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Restaurantes e Bares

Brasil no ‘50 Best’: por que poucos restaurantes brasileiros figuram na lista dos melhores do mundo?

Em 22 edições da premiação, somente quatro brasileiros ingressaram no ranking que elege os melhores do mundo

Em um palco, grupo de pessoas usando uma echarpe vermelha, posam para fotos. Foto: The World's 50 Best Restaurants/ DivulgaçãoFoto: The World's 50 Best Restaurants/ Divulgação

Embora seja um feito e tanto para um restaurante marcar presença na seleta (e badalada!) lista do The World’s 50 Best Restaurants, ranking que reúne os 50 melhores restaurantes do mundo, a pergunta que sempre fica no ar: por que tão poucos brasileiros estão na lista de melhores do mundo? Em 22 edições do prêmio, criado em 2002 pela revista britânica Restaurant, somente quatro brasileiros figuraram entre os 50 melhores do mundo.

O restaurante que abriu caminho para o Brasil no ranking foi o D.O.M., comandado pelo chef Alex Atala na capital paulista. Ele ingressou no 50 Best em 2006, no 50° lugar, e avançou para a 38a posição em 2007. Nos anos seguintes, o restaurante subiu e desceu posições na lista, até que, em 2012, conquistou a sua melhor colocação: quarto lugar. Até hoje, nenhum brasileiro superou essa marca. O segundo a ingressar na lista foi o Maní, da chef e jurada do reality show Masterchef Brasil (exibido pela Band), Helena Rizzo. O restaurante paulistano estreou no 50 Best em 2013, em 46° lugar, e se manteve na lista pelos dois anos seguintes, ocupando a 36a e 41a colocação, respectivamente.

Helena Rizzo, chef do restaurante Maní 

Os atuais representantes brasileiros no 50 Best são A Casa do Porco, comandada pelo chef Jefferson Rueda na capital paulista, e o Oteque, no Rio de Janeiro. O restaurante especializado em carne suína fez a sua estreia no ranking em 39° lugar em 2019. E na edição de 2021 (a de 2020 foi cancelada por conta da pandemia), o restaurante chegou ao 17° lugar. E em 2022 alcançou a sua melhor colocação, em sétimo lugar.

No mesmo ano, o restaurante do chef Alberto Landgraf no Rio de Janeiro, fez a sua estreia no 47° lugar da lista. Mas em 2023, somente A Casa do Porco figurou entre os 50 melhores do mundo, ao ocupar a 12a posição. Em 2024, ambos seguem no ranking: A Casa do Porco, em 27°, e o Oteque, em 37° lugar. Embora poucos restaurantes brasileiros façam parte da lista dos 50 melhores do mundo, existe uma espécie de “segunda divisão” da lista, que enumera os restaurantes dos números 51 ao 100. O Lasai, do chef Rafa Costa e Silva no Rio de Janeiro, ocupa a 58a posição da lista neste ano.

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Ambiente d'A Casa do Porco, eleito o 27° melhor restaurante do mundo Foto: Wether Santana/Estadão

Brasil (quase) fora do mapa

Existem alguns motivos que fazem com que o Brasil tenha menor representatividade na lista de melhores do mundo. Nenhum deles, no entanto, envolve falta de mérito dos restaurantes e dos chefs daqui. “A gastronomia brasileira está em um ótimo momento. Nós temos grandes profissionais e produtos muito bons. A concorrência é enorme, mas nós poderíamos ter uma maior representatividade na lista”, acredita Rosa Moraes, presidente do comitê brasileiro do 50 Best. Há três anos, ela é responsável por selecionar os 40 jurados brasileiros que compõem a lista de 1080 espalhados pelo mundo todo.

Embora o grupo seja anônimo, algumas características da lista de votantes, divulgadas pela organização do prêmio, ajudam a explicar a presença tímida do Brasil no 50 Best. O júri é formado por chefs, donos de restaurantes, jornalistas e escritores de gastronomia, além de viajantes frequentes, em busca dos melhores restaurantes de cada destino que visitam. E, nem sempre, o Brasil está na rota desses votantes. “Na Europa, é possível pegar um avião, almoçar em um restaurante e voltar para casa no mesmo dia. Por ser distante, exigir mais tempo e maior planejamento, o Brasil acaba ficando de fora do roteiro da maior parte dos votantes”, diz o chef Alberto Landgraf, do Oteque, no Rio de Janeiro.

Sardinha, foie gras e brioche: um dos pratos que podem surgir no menu degustação do Oteque, comandado pelo chef Alberto Landgraf Foto: Rodrigo Azevedo

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Outro motivo envolve a falta de apoio governamental para divulgar os restaurantes brasileiros. “Não existe uma política nesse sentido. Infelizmente, o poder público não enxerga o restaurante como economia criativa”, opina Janaína Torres, sócia d’A Casa do Porco, que conquistou o prêmio de melhor chef mulher na edição deste ano do The World’s 50 Best Restaurants. Diferentemente de países como Peru e a Espanha, que, constantemente, levam grupos de profissionais da gastronomia para conhecer os seus respectivos países e restaurantes, o Brasil não investe nesse tipo de iniciativa. “Falta incentivo, tanto para trazer jornalistas para percorrer o País quanto para levar chefs brasileiros para o exterior. Mas percebo que, aos poucos, isso está mudando”, acredita Rosa.

Desde 2013, são realizadas edições regionais do 50 Best, como a da América Latina. Atualmente, a lista - liderada pelo peruano Maido - reúne oito brasileiros entre os 50 melhores restaurantes latino-americanos. No ano passado, pela primeira vez, a premiação foi realizada no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, e a edição deste ano, prevista para novembro, também será realizada na cidade, o que deve atrair muitos votantes do prêmio. “Normalmente, nós recebemos cerca de 30 clientes por dia e abrimos somente no jantar. Na semana do evento, no ano passado, nós servimos mais de 100 pessoas por dia e tivemos que abrir no almoço, para dar conta do movimento”, lembra o chef do Oteque.

Janaína Torres: conquistou o prêmio de chef mulher no 50 Best deste ano  Foto: FELIPE RAU

Por enquanto, cabe aos restaurantes e chefs brasileiros algumas iniciativas individuais, com os seus próprios recursos financeiros. Desde a sua abertura, em 2015, A Casa do Porco realiza um evento chamado Porco Mundi, com o qual, todos os anos, traz chefs internacionais para cozinhar no restaurante. “Quando vêm, eles ficam encantados com a nossa comida e, principalmente, com a nossa cultura”, diz Janaína, que tem viajado o mundo para realizar diversos eventos gastronômicos.

Assim como ela, Landgraf também viajou o mundo realizando jantares na China, na Malásia, em Cingapura e em diversos países da Europa e dos Estados Unidos. “Não tem como saber quais são os critérios dos votantes, mas esse networking pode ter contribuído”, afirma o chef do Oteque. No entanto, ele garante que não são prêmios como esse que o movem na carreira. “Sou muito grato pelo reconhecimento, mas não trabalho por esse objetivo. Pode ser que ano que vem eu nem esteja na lista, mas isso não significa que a qualidade do restaurante caiu. Quero seguir evoluindo”, diz o chef do Oteque.

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