Não basta ter vinhos espumantes na Alemanha ou na Espanha, os países de origem do grupo Henkell Freixenet. No DNA da empresa, que nasceu da união da alemã Henkell com a espanhola Freixenet em 2018, está o domínio total das borbulhas. O mais recente exemplo é a chegada do Freixenet French Royal, um espumante francês, que será lançado nesta próxima semana na ProWine, a feira de negócios do vinho, que acontece em São Paulo, apenas para profissionais do setor.
As borbulhas até poderiam ser utilizadas para brindar o crescimento da ProWine, que nasceu como uma aposta da também alemã ProWein, uma das mais importantes feiras de vinho mundiais (divide a liderança com a Wine Paris - Vinexpo, que acontece na França) no mercado brasileiro. Nesta edição, há um crescimento de 30% na área de exposição, com número recorde de produtores e enólogos. A estimativa dos organizadores é que mais de 1.200 marcas sejam apresentadas nos três dias do evento.
UM EM CADA DEZ
Escolhido para o brinde ou não, o novo espumante da Freixenet, nas versões brut branco e rosado, mostra porque um em cada dez espumantes abertos no mundo pertencem ao grupo. Só na França, são três estilos, além do French Royal, lançado agora por R$ 109,90, há um champanhe, o Alfred Gratien, maison fundada em 1864, que atualmente pertence ao grupo e que chegou recentemente ao Brasil, vendido por R$ 565.
E tem ainda um crémant, como são chamados os espumantes elaborados pelo método clássico fora da região de Champanhe, feito no Loire. Este espumante é elaborado pela Gratien em parceira um produtor local. O Gratien & Meyer (R$ 275), é elaborado com Chardonnay, chenin blanc e pinot noir, na versão brut branco e com pinot noir, chardonnay, chenin blanc e cabernet franc, no rosé.
DIVERSIFICAÇÃO
Na Espanha, o grupo é líder na elaboração de cavas – e a Freixenet, incluindo o Segura Viudas, elabora 80 milhões de garrafas por safra, o equivalente a um terço de toda a produção desta DO. Aqui, o carro chef é o cava Cordón Negro, que este ano ganhou nova embalagem para comemorar os 50 anos do seu lançamento.
Na Alemanha, tem a marca Henkell (R$ 65,90), e na Itália, são duas linhas de prosecco, o Mionetto (R$ 119,90) e o Freixenet (R$ 125,90), que faz sucesso com a sua garrafa diferenciada, com o vidro cravejado. A garrafa também é utilizada em um espumante Asti, que o grupo elabora.
GARRAFAS ESPECIAIS.
As garrafas, aliás, são um dos diferenciais que explicam o crescimento do grupo neste segmento. O novo espumante francês tem a garrafa com desenho inspirado na alta-costura francesa, daquelas que encantam o olhar.
“Buscamos uma bebida fresca, fugindo da complexidade”, afirma a enóloga Gloria Collell. É elaborado pelo método charmat, com a segunda fermentação, aquela que dá origem às borbulhas, em grandes tanques. É o mesmo método utilizado na Itália para elaborar os proseccos.
Champanhe e crémant são elaborados pelo método tradicional, com a segunda fermentação nas garrafas, assim como os cavas.
E O BRASIL?
“Em nossas pesquisas, identificamos o desejo do consumidor de crescer na linha de espumantes, dos mais simples aos mais sofisticados”, explica Gloria. E fica a pergunta: o grupo vai elaborar espumantes também no Brasil? No passado, antes de ser comprada pela Henkell, a Freixenet chegou a ter um espumante brasileiro em parceria com a Miolo. Mas o projeto foi descontinuado. À esta pergunta, Gloria apenas sorri.
Entrevista com a enóloga Gloria Collell, responsável pelas inovações dos espumantes, inclusive as garrafas, da Freixenet
Por que a Henkell Freixenet decidiu elaborar champanhe?
Chegamos em Champanhe para consolidar a nossa liderança. Champanhe é uma referência importante na indústria do vinho, a mais importante no mundo dos espumantes. Se conseguimos oferecer ao mercado um cava, um champanhe e um espumante, as pessoas não precisam procurar uma outra empresa quando quer diversificar o seu consumo. O champanhe também foi um sonho dos fundadores da Freixenet.
Quais os ensinamentos que o champanhe traz para uma vinícola focada em cava?
São muitos ensinamentos técnicos. Aprendemos a trabalhar com variedades diferentes, também com a utilização de barricas de carvalho, que os cavas não utilizam em seu vinho base (como é chamado o vinho que passará pela segunda fermentação, dando origem às borbulhas). Do lado comercial, também aprendemos a trabalhar com um setor de preços mais altos. Nossos champanhes estão disponíveis apenas no Reino Unido e no Brasil. Queremos ir crescendo pouco a pouco.
Por que a escolha por estes países?
Os dois países, Brasil e Reino Unido, crescem consistentemente no consumo de espumantes. E queremos ajudar o consumidor neste momento de pequenas celebrações. Em nossas pesquisas, identificamos o desejo do consumidor de crescer na linha dos espumantes, dos mais simples aos mais sofisticados, e a França é a referência. Ao mesmo tempo que tem o desejo de sofisticação, os consumidores também procuram vinhos menos complexos.
Por isso os espumantes do sul da França?
Para os consumidores que querem vinhos menos complexos, temos o Brut Royale. A beleza da garrafa chama atenção e são espumantes mais frescos, ligeiros, fugindo da complexidade. Nossos lançamentos são baseados em pesquisas de mercado, e o consumidor vai se apaixonar pela garrafa.
Como nasceu a ideia das garrafas diferenciadas, que chegou ao mercado em 2016, com o prosecco?
Nossa ideia é elevar a experiência do consumidor, que ele não apenas desfrute o vinho, mas que tenha uma embalagem bonita. Quando lançamos, com o prosecco, foi disruptiva. No futuro, devemos fazer mais garrafas e produtos com propostas semelhantes, focando sempre na experiência do consumidor. O prosecco foi uma revolução na Itália, ainda mais elaborado por uma empresa espanhola.
Como é a inspiração para os lançamentos?
Estamos sempre observando e tentando entender o consumidor. Na época, o prosecco estava crescendo muito no mundo. Percebemos que o consumidor buscava algo a mais e decidimos investir em uma embalagem premium, com um produto de qualidade.
Com tantos espumantes de estilos e origens diversos, o consumidor não pode se confundir?
Acreditamos que o consumidor identifica a marca Freixenet como uma marca de celebração, de borbulhas. Estamos criando uma conexão com o consumidor, uma lealdade. Se confiam na marca, vão provar os produtos. E estamos sempre focados em inovação, ligados também à life style.
Quais são as origens dos espumantes do Henkell Freixenet?
Eu gostaria de ter espumantes em todo o mundo (risos). Atualmente, um a cada dez espumantes abertos no mundo são nossos.
E o Brasil?
O Brasil vive um momento importante. Não estamos fechados para nenhum projeto que ajude o nosso consumidor a desfrutar, a ter mais momentos de celebração.
A diversificação também ajuda com os problemas de queda de produção, enfrentados pelos cavas?
Nas últimas safras, principalmente na de 2022 e na de 2023, tivemos problemas de granizo, pelas mudanças climáticas. Na safra de 2023, a redução foi de 40%. E na safra de 2024, tivemos muita água, ou seja, será um ano difícil. Esperamos que este ciclo se encerre logo e estamos trabalhando com todos os viticultores da região para adotar novas práticas de viticultura, deixar mais ervas nos vinhedos, como forma de melhorar a retenção de água; de procurar vinhedos em áreas mais altas.