No último sábado, 15 de março, 370 pessoas, sendo 250 brasileiros, participaram da festa da vindima da Bodegas Garzón, no pequeno vilarejo de Garzón, no Uruguai. Por um programa de seis horas, que incluía colheita de uva e almoço preparado pelo chef Francis Mallmann, um dos grandes especialistas em carnes da atualidade, os presentes desembolsaram o equivalente a US$ 400. Os vinhos premiuns da vinícola uruguaia eram servidos à vontade, alguns em garrafas magnum (de 1,5 litro), no almoço em uma praça pública do vilarejo. As garrafas eram geladas no chafariz da praça, que foi transformado em um enorme balde de gelo. A música, animada, foi uma atração a parte.
A festa no Chile

No próximo dia 3 de maio, uma experiência semelhante acontecerá na vinícola Vik, no vale do Cachapoal, no Chile. Por um valor de R$ 2.850, que não inclui transporte ou hospedagem, 200 pessoas vão desfrutar de um programa com muito vinho e as tais experiência nesta vinícola, que foi eleita a segunda melhor do mundo, pela premiação World’s Best Vineyards. O programa, desenvolvido sob medida em parceria com a Wine Locais, a mesma empresa brasileira que comercializa o evento da Garzón, está dividida em quatro atos. “Esperamos que 70% dos presentes sejam brasileiros”, informa Diego Fabris, sócio da Wine Locals.
O primeiro ato acontece nos vinhedos, quando o enólogo Cristián Vallejo vai apresentar os conceitos de barroir (uso de carvalhos do vale para a tosta das barricas), de amphoir (uso de argila do solo local para ânforas) e de fleuroir (uso de flores do campo regionais para ampliar a gama de leveduras). No segundo ato, há a degustação dos rótulos desta vinícola boutique em seus jardins. No terceiro, agora um almoço também nos vinhedos, o menu criado pelos chefs Pablo Cáceres, da Vik Chile, e Santi Inzaurralde, da Vik Uruguai, será harmonizado com rótulos como o Vik 2021, que obteve 100 pontos do crítico James Suckling. No quarto e último ato, música e arte se unem em uma festa.
Foco no enoturismo

Os dois programas mostram, primeiro, que os brasileiros descobriram mesmo o enoturismo, em todas as faixas de preço. Um programa na Goes, vinícola em São Roque, de vinhos mais simples, até roteiros como piquenique nos vinhedos da Miolo, no coração do Vale dos Vinhedos, ou a visita na Guaspari, uma das estrelas da serra da Mantiqueira. Mostram, também a força das tais experiências. A Colheita ao Luar da Goes, por exemplo, acontece no final de julho, com colheita, claro, e jantar harmonizado, com preço por R$ 780 por pessoa.
No caso da Vik, a vinícola solicitou à Wine Locals um programa exclusivo, baseado no sucesso da festa da colheita da Garzón – este ano, inclusive, a vinícola uruguaia criou um segundo programa, um jantar de gala, no dia seguinte à festa da colheita, também com vinhos ícones e menu do Francis Mallmann, desta vez preparado na própria vinícola. A ideia foi oferecer uma outra experiência para aqueles que ficaram na lista de espera para a festa da colheita.
Os presentes, que desembolsaram o equivalente a US$ 500, foram surpreendidos com um brinde com o espumante elaborado para a inauguração da vinícola em 2016 e que, desde esta data as garrafas ficam em contato com as leveduras. O degorgement (retirada das leveduras) é feito quando há eventos especiais, como o jantar de gala. Enquanto isso, as leveduras vão deixando o espumante ainda mais complexo.
Reflexos da pandemia
A descoberta dos passeios ao ar livre é um efeito, principalmente, dos tempos de pandemia, quando era preciso encontrar programas em locais abertos. E jardins e vinhedos não faltam às vinícolas, em geral em paisagens impressionantes. Colher uva, apenas na festa, é uma diversão – colher a sério, selecionando os cachos, é uma atividade estressante e com muita dor nas costas e nas mãos.
Mas o maior ganho para as vinícolas é a associação com a sua marca, fidelizando o consumidor. Uma experiência no campo e com muito vinho esta faz o cliente se ligar com maior afinco aos rótulos degustados. A Garzón, vale destacar, está na sua sétima festa da colheita, e é a marca de vinhos mais vendida pela importadora World Wine, com vinhos entre R$ 134 (o Estate Sauvignon Blanc de Corte) e R$ 1.400 (o Balasto). Com estes números, não há dúvida da importância das chamadas experiências para as vinícolas.