Quando for a Madri, ponha o Mercado de Vallehermoso no roteiro. É um mercado público, construído em 1930, reformado, e, desde 2017, administrado pela iniciativa privada. A fachada vermelha e a irreverência dos grafites coloridos não dão pistas de que o centro de compras do bairro de Chamberí já foi ponto de abastecimento de aristocratas que viviam no seu entorno nos séculos 19 e início do século 20. É preciso subir uma escada discreta e abrir a porta de ferro para chegar ao piso principal.
A primeira surpresa é que mais do que bancas de frutas e vegetais que chegam direto do produtor (os tomates são espetaculares, das mais variadas cores e formatos), peixes, queijos, embutidos e algunas cositas más, o que se vê são corredores repletos de mesas, balcões, banquetas e bancadas ocupados por um público que come na maior animação. Os pequenos restaurantes, com menos de 20 lugares, são a grande atração local. O cardápio é variado: arroces, tortilla, lámen, sushi, comida coreana, chinesa, hambúrguer, um ao lado do outro, tornam o ambiente discretamente animado. Bem diferente do Mercado de San Miguel, na região central de Madri, frequentado basicamente por turistas, quem vai ao Vallehermoso são os madrilenhos. Não é lugar de turista. Cheguei ali com os membros da Academia Madrileña de Gastronomia, Rogelio Enriques, Elena Vaello e Javier Férnandez Piera. Eles prepararam um roteiro surpreendente para mostrar “que bien se come en Madrid”.
Depois de uma parada na banca de drinques e coquetéis, fomos direto ao concorrido Tripea, que ostenta na parede a cobiçada placa de indicação do Guia Michelin. A reserva havia sido feita dois meses antes – o site do restaurante abre o calendário no primeiro dia do mês. São apenas 20 lugares, em uma mesa comunitária. O almoço começa às 14h30 e o jantar às 21h30 (madrileños almoçam e jantam tarde!). É um menu-degustação com oito etapas, apresentado em combinações surpreendentes e a mistura de sotaques asiáticos e peruanos. Uma delícia. Preço-fixo de 60 euros.
A seleção atual inclui alcachofra confitada e frita com cebola roxa e molho bernaise de huacatay (uma planta andina); ceviche quente de mexilhões grelhados na wok e servidos com leche de tigre de aji amarillo; dumplings; ceviche; guisado com cenoura escabechada e especiarias; e o meu favorito, um memorável bao recheado com carne salteada na wok e creme de pimenta rocoto: vem com ovo de codorna frito por cima, com a gema mole que escorre quando se corta…Na sobremesa, arroz cremoso de leite de coco com crispy de arroz. Não por acaso, a fila de espera é de dois meses, em média.
Mercado de Vallehermoso. Calle de Vallehermoso, 36, Chamberí, Madrid, Espanha, www.tripea.es