Os Vinhos Verdes, aqueles elaborados na região mais ao Norte de Portugal, podem ser uma das boas pedidas para os dias de carnaval. Leve, fresco, às vezes frisante e meio adocicado, e mais ou menos aromático conforme o estilo do produtor, eles combinam como poucos com a folia, agora doméstica, sem aglomerar.
Mas trago os Vinhos Verdes aqui não apenas pela festa. Faz tempo que esses vinhos brancos – sim, brancos, porque a palavra verde vem da sua região, mais arborizada, e não pela coloração da bebida – surpreendem pelo ganho de qualidade. Recentemente, em uma live com Dirceu Vianna Júnior, o primeiro e ainda único Master of Wine brasileiro, ele chamava atenção para as sub-regiões, afirmando que, muito em breve não vamos mais nos referir aos Vinhos Verdes ou ao Minho, como a região também é chamada, mas os vinhos de Melgaço, de Lima, de Baião, que são algumas das nove sub-regiões locais.
Essa constatação faz parte do trabalho de muitos enólogos de conhecerem melhor a pequena zona onde cultivam as suas uvas. Na denominação de origem Vinhos Verdes são autorizadas o plantio de variedades como alvarinho, avesso, loureiro, arinto, trajadura, azal e também as tintas vinhão e alvarelhão. Mas nem todas se adaptam em todos os terrenos, que têm climas e solos diferentes.
Um dos pioneiros em descobrir sua sub-região é o enólogo Anselmo Mendes. Com vinhedos ao norte de Vinhos Verdes, em Monção e Melgaço, ele investiu na uva alvarinho (ou albariño para quem cruza a fronteira com a Espanha, bem ao ladinho). Lá, o clima é mais quente e com menos chuva quando comparado com as demais sub-regiões. Mendes começou colocando o nome da variedade no rótulo, depois testando novas formas de vinificar. O resultado é que atualmente ele tem um portfolio (aqui no Brasil representado pela Decanter) bem amplo de vinhos com a uva, do alvarinho clássico, elaborado em tanques de inox, àqueles que fermentam junto com as suas cascas (o que lhe traz mais corpo e complexidade) e os que amadurecem em barricas de madeira.
Outros produtores seguiram por esse caminho, inclusive na sua sub-região, como os Deu la Deu (R$ 189, na Barrinhas), em Moução, e os da Quinta do Soalheiro, em Melgaço, representado pela Mistral. Outra característica dos alvarinhos é a sua capacidade de envelhecimento e de ganhar complexidade na garrafa. Degustações com safras antigas desses vinhos vem mostrando que a alvarinho não é, apenas, uma uva para vinhos simples, do dia-a-dia.
Na live, por exemplo, Vianna Júnior apresentou o Arêgos Grande Escolha 2018 (R$ 159, na 4U.Wine), que é elaborado pelo enólogo Fernando Moura, na sub-região de Baião. De solo granítico e forte influência marítima, é onde a uva avesso tem mostrado os melhores resultados. Lá, os vinhos tendem a ter alta acidez, o que se traduz em maior frescor, e menor teor alcoólico. Outro bom exemplo é o Covela Avesso, também na região de Baião, e que tem um brasileiro, o empresário Marcelo Lima, como sócio. O vinho é comercializado pela Winebrands por R$ 116.
Em Lima, outra sub-região que vem se destacando, reina a variedade loureiro. Um dos destaques é a Quinta do Ameal, adquirida poucos anos atrás pela gigante Herdade do Esporão. A vinícola se especializou em cultivar apenas a loureiro e sua gama de vinhos tira partido da versatilidade da uva. A linha Escolha traz sempre um loureiro com maior tempo em garrafa (atualmente está no mercado o da safra 2014), indicando que o vinho pode ganhar complexidade com o tempo de guarda. Com a crise econômica, a vinícola decidiu ter também um vinho mais simples, com uvas não apenas da sua propriedade. É o Bico Amarelo, vendido por R$ 73, na americanas.com.
Nesta diversificação, há também espumantes, rosés, os dois em geral leves e frutados. E também os tintos, no passado bem rústicos e que ficavam restritos ao consumo local. Para eles, a uva mais utilizada é a vinhão (o ão final dá a pista da sua potência e rusticidade). Mas há enólogos que sabem tirar bom partido da variedade. Daqueles que chegam ao Brasl, o melhor exemplo é o Vasco Croft, com o seu Aphros Vinhão DOC (R$ 194,75, importado pela WineLovers).