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Prato-cabeça

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Ventos a favor do mel de abelha sem ferrão

Uma das tarefas do momento é criar uma cultura de uso que reflita a diversidade e unicidade de cada mel

Após duas décadas de derrotas, ouso apostar que o vento sopra a favor do mel de nossas 240 abelhas indígenas (Meliponas), e de muitas áreas naturais e comunidades, o que turbina a contribuição desse extraordinário e versátil ingrediente para o uso sustentável do capital natural. Não me limito a indícios, apresento provas.

A primeira vem do mundo das normativas. De março para cá, tivemos novo Regulamento de Inspeção de Produtos Animais (Rispoa) – que continuava o mesmo desde 1953 – e o reconhecimento das especificidades do produto da meliponicultura na agroindústria de pequeno porte (junto com a apicultura, que trata da abelha exótica). Assim hoje sabemos o que é uma casa do mel, um entreposto, uma unidade móvel de extração. Por sinal, teremos de apelidar o produto de “mel de abelha sem ferrão”. 

Nativo. O mel é ingrediente para o uso sustentável do capital natural Foto: Hélvio Romero|Estadão

Seguiram imediatamente decretos estaduais pioneiros em três estados importantes: Amazonas, Bahia e Paraná, que aliás acaba de comemorar seu primeiro SIF para o mel. Melhor ainda, temos agora trabalho publicado por Embrapa e Instituto de Tecnologia do Alimento (ITAL) que define um modelo ideal de regulamentação para os demais estados. Eles podem se valer de um insumo tecnicamente avançado para caracterizar os diferentes processos aplicáveis ao produto: maturação, refrigeração, desidratação ou pasteurização.

Mas há novidades além das regras. Os estudos de ITAL e Universidade Estadual de Londrina demonstraram que as muitas transformações possíveis na evolução natural do produto não apresentam riscos para a saúde do consumidor. No máximo, podem decepcioná-lo em aspectos de qualidade, o que obviamente também não queremos que aconteça: e por isso tais pesquisas precisam continuar.

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A terceira evidência é para quem só acredita no que come. Este ano começam a aparecer produtores – no Espírito Santo, Pará, Amapá e Paraná – capazes de oferecer algo na faixa dos 500 kg por safra. Por modesto que isso possa parecer, é um produto de alto valor. Bom lembrar que esse mel não concorre com aquele convencional, de Apis. Outro dia uma cozinheira veio reclamar quando constatou ser inviável fazer pão de mel com mel de Melipona. Expliquei que era como se ela usasse caviar para fazer omelete.

O quadro se completa ao descobrirmos que as abelhas indígenas acabam de se tornar cobiça de uma turminha – principalmente urbana – que se relaciona com ela como um pet (de fato, elas são uma gracinha), um fetiche de colecionismo da diversidade ou para fins de autoprodução. O que era um grupo de poucos iniciados, nas redes sociais, já passa de 17 mil adeptos.

Parece-me que a tendência é irreversível, mesmo que leve tempo. Uma das tarefas do momento é criar uma cultura de uso – do lado da demanda – que reflita a diversidade e unicidade de cada mel. Por isso vou revelar-lhes um molho polivalente (que eu batizei de mel-pra-toda-obra) e que recentemente não falta na minha geladeira: uma emulsão aveludada com 30% de mel de uruçu, 50% de tucupi preto reduzido, 20% de manteiga e uma ponta de pimenta. Sim, uma unanimidade mesmo.

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