Ainda é muito cedo para saber o impacto das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no setor do vinho. Há uma estimativa, ainda inicial e nos cálculos da Emater, de que mais de 250 hectares de vinhedos foram perdidos, mas nem é possível ainda confirmar esse número (há vinhas ainda inacessíveis) e, menos ainda, pensar em como replantá-los. Neste momento, interessa mais saber que muitas vinícolas gaúchas trabalham com água potável e que podem envazá-la e distribuir as garrafas para cidades vizinhas, como faz a campanha liderada pelo enólogo Luís Henrique Zanini, das vinícolas Era dos Ventos e Vallontano.
PRIMEIRAS CAMPANHAS
Nestas primeiras semanas, é hora de focar nas ações de solidariedade, que vem sendo um importante contraponto frente a todas as notícias dessa tragédia. No próprio dia da enchente, o produtor Adolfo Lona foi um dos primeiros a criar a sua campanha – toda a arrecadação com o seu vinho merlot, vendido pelo site, foi doada para as vítimas das enchentes. As garrafas foram vendidas no mesmo dia.
Agora, neste final de semana, 40 produtores do vinho da região de Pinhal, na fronteira de São Paulo e Minas Gerais, estão lançando a campanha Wine for Sul, que vai vender grãos de café, vinhos, hidromel e suco de uva em suas áreas de enoturismo para arrecadar dinheiro para as vítimas da enchente. Esperam que o movimento, que tende a ser recorde pelas comemorações do Dia das Mães, ajude na campanha.
Membro desse grupo, o produtor Murilo Regina, o criador da técnica de poda invertida (que garante a colheita no inverno, que dá certo no Sudeste), já se prontificou em doar mudas da sua empresa Vitácea, quando for o momento de replantar as vinhas.
#COMPREVINHOGAUCHO
Também cresce a campanha de várias vinícolas e pessoas ligadas ao setor, como o site Brasil de Vinhos, para que os consumidores comprem vinhos gaúchos – é a #comprevinhogaucho. Fortemente atingida pelas águas, a serra gaúcha foi a responsável por mais de 80% dos vinhos brasileiros na safra de 2023.
Para escolher que vinhos comprar, um caminho pode ser a vocação da região: a Serra Gaúcha é conhecida pelos seus espumantes e também pelos tintos que têm a merlot como uva principal. Há inclusive uma denominação de origem (DO) apenas de espumante, a Altos de Pinto Bandeira. Geisse, Don Giovanni, Valmarino e Aurora são os produtores certificados. Para ficar em um exemplo, o Cave Amadeu Brut, o rótulo de entrada de linha da Geisse, é vendido por R$ 95,30 no Familiageisse.com.br. Mas há diversos outros produtores fora da doc de espumantes que elaboram borbulhas de qualidade.
MERLOT E CHARDONNAY
O Vale dos Vinhedos tem também uma DO de vinhos tranquilos (sem borbulhas), em que os tintos precisam ter como majoritária a uva merlot e os brancos, a chardonnay, além de espumantes elaborados pelo método tradicional (com segunda fermentação na garrafa). A Pizzato tem o Merlot Reserva D.O.V.V, por R$ 129 no seu site Pizzato.net. “Tivemos alguns desmoronamentos no vinhedo, mas é nada frente ao redor. O momento agora é salvar vidas”, afirma Jane Pizzato.
Há, ainda, alguns sites focados na venda de vinhos brasileiros em campanhas. O maior deles é o Vinhos & Vinhos (vinhosevinhos.com), que conseguiu a doação 2 mil garrafas dos produtores e está vendendo cada uma por R$ 100. Toda a verba será doada para a região.
Na campanha da loja Alvino, também especializada em rótulos brasileiros, 30% do valor arrecadado com a venda dos vinhos Conatus até o final de maio serão doados para as vítimas das enchentes. Diversas importadoras sediadas no Sudeste também estão criando campanhas na qual parte da venda de vinhos é revertida para alguma associação de ajuda aos gaúchos. E campanhas semelhantes não param de serem criadas e compartilhadas pelas redes sociais.