Equipo Navazos, assim mesmo, equipo, no masculino. Vale a pena ficar atento a este nome, que representa o trabalho da dupla de amigos Eduardo Ojeda, diretor-técnico do grupo Estevez, uma das grandes vinícolas de Jerez, e Jesús Barquín, um professor de criminologia especialista em vinhos desta região. Desde 2005, quando lançaram sua primeira “bota”, do amontillado Navazos, então em edição limitadíssima e vendida de forma privada, apenas para os amigos, eles vêm revolucionando o conceito de vinhos em Jerez de La Frontera, a região de brancos fortificados na Andaluzia, no sul da Espanha. E, desde o finzinho de 2023, seus vinhos começaram a chegar no Brasil, importados pela Cave Leman, e com preços a partir de R$ 172 (o Navazos Ovni Palomino Fino 2021).
O pulo do gato da dupla foi pensar no conceito de terroir, aquela palavra francesa que reúne microclima, solo e variedade, voltado não ao vinhedo, mas à vinícola. Explica-se: em Jerez, os vinhos elaborados na maioria das vezes com a uva palomino são fortificados e amadurecem por longos períodos em barricas de carvalho americano, chamadas de botas, em um sistema de soleiras e criadeiras. Da primeira criadeira até chegar a última soleira, o vinho vai passando de bota em bota. Em algumas, convive com o véu da flor, como é chamada a camada de levedura que se forma no interior da barrica, evitando a sua oxidação. Em outras, a flor não se forma e há aquelas em que a flor desaparece.
A percepção da dupla, neste processo, é que há botas melhores do que outras, conforme a vinícola, a localização da bota na sala de barricas, a temperatura e a ventilação do ambiente. Como um terroir próprio das vinícolas. Profundos conhecedores da região, Ojeda e Barquín passaram então a comprar estas botas e comercializá-las. No início, relutaram um tanto em crescer, no desejo de apenas vender para os amigos, mas acabaram cedendo para sorte dos consumidores que apreciam este vinho. A bota número 7 foi a primeira vendida ao público, com um fino de Macharnudo Alto, nome de um vinhedo local. Atualmente, estão na bota de número 123, como informa o seu site.
O interessante é que a procura pelo que consideram os melhores jerezes não se limitou às botas. Hoje eles têm ainda vinhos secos e não fortificados, que também indica uma tendência local, elaborados tanto com a palomino como com a pedro ximenez, variedade que dá origem aos jerezes com maior doçura. Mas aqui há uma controversa, já que a legislação determina que estes vinhos devem ter pelo menos 15% de teor alcoólico (é uma porcentagem alta quando em geral os brancos costumam ter entre 12% e 14% de álcool). No Equipo Navazos, seus brancos estão na linha OVNI.
A dupla elabora também espumantes, a Colet Navazos, e tem uma linha de vinhos com Dirk Niepoort, um enólogo português, na região dos vinhos do Porto, mas que também revoluciona o mundo de baco com as suas vinificações. A linha é chamada de Florpower e nasceu de ensaios com vinhos que têm a crianza biológica (ou seja, que tem o véu da levedura no seu amadurecimento nas barricas). É uma história para acompanhar.