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Le Vin Filosofia

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O que as ovelhas podem dizer sobre os vinhos da Georgia?

Soltar animais nos vinhedos é uma prática recuperada cada vez mais comum em vinícolas menos intervencionistas

Antes de soltar 850 ovelhas nos 50 hectares de vinhedos da vinícola Miguel Torres, em Curicó, no sul do Chile, o enólogo Eduardo Jordan estudou sobre o hábito alimentar destes animais, incluindo a quantidade e a velocidade com que comem. Sua ideia era garantir o tempo preciso que elas levariam para devorar todas as graminhas e afins antes de começar o período da brotação das vinhas. Asseguraria, assim, que as ervas daninhas não atrapalhassem o crescimento das uvas, além de fazer o controle de certas pragas, que são saboreadas pelas ovelhas.

Com a informação de que cada ovelha come 1,5 quilo de matéria seca por dia, como é chamada a vegetação que cresce entre as vinhas, elas foram separadas em vinhedos de 3 hectares e ficavam 5 dias nestas vinhas, antes de mudar para o próximo lote de 3 hectares. O plano deu certo. Soltar animais nas vinhas é uma prática recuperada da antiga maneira de cultivar vinhedos e que vem se tornando cada vez mais comum em vinícolas que seguem uma agricultura menos intervencionista, como a orgânica, a biodinâmica e a sustentável. Gansos, galinhas e até porcos são usados no combate dos micro-organismos que decidem viver entre uma vinha e outra, prejudicando a sanidade da planta. Substituem com qualidade os produtos químicos, que traz outra filosofia de acabar com estas pragas.

Programa de agricultura regenerativa da vinícola chilena Miguel Torres inclui soltar ovelhas para se alimentarem nos vinhedos. Foto: Regis Duvignau/Reuters

Mas o plano de Jordan, que integra o programa de agricultura regenerativa desta vinícola espanhola e com uma filial no Chile, chama a atenção pela precisão que estas ações estão ganhando, além de refletir na qualidade de seus vinhos chilenos, importados pela Qualimpor. “Nossa ideia é dar vida ao solo. No futuro, o próprio solo vai de auto-fertilizar”, resume Jordan. O interesse – ou seria a necessidade – de ser eficiente nestas práticas vem ganhando destaque na paisagem dos vinhedos, como exemplificam os corredores biológicos, em que uma fauna e flora agora dividem espaço na paisagem da antiga monocultura dos vinhedos.

O fenômeno não é restrito ao Chile ou a Espanha, e chega até a Georgia, onde a história dos brancos e tintos começou cerca de 8 mil anos atrás. Ao longo dos séculos, o país soube preservar a sua técnica de elaborar vinhos – as ânforas (potes) de terracota enterradas surgiram na região, mesmo atualmente sendo mais conhecidas na Itália, pelo trabalho de Josko Gravner, no Friuli, do que em sua terra de origem, por mais que o italiano sempre se refira aos ensinamentos georgiano.

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Neste resgate histórico, há desde a dificuldade de encontrar quem saiba elaborar as ânforas de barro até descobrir quais eram as uvas locais e como elas eram cultivadas. Um exemplo é que se estima que na Georgia havia mais de 500 variedades autóctones de uvas, que desapareceram ao longo do tempo. Sua recuperação ocorre também pelas mãos de viticultores que acreditam nas práticas mais naturais. Um exemplo é o tinto Polifhonia, da vinícola Pheasant’s Tears, elaborado com 200 variedades de uvas. “Esta é a quantidade de plantas diferentes que já foram identificadas no vinhedo”, explica Léo Reis, sommelier da Enoteca Saint Vin Saint, em São Paulo.

As uvas são colhidas e vinificadas todas juntas, neste que é um dos três primeiros rótulos georgianos elaborados de maneira natural (sem intervenção ou uso de químicos) a chegar no Brasil. Os outros dois são brancos, também de variedades autóctones locais e todos são elaborados com macerações (o período de contato da uva com a casca e o engaço) longas, em geral de nove meses. São trazidos para cá pela Europa Importadora. 

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