O drinque para montar em casa veio em uma sacola separada, com os componentes muito bem embalados – garrafinha com líquido cor de laranja, garrafinha menor com líquido cor de laranja, pote com casca de mexerica e folhas de manjericão, pote com gelo quadrado. Segui as instruções de preparo, que estavam em um cartãozinho. Despejei o conteúdo em copo baixo com cubo de gelo, decorei com a casca de mexerica e o manjericão, mexi. Dei o primeiro gole enquanto tirava os pratos das embalagens. Que drinque mais esquisito! Meio salgado, oleoso, com gosto forte de vinagre.
Coquetéis autorais são grande atração no restaurante Tujuína e costumam valer a pedida, mas aquele estava mais para... molho de salada...Bingo! Imediatamente me dei conta: o líquido cor de laranja da garrafinha menor era o molho da salada. Meu Mexeriqueira, combinação de suco de mexerica, gim com infusão de curcuma, xarope de tamarindo e vermute Noilly Prat (R$32), teria sido salvo por uma etiqueta de identificação…
O delivery do restaurante Tujuína, começou na semana passada, batizado de Tujuína Pop. Estreou cinco meses depois da inauguração da casa, em plena pandemia. O chef Ivan Ralston percebeu que o que as pessoas queriam no momento era comida reconfortante e deu uma guinada radical. Fechou o Tuju, classificado com duas estrelas Michelin, e instalou em seu lugar o Tujuina, com cardápio sob medida para os tempos duros. Trocou a cozinha autoral, contemporânea e instigante de seus menus-degustação, por uma seleção de pratos simples. Promete reabrir o Tuju no futuro, mas por enquanto, está às voltas com picadinho, macarronada, estrogonofe e galinhada.
O delivery ainda está se acertando, com altos e baixos. Pedi duas vezes. Na primeira (quando temperei o drinque com molho da salada), houve um descompasso no sal. Faltou no estrogonofe (R$58), onde creme de leite e mostarda também não deixaram rastros (a receita original não leva o ingrediente, mas no cardápio do Tujuína ele é citado). O tamanho da carne não era o convencional, alguns pedaços precisaram ser cortados com faca. Em compensação, no mesmo sábado, sobrou sal no picadinho, que de resto estava impecável, saboroso, macio, acompanhado de uma deliciosa porção de feijão manteiguinha com paio,arroz basmati, um ovo frito e farofinha (R$46, preço promocional, como informa a página no Ifood).
Pedi de novo ontem os dois pratos para tirar a teima e, ufa, estavam bem melhores, exceto por pequenos deslizes. O estrogonofe dessa vez brilhou, saboroso, cremoso, com mostarda, creme de leite e cogumelos. O.K, a batata palha encharcou, mas não vamos ser implicantes. O picadinho manteve as qualidades da primeira vez, embora o ovo frito tenha chegado boiando no excesso de molho do prato, o que não aconteceu na primeira vez. A macarronada, entretanto, estava impecável: molho de tomate saboroso com almôndegas de carne de cordeiro e bovinas e massa de fitas grossas que souberam manter a dignidade na viagem (R$58). As embalagens são reutilizáveis,viva!
Ivan Ralston é um chef talentoso, criativo e perfeccionista. Soubecomandar uma equipe na conquista de duas estrelas no guia Michelin – na época, em 2018, apenas três restaurantes brasileiros alcançaram a classificação. E, é claro que ele e sua equipe sabem dosar o sal e equilibrar molhos. Mas não estão sabendo notar os sinais de Murphy rondando por ali...
Tujuína Pop, delivery pelo IFood. Retirada no local, Rua Fradique Coutinho, 1.248, Vila Madalena, tel. 2691-5548