Se se candidatasse à prefeitura da Vila Buarque, Thiago Maeda ganhava. Pelo menos é o que dizem os frequentadores da Jesuíno Pascoal. A poucos passos do metrô Santa Cecília, a rua é um vilarejo gastronômico: tem cafeteria com cafés especiais, gelateria e cervejaria artesanal, galpão de acarajé, bar de vinho natural e hamburgueria.
Nas mãos do mencionado chef, até agora tinha o Koya88, um bar de inspiração asiática, e um autêntico boteco, o Bagaceira, fruto da recuperação bem-sucedida do Bar do Sena, que faliu na pandemia. Fosse pouco, ele veio com o Krøzta.
Pizzaria? Não deixa de ser, mas o número 39 da via cada dia mais gastronômica tem mais do que belas redondas. O restaurateur low-profile ofereceu sociedade ao bartender do Koya88, Thiago Pereira, que, em agradecimento, montou uma carta polivalente, capaz de atender tomadores de clássicos e moderninhos que buscam trends na mesma intensidade e com diferentes perfis de coquetéis.
Para paladares adocicados, por exemplo, seu Bellini leva pêssego em calda caseiro (R$ 35), já para o Espresso Martini (R$ 38), a vodca é infusionada com pão amanteigado. Para quem aprecia salinidade, o Mas que Laura (R$ 38) traz gim com azeitona e limão sicilianos, manjericão e furikake.
Contudo, os maiores destaques envolvem vermute. Na carta com mais de uma dezena deles, há inclusive o da casa, feito com merlot, vermute rosso e vermute dry, que dá personalidade ao Kroztoni (junto a gim infusionado com straciatella e Campari, R$ 45) e ao Caju Sbagliatto (com espumante de caju, R$ 39).
Para complementar os drinques provocativos, o Krøzta tem uma carta de vinhos de baixa intervenção: “O público de Santa Cecília gosta de vinho natural, de vinho ético, laranja e essas paradas, mas ainda não tinha encontrado rótulos que fizessem sentido no Baga ou no Koya”.
De fato, as taças enfrentam a audácia do menu do chef, que lista alface tostada com queijo maturado e farofa de pão (R$ 35), crudo de wagyu com cogumelo paris, pera e soja frita (R$ 48), aspargos com ovas de ouriço, ovo perfeito, creme de conchas e queijo tulha (R$ 85) e rosbife de lombo de porco com maionese tonatta e umê, a ameixinha japonesa (R$ 58).
Todas as deliciosidades postas, há pizzas. Incríveis, por sinal. Elas não se pretendem napolitanas, novaiorquinas, romanas e nem paulistanas. Tampouco as melhores da cidade. “Só queria que desse pra comer com a mão sem derrubar todo o recheio e que tivesse os melhores ingrediente sem custar uma fortuna, o que hoje parece que é pedir muito”, confessa Maeda.
A massa feita com poolish (pré-fermento natural) é assada em forno combinado, onde ganha bolhas propositalmente “queimadinhas” e crocância para se sustentar quando segurada pela borda.
Sem temer a inimizade de pizzaiolos, o cozinheiro a usa para dialogar com cobertura tradicionais. Nesse sentido, sua marinara (R$ 52) é temperada com XO artesanal, um molho apimentado de frutos do mar secos, no caso, vieiras e camarões, entre outros ingredientes que reforçam sua “umamice”.
A marguerita, por sua vez, recebe tomates fermentados com missô (R$ 49), ao passo que a pepperoni (R$ 52) leva queijo fior di latte, kimchi e mel silvestre. À parte as ousadas redondas, Maeda serve três pizzas fritas (mortadela com praliné de pistache, R$ 45; abobrinha com queijo de ovelha e vaca, R$ 42; sardinha com lardo, R$ 45).
Ou seja, o Krøzta até pizzaria é. Mas tem pratos de restaurante autoral, espírito de taberna e troca a pizza doce por pudim de gianduia (R$ 29). Ah, e até o dia 17 segue em fase de testes.
Krøzta
R. Jesuíno Pascoal, 39. Ter. a sáb., das 18h às 23h30; dom., das 13h às 19h