A professora Magali Delmas, do Instituto de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), publicou neste início de ano uma interessante pesquisa em que mostra que os críticos internacionais dão notas mais altas para os vinhos orgânicos e biodinâmicos do que para os convencionais.
Para o estudo, foram comparadas 128 mil notas de vinhos franceses, divulgadas nas principais publicações especializadas do país. Os críticos deram notas 6,2% mais altas para os orgânicos na comparação com aqueles produzidos de maneira tradicional (leia-se, aqueles elaborados com agrotóxicos nos vinhedos e com a possível adição de ácidos, taninos e leveduras durante a fermentação na vinícola).
Os biodinâmicos – que, além de serem cultivados sem qualquer agrotóxico e de serem adubados com compostos naturais específicos, seguem também as influências cósmicas – tiveram pontuações ainda maiores. Suas notas, de acordo com a pesquisa, foram 11,8% acima do que os convencionais.
É o segundo estudo nessa linha de Magali Delmas, em parceria com outros pesquisadores. Em 2016, ela analisou 74 mil notas de vinhos californianos, dadas por Robert Parker e pelas revistas Wine Enthusiast e Wine Spectator. Aqui, os rótulos orgânicos tiveram notas 4,1% maiores do que os convencionais.
Atualmente, há bons rótulos orgânicos, biodinâmicos e convencionais no mercado, e não é fácil identificar como um vinho de qualidade foi elaborado nas provas às cegas (sem conhecer que amostra corresponde a cada taça). Há exceções, claro, como o Château Le Puy, um Bordeaux que destoa dos demais; ou o Coulée de Serrant, de Nicolas Joly, considerado o papa da filosofia biodinâmica nos vinhos.
“Com a experiência de degustação, tendemos a perceber mais a autenticidade dos vinhos. Os orgânicos e, principalmente, os biodinâmicos tendem a serem mais autênticos do que aqueles de perfil comercial e acabam recebendo notas mais altas”, afirma Keli Bergamo, coordenadora da escola The Wine School Brasil.
Esses vinhos, assim, têm notas mais altas não pelo fato de serem orgânicos ou biodinâmicos, mas por suas características de aromas e sabores, que são reconhecidas e valorizadas pelos degustadores. “São vinhos que trazem uma melhor impressão na taça”, acredita Keli.
Gianni Tartari, eleito duas vezes o melhor sommelier do Brasil e com mais de 30 anos de experiência na área, acredita que é o sulfito, substância adicionada para preservar a bebida, seja a explicação para essa diferença. “Vinhos com menos sulfito tendem a revelar mais as suas notas de frutas, são mais puros, com finesse”, afirma. Em vinhos comerciais, acrescenta ele, não raro o sulfito é utilizado em seu limite máximo, permitido pela legislação de cada país, o que compromete a apreciação da bebida. “São aqueles vinhos que, ao abrir a garrafa, vem um cheiro de enxofre e as notas de frutas são menos delicadas”, acrescenta ele.
Para complicar, mesmo com esse diferencial, muitos dos vinhos orgânicos e, principalmente, biodinâmicos não divulgam essa informação no rótulo. Ao consumidor curioso, cabe fazer diversas pesquisas para descobrir essa informação. O melhor exemplo talvez seja o Romanée-Conti, um Borgonha tinto que está entre os mais caros e cobiçados vinhos do mundo. Desde a década de 1990, que Albert de Villaine elabora o vinho seguindo a filosofia biodinâmica, mas não a divulga.