Estive em Fortaleza recentemente e aproveitei para conhecer o Mercado São Sebastião, parte importante do roteiro gastronômico da cidade. Estão ali os principais ingredientes usados nos pratos locais. Entre produtos regionais, como a paçoca de carne e as castanhas de caju, um bloco preto, embalado em plástico, repousava onipresente e sem alarde nas prateleiras mais afastadas das bancas. Era um prensado de tamarindo, exatamente igual àqueles que compramos em lojas de produtos orientais, vindos da Tailândia ou de outro país asiático. O produto cearense é muito maior e mais barato, diga-se. É usado especialmente para refrescos, fiquei sabendo, embora eles não sejam tão abundantes pela cidade.
A origem da planta Tamarindus indica e a característica de sua vagem comestível, densa e doce, estão embutidas no nome: tâmara da Índia. É nativa do oeste da Índia, da África tropical e do sudeste da Ásia. No entanto, se deu tão bem por aqui que chamou a atenção de Pero de Magalhães Gandavo em 1618, nos seus Diálogos das Grandezas do Brasil, que destacou também suas propriedades medicinais. No início do século 19, foi citada como fruta consumida em Manaus para fazer um tipo de limonada.
De fato, não é uma fruta para comer ao natural, como tâmara; tampouco é apenas ácida – afinal, seu alto teor de açúcar a torna mais palatável que um limão. Mas os ácidos tartárico, cítrico, málico e acético são marcantes e respondem pelo gosto azedo e sabor peculiar, fazendo dela um ótimo tempero. Aliás, não tivéssemos a sorte de ter a árvore tão adaptada a nossas terras certamente o tamarindo seria daqueles sabores exóticos cobiçadíssimos, como fava de baunilha ou açafrão.
Na vagem. Não é uma fruta para se comer ao natural. FOTO: Felipe Rau/Estadão
Da Bahia, já comi curiosas passas feitas com a vagem inteira, sem casca, empanada em açúcar e seca ao sol. Do Centro-Oeste já provei geleias. E, por aí, muitos sorvetes. Mas pouco vejo em pratos salgados, como nos locais de origem, onde é apreciado como um aromático acidulante, com a vantagem de conferir também alguma doçura. Caris, molhos para salada e tantos outros pratos são feitos com tamarindo.
Para não irmos tão além-mar, temos exemplos de uso amplo na América. No México, o tamarindo não está só nas gelatinas, refrescos e sorvetes, mas também nos molhos, guisados de frango e nas famosas bolinhas com açúcar, sal e pimenta, uma verdadeira tentação. Quem já provou sabe que a primeira sensação é de estranheza: tão ácida, doce e apimentada. E ainda um pouco salgada. Depois da primeira bolinha, os excessos parecem ganhar equilíbrio e o resultado é um quase vício. Faça a receita e me diga se não tenho razão – lembrando que não é uma bala para criança e o excesso pode ter efeito laxante e ser danoso para os dentes, por causa da acidez.
Saiba mais:+ Como conservar e preparar tamarindo