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Suzana Barelli

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Le Vin Filosofia

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Uma experiência com barricas brasileiras no vinho

Vinícola gaúcha Arte Viva elabora vinhos com sete madeiras brasileiras, além do tradicional carvalho

As fotos das salas de barricas, das pequenas, de 225 litros, às enormes, de 10 mil ou 20 mil litros chamadas de foudre, formam um dos cenários mais bonitos das vinícolas. Mas o carvalho, a madeira utilizada nestes recipientes, não conquistou seu lugar de destaque nas vinícolas com o objetivo de tornar suas caves mais “instagramáveis”, para utilizar um termo tão em moda atualmente.

CARACTERÍSTICAS DO CARVALHO

Características como a maleabilidade de sua madeira e a sua boa vedação, evitando o vazamento do vinho durante seu amadurecimento, foram importantes para o carvalho ir conquistando seu espaço nas caves subterrâneas das vinícolas. Soma-se a isso a sua porosidade, que permite uma pequena troca de oxigênio com o ambiente externo, e as notas aromáticas e gustativas que ele passa ao vinho, para o carvalho consolidar o seu espaço nas vinícolas.

Atualmente, os produtores escolhem o tipo de carvalho pela característica que querem passar para o vinho, da clássica francesa (como especiarias e tostados mais elegantes), à americana (coco, baunilha) e muitas do leste europeu. Outros compram pela sua tostagem, da leve a mais forte, que ajuda a moldar o estilo do vinho que cada enólogo quer elaborar.

AMBURANA, BALSAMO E OUTRAS

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Mas são poucos produtores que ousam elaborar suas barricas com outas madeiras. Um deles é o enólogo Giovanni Ferrari, da vinícola gaúcha Arte Viva. Ferrari tem barricas montadas com sete diferentes madeiras brasileiras: amburana, bálsamo, cabreúva, castanheira do Pará, grápia, acácia e jequitibá. “Quero elaborar vinhos com brasilidade, e a madeira é uma importante ferramenta enológica para isso”, explica o enólogo.

"Quando quer um vinho com mais especiarias, ele o coloca em barricas de bálsamo ou cabreúva" Foto: FELIPE RAU

Quando quer um vinho com mais especiarias, ele o coloca em barricas de bálsamo ou cabreúva, por exemplo. A amburana é a que passa mais aromas para o vinho, com toques mais herbáceos, para ficar em dois exemplos das madeiras. “As madeiras brasileiras permitem dar amplitude aromática ao vinho”, defende ele. Um dos exemplos é o Camila, um malbec, que passa em barril de castanheira e também por carvalho francês, americano e esloveno, vendido por R$ 180, no vinicolaartevida.com.br.

OS PROBLEMAS DA MADEIRA

Nesta pesquisa com as madeiras, Ferrari diz que o vazamento é o principal problema das madeiras brasileiras. A castalheira, por exemplo, vem se destacando nas preferencias do enólogo, mas é a que dá mais problemas de vazamento. Recentemente, ele precisou esvaziar três barricas já com vinho, porque a bebida escapava entre o corpo e o tampo da barrica. “Mas quando enchemos a barrica com água, ela não vaza. Ou seja, ainda há muito para aprender com as nossas madeiras”, acrescenta o enólogo.

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As barricas são elaboradas por Eugênio Mesacaza, que tem uma tonelaria em Monte Belo do Sul (RS). Ele apontou para Ferrari outras características das madeiras brasileiras. Ao contrário do carvalho, o cerne das madeiras brasileiras é pequeno, o que significa que um volume menor pode ser utilizado para fazer as tiras das barricas. É preciso uma quantidade maior de árvores por barricas.

Ferrari não gosta de utilizar em seus vinhos apenas a madeira brasileira. “Acho que o vinho fica mais gostoso de beber com a mescla de madeiras”, conta ele. E, assim, o carvalho, francês, americano ou esloveno entra em vários dos seus vinhos.

SEU PRÓPRIO BLEND

Este exercício do enólogo, de entender as influências da madeira, pode ser reproduzida pelos visitantes. Em horários agendados, é possível fazer seu próprio vinho com a mescla de quatro barricas: o carvalho, a amburana, o balsamo e a cabreúva.

Em uma divertida brincadeira, primeiro degusta-se cada um dos vinhos que amadurecem nas quatro barricas – aqui, vale menos a variedade e mais a caracteríca das madeiras. Depois, com a ajuda de medidores e pipetas, cada um define o seu blend, que é engarrafado e rotulado. A experiencia, que precisa ser agendada e acontece no espaço de visitantes, no Caminho de Pedra, custa R$ 300.

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