Tudo começou com o Dry January, algo como janeiro seco, movimento que propõe ficar os 31 dias deste mês sem ingerir bebidas alcoólicas. Lançado em 2013, a adesão à ideia da inglesa Emily Robinson, que cortou o álcool do cardápio para se preparar para correr uma meia maratona, cresce a cada edição.
No primeiro ano, cerca de 4 mil pessoas aderiram à proposta. Em 2023, o número chegou a mais de 175 mil pessoas, principalmente nos Estados Unidos e na Inglaterra. Atualmente há até um aplicativo, o Try Dry, para ajudar as pessoas a vencerem o desafio de um mês sem o consumo de bebidas alcoólicas. Em 2025 não deve ser diferente, até porque o movimento encontra eco na tendência, também crescente, de consumir bebidas com baixo teor alcoólico e, aqui, não apenas em janeiro, mas em todos os meses do ano.
Vinho ou suco
No caso do vinho, isso significa desde brancos, tintos e, principalmente, espumantes elaborados sem álcool ou com baixo teor alcoólico. Nas bebidas rotuladas como Zero Álcool só vale prestar atenção no contrarrotulo porque muitas vezes elas nem são vinho, mas suco de uva gaseificado. Um exemplo é o espumante brasileiro Aurora 0,0% Rosé, a base de suco de uva branco integral e tinto integral.
Aqui, só uma ressalva, se a ideia é cortar o álcool em nome de um estilo de vida mais saudável, estas bebidas são tão ricas em açucares como os refrigerantes, como destaca o consultor Rodrigo Lanari, da Winext. Ou seja, são vinhos sem álcool que abusam das calorias, o que não combina com aqueles que estão cortando o álcool por estarem de olho também na balança. Mas funcionam bem quando o objetivo é ser, por exemplo, o motorista da vez ou garantir que se está completamente sóbrio, no caso de um almoço de negócios.
Desalcoolização
Mas é a tendência, principalmente das novas gerações, como a Z e a Millennial, que explica as razões de a indústria investir um bom volume de dinheiro para elaborar bebidas com menos álcool. No caso do vinho há, primeiro, a dificuldade do processo de elaboração. Um exemplo é o grupo Henkell Freixenet, que investe fortemente neste segmento. Aqui a desalcoolização é realizada por meio de uma técnica de fervura a vácuo, que faz com que o vinho evapore a uma temperatura inferior a 30ºC.
Paralelamente há o esforço das vinícolas em reduzirem o teor alcoólico de seus brancos e tintos sem precisar utilizar processos mais tecnológicos da desalcoolização. Colher as uvas mais cedo, sem deixá-las maturar completamente nas vinhas, é um exemplo. E isso, efetivamente, reduz o teor alcoólico sem modificar os aromas e sabores do vinho.
Outro exemplo é a aposta em vinhedos localizados em regiões mais frias, o que dificulta a maturação da fruta, que é colhida com uma porcentagem mais baixa de açúcar. Vale lembrar que a fermentação é a responsável por transformar o açúcar da uva em álcool e liberar o gás carbônico e quanto menor a porcentagem de açúcar na fruta, menos será o teor alcoólico.
Estilo de vida
Dados da consultoria inglesa IWSR indicam um crescimento de 6% ao ano até 2027 na elaboração de bebidas com menor teor alcoólico e até mesmo sem álcool. Essa tendência, escreve o relatório da consultoria, é impulsionada principalmente por escolhas de saúde e estilo de vida, com os consumidores optando por beber menos álcool em geral ou escolhendo moderar sua frequência e intensidade de consumo de álcool.
A IWSR chama atenção, ainda, para as evidências de que as gerações mais velhas também estão reduzindo o consumo de álcool, seja pela redução na sua renda, seja pelas mesmas questões de saúde.
Por fim, o interesse por estes vinhos com menos álcool se completa com a criação do termo “sober shaming”, que traduz o constrangimento porque passam aqueles que optaram por parar de beber ou reduzir a quantidade de álcool que consomem.