Quando eu era criança, o único exemplo de comida portuguesa que eu conhecia era bacalhau (que de ano em ano aparecia à mesa de todos os almoços de Páscoa, desde que nasci). Depois que criei a paixão que tenho por comida, vi que a culinária portuguesa vai muito, mas muito mesmo, além disso.
E imagino ser justamente isso que Vítor Sobral e Edrey Momo tentam mostrar - com maestria - na Tasca da Esquina em São Paulo, de 13 anos para cá. Tudo começou com uma dose de ousadia (ou coragem): Vítor decidiu mostrar ao Brasil que a cozinha portuguesa vai muito além do tradicional e, ao seu lado, Edrey aceitou o desafio e embarcou em uma jornada de estudos e dedicação. Juntos, eles construíram um restaurante que em todas as vezes que vou me fazem ir e voltar de Portugal em algumas garfadas.
Desde o primeiro ano, o menu da Tasca da Esquina já exibia o profundo conhecimento de Vítor sobre as receitas tradicionais de Portugal, sempre com um toque criativo e sustentável. Aliás, sustentabilidade é uma palavra de ordem na Tasca da Esquina, onde o cuidado com a escolha de ingredientes e a valorização dos produtos naturais são levados a sério. O desafio por lá é aproveitar ao máximo o potencial dos alimentos, respeitando suas sazonalidades e, claro, sem abrir mão de sabor (e que sabor!).
E justamente o fato de a cozinha portuguesa não se resumir no bacalhau parece ser a premissa do restaurante, que desde sua abertura fez questão de levar a autenticidade da culinária portuguesa ao gosto do brasileiro. E o ambiente da Tasca reflete isso.
Com isso, uma relação que começou lá atrás, com caravelas e descobertas, hoje se traduz em algo muito mais saboroso (por sorte, na cidade onde moro)! De uma colônia de madeira, açúcar e ouro, o Brasil tem a sorte de receber um restaurante tão bom que permite um encontro à mesa, brindando com um bom vinho português (a carta é exclusivamente portuguesa) e saboreando uma cozinha que é a mistura perfeita das nossas culturas.
Em realidade, a Tasca da Esquina promoveu uma virada de o jogo e permitiu que, desde então, nós que descubramos Portugal a cada ida ao restaurante, mas de um jeito bem mais gostoso. Lá comi delícias como língua bovina laminada, bochecha de porco, sardinhas panadas, mexilhões e um inesquecível stinco suíno (por óbvio também tem bacalhau e é ótimo).
Aliás, agora a Tasca da Esquina está em um novo endereço, na Rua Joaquim Antunes, 197, no Jardim Paulistano, pronta para escrever um novo capítulo dessa história cheia de sabor. E para marcar essa nova fase, no último mês a Tasca recebeu um evento com 13 chefs renomados, que invadiram a cozinha e criaram delícias em miniporções.
Por isso que digo: para quem gosta de pedir vários pratos de uma vez e ir petiscando enquanto conversa (afinal, quem resiste a isso?), a Tasca é um dos portos seguros de São Paulo. É só embarcar nessa viagem gastronômica entre o passado e o presente de Portugal e Brasil e, entre uma garfada (ou golada) e outra, perceber que no fundo essa conexão entre os dois países é uma troca deliciosa, onde quem ganha somos todos nós.
Se em razão do passado há quem reclame que os portugueses chegaram aqui de surpresa, hoje temos de agradecer por poder celebrar essa história compartilhada com muito sabor e alegria. E, quer saber? Por lá parece que Vitor e Edrey nem ligam mais para aquele negócio de 1822. Afinal, a Tasca da Esquina torna o comensal dependente de ótima comida portuguesa que lá é servida.
Serviço:
Tasca da Esquina: Rua Joaquim Antunes, 197, Jardim Paulistano, 11 3262-0033 / 3141-1149, www.tascadaesquina.com.br