Depois dos rodízios, os sushis a R$ 0,99 dos aplicativos de delivery devem ter sido os maiores detratores da cozinha fria japonesa. Só no primeiro semestre deste ano, essa culinária contabilizou mais de 23 milhões de pedidos via iFood no país, a maior parte aos finais de semana.
Posto isso, com uma pandemia nas costas, muito sushiman de respeito passou a se esforçar para entregar em casa algo que se aproximasse da experiência em um bom balcão. Não vendem peças por R$ 1, mas garantem uma refeição mais em conta do que no restaurante.
“Fora o valor do deslocamento e do serviço, muitas vezes o cliente quer beber aquele vinho ou saquê especial da reserva pessoal no conforto de casa e hoje com a qualidade do nosso delivery, ele pode” reforça Ricardo Merjan, sócio e fundador do Imakay.
A casa que já figurou no Michelin tem combos de sushi e sashimi a partir de R$ 99 (com 14 peças) e porções de ussuzukuri (o carpaccio nipônico) de salmão ao molho ponzu e azeite trufado por R$ 58.
“Sushis de ingredientes como unagui e foie gras, que precisam estar quentes no momento do consumo, são problemáticos. Outro grande desafio para um bom sushi na entrega é a temperatura do shari, que deve ser consumido morno”, explica o chef do restaurante, Luigi Pauletto.
Apesar de ter como diferencial o arroz al dente e temperado com precisão, ele se frustra com a perda do calor no trajeto, mas segue orgulhoso da viagem via Rappi dos peixes que ele cura no restaurante, como o atum.
“Sashimis e sushis mais simples e tradicionais são os que menos sofrem com qualidade. Faço com o mesmo capricho para uma mesa no restaurante ou para a casa do cliente, mas infelizmente tenho que compactar mais as peças das embalagens para que durante o percurso não fique tudo bagunçado”, pondera Denis Watanabe, do Watanabe, que também faz entregas via Rappi.
O capricho não tem seu preço compactado: o combinado com 4 fatias de salmão, 2 de atum, 2 de peixe branco, 1 niguiri de atum e outro de peixe branco, 2 jyos de salmão e 4 uramakis sai por R$ 163. No entanto, vale dizer que cada item guarda intacta a sensação de frescor.
Fábio Shinagava, sushi master do Grupo Nakka, além de três restaurantes, cuida de quatro marcas de delivery (NKK Sushi, Sushi K, NKK Poke e NKK Fresh, todas elas no deliverydireto.com.br). A primeira delas surgiu da demanda dos seus clientes dos Nakkas do Itaim e dos Jardins.
Nesse aspecto, os itens que mais saem são os mesmos, caso do carpaccio de salmão trufado (R$ 40) e do combinado do chef (R$ 156), que inclui sashimi de salmão maçaricado com raspas de limão, sushis de polvo, lula e vieira trufados e um jo de atum com lichia.
“Na maioria dos dias, não temos tempo disponível para um passeio, como ir a um restaurante. É aí que entra o delivery”, argumenta Fábio. Gabriel Abrão, proprietário do Attivo Group, possui três restaurantes japoneses (Aima, Kitchin e Su) acrescenta um ponto: “o delivery possibilita atingir mais pessoas”.
Não à toa, o empresário criou para o Aima uma plataforma própria (aimadelivery.com.br). Talvez pelo controle de todo o processo, a marca ouse mais e entregue duplas de robalo com uni e shisô (R$ 48), de alga wakame (R$ 31) e de wagyu com foie gras (R$ 68) – e, sim, elas chegam direitinho.
No entanto, brilha especialmente o tirashi (a partir de R$ 126). Antes que alguém diga que o preparo está mais para poke do que para sushi, não custa explicar que tirashi ou chirashi é um estilo tradicional de sushi, comumente servido em festas no Japão. Festivo e colorido, o prato consiste em arroz de sushi coberto por uma variedade de peixes, frutos do mar e até vegetais.