O Instituto Adus, que atua desde 2010 na integração de refugiados, lançou recentement um livro de receitas com a proposta de integrar ainda mais pessoas que saíram de seus países e chegaram até São Paulo.
Para complementar o projeto chamado ‘Sabores e Lembranças’, o instituto chamou Bela Gil, Helena Rizzo, Bel Coelho e Ieda de Matos para cozinhar junto e aprender sobre a história de Gema Soto, Evodie Mwepu, Mohamad Alghuorani e Sorab Kohkan.
Gema Soto e Bela Gil
Gema Soto é a primeira que vamos apresentar. Nascida na Venezuela e mãe de três filhos, a mulher passou a vir ao Brasil em 2017 para vender seu artesanato. Depois de um tempo, se instalou de vez no país. O livro nos conta um pouco mais sobre como ela foi parar na gastronomia: “O salto na carreira foi inesperado. Gema conquistou uma vaga de ajudante de cozinha em uma creche e, um mês depois de ter iniciado o trabalho, o cozinheiro foi embora e coube a ela assumir a função”
Bela Gil “defende que todas as pessoas devem ter acesso à comida e a produtos sustentáveis”, por isso, ninguém melhor para escolher alguém para contribuir nesta história. “‘Torço muito para que mais mulheres ocupem lugares de liderança nas cozinhas profissionais. Eu nem sempre soube cozinhar, e compartilho a minha trajetória de aprendizado para que mais meninas e mulheres se inspirem e saibam que podemos e devemos ocupar cozinhas profissionais recebendo o devido reconhecimento por isso’”, diz em entrevista à obra.
Confira a receita de buñuelos de yuca de Gema Soto.
Evodie Mwepu e Helena Rizzo
Para Evodie Mwepu, a culinária chegou como uma obrigação doméstica e forma de sobrevivência, até o momento em que foi chamada para um evento promovido por uma ONG. Já em 2017, seu olhar para a gastronomia começou a mudar. “O prêmio incluía um curso de culinária, e o marido logo incentivou que ela participasse. Ela escolheu o pondu para preparar nesta competição, uma das mais icônicas receitas congolesas, que é passada por gerações”, relata o livro, que detalha que depois disso, ela passou a investir sua carreira no ramo e vê-la como seu projeto de vida.
Para participar desta experiência, o Instituto Adus chamou a chef Helena Rizzo que admira a mistura de culturas. “A troca e a riqueza cultural são enriquecedoras, não apenas na cozinha. No Maní, já recebemos trabalhadores refugiados de várias nacionalidades, entre eles venezuelanos e haitianos. Todo movimento público ou civil é extremamente importante no acolhimento a refugiados, necessário”, afirma à ‘Sabores e Lembranças’.
Veja a receita de bacalhau com banana-da-terra da Evodie Mwepu
Mohamad Alghuorani e Ieda de Matos
Mohamad Alghuorani, por sua vez, escolheu se aprofundar na gastronomia desde cedo. Aos 13 anos, foi ajudante de cozinha e, mais tarde, aos 22, abriu seu próprio restaurante no centro de Damasco, na Síria. Em 2012, ele foi obrigado a deixar seu país e veio parar no Brasil 2 anos depois. Aqui, ele trabalhou em vários locais, desde feiras, até em um restaurante de doces sírios em Osasco como sócio. A pandemia chegou e, com ela, mais um desafio: divulgar seu trabalho no prédio onde morava, já que seus negócios foram prejudicados e a fábrica fechada.
A chef Ieda de Matos, quem acompanhou Alghuorani por esta jornada do livro, também veio de outro local e se simpatiza com a jornada do rapaz. “Ter a oportunidade de acreditar que é possível, a chance de viver uma vida normal e ter sonhos que possam se tornar reais. Precisamos de oportunidade, e digo isso porque sou uma migrante nordestina. Se para nós brasileiros é difícil, imagine como deve ser para uma pessoa refugiada”, fala em entrevista ao livro.
Confira a receita de Sheikh de coalhada do chef Mohamad Alghuorani
Sorab Kohkan e Bel Coelho
Sorab Kohkan busca sempre colocar os ingredientes de sua terra natal, o Afeganistão, em suas criações. A atitude reflete a saudade e o orgulho que sente do local que deixou no ano de 2012, época em que veio para o Brasil com sua esposa. Seus filhos, porém, só vieram em 2021, pois foi “quando Kohkan conseguiu voltar para resgatá-los do regime fundamentalista afegão”. Na nação brasileira, a família ganhou novos rumos, o que antes era concentrado em casa, saiu e foi para Koh-i-Baba, o primeiro restaurante afegão do Brasil.
Bel Coelho, que foi a dupla do chef para compor a obra, ressalta a importância de organizações como o Instituto Adus: “O refúgio é uma questão humanitária que merece muita atenção. Criar novos espaços para acolher refugiados e imigrantes é fundamental em qualquer sociedade que pretende ser democrática e humanista”.