A cidade histórica de Tiradentes, em Minas Gerais, já é um atrativo turístico por si só. São as ruas com pedras brutas, as casas antigas, as igrejas barrocas, o artesanato. Mas, nos últimos anos, a cidade, com seus pouco mais de 10 mil habitantes, foi além: se tornou um dos principais polos gastronômicos do Brasil, atraindo turistas e entusiastas da culinária de todas as partes do país e do mundo. É, assim, uma nova referência gastronômica do País.
Esse fenômeno de transformação econômica encontra suas raízes no Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes, que em 2024 alcançou a marca de 27 edições realizadas pelas ruas de Tiradentes, liderado pelo projeto Fartura, sob o comando de Rodrigo Ferraz. É mais um pilar em uma cidade que aposta em festivais e que conta com outros eventos, voltados também para o cinema e para o design. Mas o festival do Fartura achou essa vocação.
“A gastronomia vai muito além do prato. Ela é uma ferramenta poderosa de transformação econômica e social”, explica Ferraz, que enxerga no festival um motor de desenvolvimento para a cidade e a região. O impacto é muito perceptível: em 1999, quando o evento ainda dava seus primeiros passos, Tiradentes contava com apenas três restaurantes. Hoje, são dezenas de estabelecimentos que impulsionam a economia local, fazendo com que o setor de restaurantes, bares, pousadas e lojas represente metade do PIB do município.
Antes e depois do festival
Durante os dez dias do festival, concentrando mais eventos nos finais de semana, a cidade recebe cerca de 70 mil visitantes. Muda a configuração do espaço: mais bucólica e tranquila, Tiradentes passa a ficar lotada, com gente andando no meio da rua e tomando a cidade para si. Isso é notado em mais números: a ocupação da rede hoteleira alcança impressionantes 95%, e o ticket médio por pessoa gira em torno de R$ 1 mil, gerando uma movimentação financeira de aproximadamente R$ 70 milhões na economia local.
Essa injeção de capital beneficia não só restaurantes, mas também pousadas, o comércio e até serviços como táxis e charretes. “Hoje, temos desemprego quase zero na cidade”, afirma Ferraz, ressaltando a importância do festival para a vida econômica de Tiradentes.
Em uma década, o setor de serviços de Tiradentes, que em 2005 representava cerca de R$ 26 milhões, saltou para mais de R$ 80 milhões em 2015, consolidando a gastronomia como um dos principais motores da economia local. “O festival ajudou a cidade a desenvolver essa vocação, claro que não sozinho, mas foi um dos principais catalisadores”, reflete Ferraz sobre o impacto do evento ao longo dos anos e como a gastronomia cresceu ali.
O festival, um dos pioneiros no Brasil, sempre esteve à frente de tendências. “Em 1999, quando ninguém falava de festins ou jantares especiais, já estávamos realizando esses eventos”, lembra Rodrigo. Ao longo dos anos, o evento se reinventou e, em 2008, abriu suas portas para as ruas e praças, democratizando o acesso à alta gastronomia. Hoje, o festival não apenas destaca a culinária local, mas também promove a troca de experiências entre chefs renomados e o público, criando um ambiente aberto e acessível para todos.
Além disso, dá para dizer que o festival é uma porta de entrada para a gastronomia mineira: você come bem (e bastante!) em barraquinhas espalhadas pela cidade, que ajudam a dar um vislumbre do que tem não apenas em Tiradentes, mas também em cidades da região.
Para além
O sucesso do festival não se limita às fronteiras de Minas. O projeto Fartura, que organiza o evento, tem expandido sua atuação com festivais em outras cidades do estado, como Nova Lima e Conceição do Mato Dentro, e agora mira mercados internacionais, como Portugal.
“Estamos focados em promover a gastronomia mineira internacionalmente, de forma mais estruturada, com eventos como o projeto Minas em Portugal”, explica Ferraz. Para ele, levar a culinária mineira para o exterior é uma forma de fortalecer a identidade gastronômica do estado e gerar novas oportunidades de negócios -- trazendo mais turismo para todo o País.
Embora alguns especialistas acreditem que o mercado de festivais gastronômicos no Brasil tenha atingido um teto, Ferraz discorda. “A gastronomia não tem teto. É igual música, nunca se esgota. Festivais bem feitos, que oferecem conforto e qualidade, sempre terão seu espaço”, defende ele.