Dias frios pedem vinho tinto? Sim, essa máxima é verdadeira aqui no Brasil. Para alegria dos importadores e dos lojistas, os consumidores se animam a provar um tinto com a queda de temperatura, o que começa a acontecer agora, tardiamente, na região Sudeste. É o teor alcoólico da bebida, que traz uma sensação de calor ao corpo, e os taninos, que pedem uma receita mais substanciosa de acompanhamento, que explicam a preferência pelos tintos nessa estação.
BRANCOS DE INVERNO
Mas não são todos os tintos e, também não são apenas os tintos que combinam com a estação. Lembro de uma das minhas primeiras viagens de vinhos para a Itália, no início dos anos 2000. Fazia bastante frio na região de Valpolicella e o produtor Sérgio Zenato (já falecido) me ofereceu um lugana, vinho branco do Lago di Garda, hoje importado pela World Wine, para acompanhar o jantar. Confesso que estranhei, mas foi a primeira vez que um produtor me chamou atenção para os brancos no inverno e, mais, defendeu o seu consumo.
Para quem gosta de brancos com baixas temperaturas, hoje não iria para esse estilo de vinho, que é mais fresco. Dias frios pedem brancos mais encorpados, aqueles elaborados com passagem em barricas de carvalho e maior teor alcoólico – muitos chardonnays da Argentina têm esse perfil, assim como os brancos de Rioja. Se a ideia for prestigiar os vinhos gaúchos, um deles é o Gran Chardonnay DO, que amadurece 12 meses em barricas e foudres de carvalho e tem 14% de álcool (R$ 179, no Famigliavalduga.com.br).
Também nem todos os tintos casam com o frio. Aqueles mais leves e menos alcoólicos não combinam com a estação. Fuja da maioria dos pinot noir, dos gamays e dolcetos, por exemplo. São tintos de corpo leve, que combinam mais com a meia estação e alguns até com os dias quentes (lembrando que sempre tem exceções).
GOLES ENCORPADOS
Mas tenha os portugueses tourigas nacionais e alicante bouschet, os onipresentes cabernet sauvignon e os tannats como boas opções, na enorme variedade de uvas tintas. Recentemente o produtor italiano Luigi Coppo, do Piemonte, esteve no Brasil, mostrando os seus barberas, e contou que um dos seus desafios é reduzir o teor alcoólico do vinho, que supera os 15%. A causa, aqui, são as mudanças climáticas, que ele vem registrando no vinhedo. Na taça, o tinto é equilibrado e não se sente o álcool no paladar, mas o vinho “esquenta” na boca.
Outro exemplo são os tintos do Priorato, na Espanha, que começam a ser divulgados no Brasil, em uma parceria entre a agência Prodeca, de promoção local, e a importadora Mistral. Um exemplo é o Vilosell 2017, do produtor Tomàs Cusine (R$ 210, na Mistral). É um tinto que aquece.
SEMPRE MALBEC
Os malbecs argentinos também entram nessa vasta lista. Mesmo com a tendência de tintos mais elegantes e não tão alcoólicos, é uma uva que aquece neste inverno e que combina com uma boa carne. Dos diversos exemplos disponíveis, cito o produtor Alberto Arizu, da vinícola Luigi Bosca, que passou pelo Brasil na semana passada para promover a DOC Luján de Cuyo – lá, assim como aqui, há movimentos de produtores para valorizar as denominações de origem. E o Malbec DOC De Sangre 2021 (R$ 275,90, na Decanter.com.br) combina bem com o inverno. Mas há também o rótulo mais simples, o Malbec Luigi Bosca, por R$ 157, que combina com a estação