O Notiê está diferente. E antes mesmo de folhear o cardápio, até o mais desatento dos clientes se dá conta disso. Culpa da decoração do restaurante, que foi totalmente repaginada - bote reparo no teto, que ganhou um painel belíssimo, composto por telas de acervo e exclusivas da artista plástica indígena Duhigó, com direção de arte de Patricia Sobral, arquiteta do Espaço, e da trilha sonora, que agora remete a outro canto do Brasil. Abraçado por esse novo ambiente, com o menu em mãos, novos vocábulos como tacacá, bacuri, jambu e arubé saltam aos olhos. Afinal de contas, o que aconteceu com o Notiê?
Depois do sucesso da temporada dos Sertões, que marcou a estreia da casa, agora entra em cartaz a edição que celebra a cultura amazônica. O novo menu, como já é praxe, nasceu de uma expedição imersiva à Amazônia - que percorreu os estados do Amazonas, Rondônia e Pará. De lá, o chef Onildo Rocha trouxe na bagagem ingredientes da região, novos modos de preparo e um tanto da sabedoria dos povos indígenas tukano e sataré mawé.
Para criar os mais de 40 pratos que compõem os menus de cinco e de dez etapas que estão em cartaz, além das pedidas à la carte, Onildo contou com a regência de duas mulheres que sabem muito sobre a culinária local: as chefs Clarinda Ramos, da Casa de Comida Indígena Biatüwi, e Débora Shornik, do restaurante Caxiri, ambos em Manaus. “A Amazônia nasceu mulher e são as mulheres amazônidas que transmitem as memórias, a cultura e as tradições culinárias”, afirma Onildo.
Boa parte dos pratos destaca a mandioca em suas diferentes versões. “A mandioca é um dos ingredientes-chave da Amazônia”, atesta o chef. Ela aparece, por exemplo, no recheio cremoso da croqueta com queijo Marajó, no consommé de tucupi (caldo da mandioca brava) que embebeda o canelone de pato e no arubé, uma espécie de creme, que incrementa a casquinha de caranguejo e pupunha.
Entre os outros pratos, destaque para o guioza de camarão amazônico com ponzu de galinha e tempurá de jambu, e para o peixe com açaí, esse clássico amazônico, que nas mãos de Onildo ganhou um toque, digamos, mexicano: o açaí virou um “mole” potente e picante por conta das especiarias, que dá bossa ao peixe do dia (que vem da Amazônia, claro). Salada de ervas-aromáticas e vitória-régia complementam o prato.
Repare que Onildo mescla ingredientes e costumes amazônicos com receitas e técnicas de outros lugares. “Pode-se dizer que essa mistura é um marco da minha cozinha”, afirma o chef.
Para adoçar, o sorbet de coco é servido com sagu cozido no taperebá, infusão de umbu e curry amazônico, que nada mais é do que uma mistura de 20 ingredientes, entre eles os liofilizados da Horta da Terra - pó de jambu, vinagreira, cariru, ora-pro-nóbis e taioba -, além de flores e especiarias. “Apesar dos ingredientes amazônicos, essa receita tem inspiração tailandesa, pois combina uma fruta amarela com coco, capim santo e coentro”, conta o confeiteiro Pedro Nóbrega, que cuida da praça de sobremesas.
Abaru
No horário do almoço, também é possível ter uma amostra do menu amazônico criado pelo chef Onildo Rocha. No menu à la carte do restaurante Abaru, pedidas como o ceviche de peixe curado com leche de tigre de tucupi e cajá, flor e folha de jambu, pimentas, coentro e óleo de açaí; o bao de caranguejo com maionese de tucupi, vinagrete de couve e picles de vitória-régia, e a barriga de porco com tucupi preto, tutu de feijão manteiguinha, vinagrete de pimenta-biquinho, picles de mostarda e folhas, aparecem sinalizadas como novidades da nova temporada.
Para beber, além dos drinques de D’Agostino - o Janhambu, com cachaça , cachaça de Jambu, limão, vermute seco e clara de ovo. -, destaque para a cerveja Samaúma, um brown ale com puxuri, inspirada no terroir amazônico e produzida pela Cervejaria Avós exclusivamente para a temporada amazônica.
Serviço
Notiê
Onde: Espaço Priceless - R. Formosa, 157, Centro (rooftop do Shopping Light, acesso pelo estacionamento)Funcionamento: 19h às 23h (de quinta a sábado)Reservas: www.booking-priceless.com.br