Qual é o vinho do panetone? O frisante moscato d’asti é a principal recomendação, segundo os guias de harmonização. Elaborado com a uva moscatel, na região de Asti, no Piemonte, este vinho italiano de pouco teor alcóolico, aromático e com uma doçura, digamos, refrescante acompanha a clássica sobremesa de Natal. Mas seria o único casamento gastronômico, ainda mais quando lembramos que, heresia ou não, o chocotone também pode ter um vinho para chamar de seu?
A melhor resposta vem com a prova prática. Lado a lado estavam dois panetones, o de frutas, da Padaria Tujuína, que venceu a a grande degustação de 2021 do Paladar, e o chocotone campeão, elaborado pela Iza e que tem toques cítricos em sua receita, degustados na companhia de seis vinhos.
Os escolhidos foram um espumante moscatel, um moscato d’asti, um espumante rosé demi-sec; um vinho de colheita tardia e dos vinhos do Porto, um da categoria Ruby, de notas de frutas vermelhas mais marcados, e o Tawny 10 anos, que remete às frutas secas.
Os seis vinhos foram escolhidos a partir do princípio básico da harmonização gastronômica na qual a doçura da bebida deve ser sempre igual ou maior a do doce. Ao contrário, quando a doçura da bebida é menor do que a da comida, o doce passa por cima do vinho, que fica aguado e quase desaparece no paladar. Para testar, basta servir um espumante brut, mais seco, com os bolos de casamento – aqui a sensação é que a bebida vira quase uma água levemente gasosa, pode apostar.
“Com o panetone, normalmente macio e não muito doce, a melhor harmonização é por semelhança, de aromas e texturas”, afirma o especialista José Maria Santana, co-autor do livro Comida e vinho: harmonização essencial. Confira o resultado.
Espumante Casa Pedrucci Moscatel
R$ 54, na Connect Vinhos
Com poucas borbulhas e as notas típicas de moscatel, dos aromas florais e da própria fruta, é um moscatel bem gostoso, leve, com pequena sensação de doçura no paladar. Mas para harmonizar com o panetone precisaria de um vinho com um pouco mais de corpo; já que o doce passa por cima do vinho. Com o chocotone, os dois vão em direções contrárias.
Moscato d’Asti Moncalvina 2018
R$ 273,46, na Mistral
O frisante do italiano Paolo Coppo, elaborado com a moscato bianco di Canelli, traz agradáveis notas de damasco e pêssegos e de frutas frescas, corpo leve e acidez e álcool baixos e certo dulçor. Foi uma grata surpresa com o panetone, com os dois combinando no paladar. Com o chocotone, o vinho perde a sua delicadeza, mas o toque cítrico faz uma leve ligação entre os dois.
Espumante Victoria Geisse Moscato Rosé Demi-sec
R$ 115,90, na Grand Cru
De cor salmão, traz notas de frutas vermelhas, tem corpo leve, boa cremosidade e certo amargor final. Masfaltou estrutura para o espumante frente aos dois panetones, e as suas notas de frutas vermelhas deixaram um sabor cansado no paladar.
Terrazas Petit Manseng Single Vineyard 2016
R$ 220, na LVMH
A variedade francesa dá origem a este vinho argentino de colheita tardia, com notas de frutas em compota (lembra doce de abobora com coco), boa cremosidade e frescor. O panetone destacou o frescor do vinho e as duas texturas, da comida e da bebida, combinaram. Com o chocotone, o chocolate da receita encobre o vinho.
Porto Cerimony Ruby
R$ 81 , na Adega Alentejana
Típico Porto da linha de entrada da categoria ruby, com notas intensas de frutas vermelhas, e toque floral, boa acidez e doçura, equilibrado com o seu teor alcoólico mais alto. O vinho se sobrepõe ao panetone. Com o chocotone, os dois ensaiam um encontro, que quase acontece, mas não compromete. Iria melhor se a receita tivesse recheio de frutas vermelhas para fazer a ligação.
Porto Tawny Martha’s 10 anos
R$ 312, na Lusitano
Com aromas de amêndoas, frutas secas e caramelos, este Porto traz o estilo de um Tawny 10 anos, com boa cremosidade e álcool presente. Combina com o panetone, mas sem o encantamento do moscato d’asti. E casa com o chocotone, lembrando aqui que esta receita tem menos chocolate; deixando um textura gostosa no paladar.