Como o próprio termo sugere, 'hitmaker' é aquele profissional que é um criador de hits, daqueles que tem uma batida contagiante, que gruda nos ouvidos (no bom sentido) e tomam conta das paradas de sucesso. O que isso tem a ver com a chef e apresentadora Carole Crema? Com uma certa dose de licença poética, essa é a melhor forma de definir a trajetória da chef, que, em 2022, celebra 20 anos da confeitaria que leva o seu nome na capital paulista. Ao longo dos anos, ela trouxe para o mainstream diversas sobremesas afetivas, que se tornaram hits da confeitaria nacional. É o caso do brigadeiro de colher, do bolo de coco e do cupcake.
Mas a confeitaria nem sempre esteve nos planos de Carole. Ela, que estudou gastronomia em Londres e em Milão, iniciou a sua carreira como professora universitária e, até então, o seu foco estava mais na cozinha salgada. Com a virada do milênio, Carole acabou migrando para os doces. Foi uma decisão mais estratégica do que qualquer outra coisa. “Naquela época, o que mais tinha era restaurante de chef. Eu seria apenas mais uma”, lembra ela. Carole, que sempre teve a antena ligada para as tendências de mercado, percebeu que havia espaço para uma confeitaria com nome e sobrenome na porta, já que a maioria dos endereços do gênero eram grandes redes.
Embora já tivesse certa intimidade com o trabalho com o chocolate, Carole teve que se desdobrar para desenvolver o seu lado confeiteira - e não foi nada fácil. Na época, como não existia essa fartura de receitas e de técnicas disponíveis na internet, ela passava as tardes nas bibliotecas das universidades em que lecionava para buscar referências nos livros. Vez ou outra, também se oferecia para ajudar no restaurante ou na confeitaria de amigos para aprender algumas técnicas.
Carole tentava juntar tudo isso em sua cozinha, na base da tentativa e erro. Uma das primeiras receitas que ela acertou em cheio foi a da torta de maçã invertida, que criou a partir de uma conversa com o seu irmão, que havia provado uma versão da sobremesa durante uma viagem ao sul do Brasil. Nessa receita, Carole alterna finas lâminas da fruta, que são entremeadas por uma mistura de manteiga, açúcar e canela, sob base de massa folhada (R$ 19,90, a fatia), que retornou para a vitrine especialmente para a comemoração dos 20 anos da confeitaria.
Doces confortáveis. Porém, nem tudo foi acertos na sua cozinha. Na fase de testes, ela não conseguia, de jeito nenhum, chegar ao ponto correto para enrolar o brigadeiro. “Um dia, eu fui em um restaurante em Campos do Jordão (SP) e vi um aquário gigantesco, cheio de doce mineiro, do qual as pessoas pegavam o doce e o serviam em potinhos. Aí pensei: se eu fizer o mesmo com o brigadeiro?”, conta Carole. Assim surgiu um de seus maiores hits, o brigadeiro de colher.
Carole não gosta de ser chamada de “a” criadora do brigadeiro de colher, já que ela mesmo diz que o doce faz parte do receituário de sobremesas nacionais. Mas foi ela que o trouxe para os holofotes e ajudou a criar todo um mercado em torno das sobremesas de colher - os entusiastas de bolo de pote podem agradecer à ela. “Quando comecei a fazer, eu vendia o brigadeiro de colher em um saquinho de plástico porque não tinha embalagem no mercado. É um orgulho ver que isso se transformou em tantas outras coisas”, lembra ela, que também lançou moda quando fez o primeiro ovo de Páscoa de colher, em 2004.Outra receita que entra nessa linha é o bolo de coco gelado, um clássico das festas infantis que virou mais um fenômeno da confeitaria da Carole. “Ninguém mais faz nada disso em casa. Um dia, eu coloquei na vitrine para ver o que ia acontecer e foi um sucesso. Até hoje, é o campeão de vendas”, conta ela. Embora Carole defina suas sobremesas como confortáveis, ela não gosta quando chamam os seus doces de açucarados. “Acho pejorativo. Eu faço doces do jeito que o brasileiro gosta”, define ela. Inspirada pelo brigadeiro (de novo ele) e pelo doce de leite, Carole ressignificou o cupcake para os brasileiros - mais um hit para a conta. Até então, o bolinho ao estilo norte-americano nunca tinha feito muito sucesso por aqui. “Eu acho que o gosto do brasileiro para os doces tem mais a ver com o americano, que é mais guloso e mais extravagante. Mas o brasileiro não gosta de creme de manteiga. Por isso, eu adaptei a receita para o gosto do brasileiro”, explica Carole.
Alma de artista Mas muito antes de ser cozinheira, Carole sonhava em ser artista. “Quando era criança, eu fazia comercial de pasta de dente para mim mesma na frente do espelho”, lembra ela. Embora tenha feito alguns cursos e peças de teatro, Carole logo se deu conta que a carreira artística não daria pé. Por muito tempo, se contentou com o palco proporcionado pelas salas de aula - até hoje ela leciona na Escola Wilma Kövesi de Cozinha.
A pouco mais de duas décadas, ela começou a fazer algumas participações em programas de tv como chef. E, por conta de sua desenvoltura diante das câmeras, sempre ouviu muitos elogios dos produtores. Até que, um dia, Carole recebeu um e-mail de uma produtora argentina, que estava realizando testes para um novo canal pago, o Bem Simples, que ficou no ar de 2011 a 2014.
Depois, surgiu a oportunidade de participar do reality show Que Seja Doce (GNT), na companhia dos chefs Lucas Corazza, Roberto Strongoli e Felipe Bronze - o programa teve a nona temporada confirmada recentemente. Em agosto, também será possível ver Carole no Iron Chef Brasil (Netflix), a versão nacional do reality show japonês em que chefs realizam uma série de batalhas culinárias entre si. “Foi o maior desafio da minha vida. Me arrepia só de lembrar”, conta ela.
E a carreira na tv tem rendido bons frutos para Carole, que sente o carinho do público a todo instante. Durante entrevista ao Estado, diversos fãs se aproximaram para pedir fotos com ela, que os atendia com muita simpatia e um sorriso no rosto - marca registrada de Carole. “Esse carinho que eu recebo é muito gratificante”, comenta ela.
Ultimamente, Carole tem trabalhado em um projeto de um programa de tv solo, um sonho antigo dela, e em suas redes sociais - ela acumula 422 mil seguidores no Instagram. Ela passou a produzir ainda mais conteúdo para as redes durante a pandemia. Com a agenda vazia de eventos e de outros compromissos, Carole fazia lives na cozinha de casa mesmo, enquanto preparava o almoço do dia a. Isso fez com que ela conquistasse ainda o público, além de alguns contratos com marcas, que mantém até hoje.
+ Aprenda a receita de bolo de coco da Carole Crema
Já na confeitaria, Carole segue firme e forte com uma loja nos Jardins, além de uma fábrica no Butantã, algumas dark kitchens espalhadas pela cidade e um e-commerce, pelo qual comercializa chocolates para o Brasil inteiro. Ela já iniciou os estudos para vender bolos e produtos perecíveis em algumas capitais. “A ideia é que o produto saia congelado da minha cozinha e chegue nesses pontos de venda”, promete ela. Nesse meio tempo, Carole também se dedica a pensar nos produtos de fim de ano de sua confeitaria. Sim, nem chegou agosto e Carole está em clima de Natal. “Eu amo criar e cada vez me sinto mais estimulada em pesquisar e ir atrás de novidades”, diz ela.
Duas décadas de confeitaria
Para celebrar os 20 anos da confeitaria que leva o seu nome, a chef Carole Crema traz de volta para a vitrine algumas das sobremesas que fizeram sucesso no cardápio. É o caso da torta de maçã, na qual camadas de finas lâminas da fruta são entremeadas por uma mistura de manteiga, açúcar e canela, sob base de massa folhada (R$ 19,90, a fatia) e da torta de marzipã com recheio de ganache de chocolate belga meio amargo (R$ 19,90, a fatia). Pedidas como o bolo de coco gelado (R$ xx, o pedaço) não saem de cena, assim como o brigadeiro de colher (R$ 8,90)
Onde: R. da Consolação, 3161, Jardins. 3088-7172. 11h/ 19h (dom. 12h/ 17h). Delivery pelo iFood e pelo e-commerce carolecrema.com.br.