É difícil pensar num outro restaurante que reúna três profissionais tão talentosos e três cabeças tão complementares. Os irmãos Roca, para além do respeito e da hierarquia que sempre pareceu existir entre eles, tiveram a sorte da diferença: de idade, de habilidades, de pendores. Joan é o primogênito e o homem por trás dos pratos, Josep cuida do salão e dos vinhos, Jordi é o enfant terrible das sobremesas. Todos trabalham duro pelo El Celler de Can Roca.
Há quem aponte o caçula Jordi como o verdadeiro fora de série do clã, embora o jovem pâtissier cometa lá seus exageros. É provável que seja verdade – pois, quem fora Albert Adrià, consegue conceber doçuras com tanta complexidade técnica, tanta irreverência? Genialidades à parte, a soma de competências é o que vale, e é gigantesca. O topo da lista lhes cai bem.
Ir ao Can Roca é uma experiência estética completa. A arquitetura impressiona e, da disposição dos móveis à luz, tudo parece cenograficamente estudado. A carta de vinhos em três volumes quase assusta – não fosse a naturalidade dos sommeliers em tratar uma das melhores adegas do mundo com entusiasmo, não com afetação. O serviço é preciso, cortês, domina tempos e silêncios.
Na cozinha, se mantém a meio caminho entre as tradições catalãs e a vanguarda personificada pelo El Bulli. A construção de sabor se faz a partir do ingrediente de qualidade, sazonal e regional. Num panorama da modernidade, é um clássico.