Mesmo que você já tenha voltado a frequentar restaurantes, não vai conseguir lugar no balcão do Ryo, que acaba de receber a segunda estrela Michelin. E isso não tem nada a ver com o movimento estimulado pelo anúncio, na última sexta-feira (25), de que o restaurante de Edson Yamashita foi classificado com duas-estrelas na nova edição brasileira do mais célebre guia gastronômico do mundo, junto com o carioca Oteque, de Alberto Landgraf (além deles, apenas o D.O.M, de Alex Atala, tem a mesma classificação, a mais alta no País, que não tem nenhum três-estrelas estelas). Explica-se: o Ryo continua fechado ao público.
Com apenas um balcão de oito lugares, para cumprir as novas regras sanitárias da pandemia o restaurante de cozinha japonesa poderia receber apenas duas pessoas por noite... A segunda estrela bem que está provocando os donos da casa e pode até antecipar a reabertura, mas enquanto isso não acontece, a saída é pedir delivery.
Não vou dizer que a comida é exatamente igual à que você recebe no balcão: nada se compara a ter o Edson Yamashita, um dos sushimen mais talentosos do País à sua frente, preparando, um a um, os niguiris e pratos que você vai comer. Sem contar as adaptações necessárias à viagem - seus delicadíssimos sushis de estilo Edo, tradicionalmente pequenos e pincelados, chegam sem a pincelada de shoyu “o contato prolongado durante toda a viagem encharcaria o sushi”, explica Yamashita. Ainda assim, a comida é espetacular.
Edson Yamashita alia incrível habilidade técnica ao dom para combinar produtos, sabores, texturas. Incansável na busca à perfeição, conta que o que lhe veio à cabeça assim que recebeu a segunda estrela foi a vontade de buscar a terceira. Relaxar não está nos planos do primeiro brasileiro a se formar no Sushi Kan, a casa do mestre Sawamoto, em Tóquio, onde trabalhou por nove anos. De volta ao Brasil, assumiu o balcão do Shinzushi, no Paraíso, de sua família, e depois de sete anos, alçou voo próprio.
Budista, se apaixonou pela cozinha kaiseki, a alta gastronomia dos monges, se aprimorou nas técnicas de execução de sushis e se embrenhou pelo estudo das raízes da cozinha japonesa. Seus pratos têm delicadeza ímpar e mesmo servidos na caixinha fazem uma refeição memorável.
O delivery do Ryo tem quatro opções de pratos - eles são embalados para presente em caixinhas embrulhadas em papel de seda, com laço de fita preta. O chef prepara tudo sozinho.
O zeitaku don (R$ 290) é uma caixa para iniciados que traz arroz de sushi coberto por três iguarias: atum gordo batido com cebolinha, uni (ouriço do mar) e ikura (ovas de salmão). Um show de frescor. Unadju (R$ 250) vem com arroz branco coberto com unagui, a enguia de rio deliciosamente temperada com molho tarê, levemente adocicado, conserva de acelga, nabo e tamagoyaki, a omelete macia moldada em quadradinho feita com sakê adocicado.
Tokujo (R$ 150) é a caixa de sushis, nove unidades, que variam conforme os peixes mais frescos do dia. A caixa inclui o tamagoyaki (a omelete) e seis tekka-makis, os enrolados de atum. O shoyu feito na casa é enviado em frasco à parte e as fatias de gengibre, crocantes e deliciosamente temperadas, vêm enroladas em um cone de alga, como um microtemaki.
Por fim, o Bara Tirashi (R$ 180), meu favorito. O arroz é coberto numa linda montagem: peixes variados, polvo, camarão, vieira, cubinhos de tamagoyaki (a omelete), ikura, shiitake cozido no shoyu, rabanete, nabo e conserva de pepino. Um show de sabor, visual, texturas, um prato lúdico.
Pedir delivery de restaurante duas-estrelas é para ocasiões especiais. Ou melhor, transforma qualquer dia em uma ocasião especial.O delivery do Ryo é pelo IFood. E você pode encomendar e retirar no restaurante, no Itaim (R. Pedroso Alvarenga, 665).