A possibilidade de que uma ou duas taças de vinho poderiam fazer bem à saúde permeou por muitos anos e continua a ser citada como uma verdade universal, inclusive por médicos e especialistas.
Foi na década de 1990 que se popularizou a ideia de que o vinho tinto pudesse beneficiar o coração. Num estudo de 1997 que acompanhou 490.000 adultos nos Estados Unidos durante nove anos, os investigadores descobriram que aqueles que relataram ter consumido pelo menos uma bebida alcoólica por dia tinham 30 a 40 por cento menos probabilidade de morrer de doença cardiovascular do que aqueles que não beberam. No ano 2000, centenas de outros estudos chegaram a conclusões semelhantes.
No entanto, com o passar dos anos, investigadores têm apontado problemas com este tipo de estudo e questionado se o álcool era realmente o responsável pelos benefícios que observaram.
Ao The New York Times, Tim Stockwell, epidemiologista do Instituto Canadiano para a Investigação do Uso de Substâncias, disse que os cientistas passaram a desconfiar de que as pessoas consumidoras de álcool que participaram dos experimentos provavelmente fossem mais saudáveis porque eram mais ricas e fisicamente ativas, além de ter seguro de saúde e comer mais vegetais.
Kaye Middleton Fillmore, pesquisadora da Universidade da Califórnia, em São Francisco, foi uma das pesquisadoras que pediu uma revisão das pesquisas. Em 2001, Fillmore convenceu Stockwell e outros cientistas a ajudá-la a examinar os estudos anteriores e, no final das contas, a equipe observou que os benefícios registrados anteriormente sobre o consumo moderado de álcool haviam desaparecido.
Desde então, muitos outros estudos, incluindo um que o Dr. Stockwell e colegas publicaram em 2023, confirmaram a teoria de que o álcool não é uma bebida saudável. Ao contrário de saudável, na verdade, pois pesquisas atuais mostram que álcool não só não trazia nenhum benefício cardiovascular, como também poderia aumentar o risco de problemas cardíacos.
Essa nova percepção é diferente daquela que os pacientes podem ter ouvido de seus médicos durante anos. Mas o consenso mudou e nenhuma quantidade de álcool é segura, conforme afirma a OMS (Organização Mundial da Saúde) e outras agências de saúde.