O exemplo mostra uma abertura para novas formas de consumo, do vinho em lata, em embalagem tetrapack e, agora, em barris de chope. É um dos caminhos para popularizar a bebida e, neste projeto, fugir da alta de preços das garrafas importadas causada pela forte desvalorização do real frente ao dólar.